18 Mar 2018
Alguém diz à mãe de um rapaz com perturbações mentais que o seu filho, quando morrer, não irá para o céu. Seria porque os tolos não distinguem uma coisa da outra, e seria um desperdício ocupar um lugar no paraíso com alguém assim.
A mãe, angustiada com a evolução do estado do seu rapaz, aflita sem saber em que acreditar, procura nas conversas com o padre e com os vizinhos uma resposta. Precisa de ter a certeza de que, por ser diferente, o seu menino não será discriminado e atirado para o lixo das almas como, certamente, deve acontecer com os animais.
Fazendo um retrato de uma religiosidade ainda perdurante no norte do país, A Morte dos Tolos passa-se em Guimarães, no centro de uma cidade tão identitária quanto antiga. Mostrando como o intrincado das ruas favorece uma vizinhança muito intrometida, feita de espias de porta a porta e conversas à janela.
O mote do drama desta mãe serve para a construção de uma comédia de costumes, assente em boatos e preconceitos, mostrando como o imaginário popular se constrói, misturando a realidade com a mais pura e delirante ficção.
A narrativa progride no sentido de responsabilizar o padre por uma garantia acerca dos mecanismos de salvação, obrigando-o a uma posição perentória, e impossível, acerca do assunto. Se é verdade que o rapaz deva merecer o céu por ser destituído, também é certo que a sua destituição o leva a fazer muitas porcarias e a cometer muitos pecados. Fica do lado da mãe, como defensora incondicional do seu filho, exigir que o céu tenha um bom juízo e se abra generosamente aos seus pedidos.