Lula da Silva
Ep. 10 31 Out 2016
Gonçalo M. Tavares fala-nos da nossa condição humana neste início do século XXI. Para o escritor, este século é dominado pela crença no signo, mas num signo que perdeu o seu referente material concreto.
Neste sentido, para Gonçalo M. Tavares, o progresso tornou-se essencialmente imaginário e profundamente associado à evolução tecnológica, e não necessariamente à evolução ética. O exemplo por excelência é o das sociedades contemporâneas baseadas na eficácia e no dinheiro, o qual deixou de se referir a um objeto material para se relacionar de forma meramente simbólica ou imaginária com um sistema financeiro.
Esse desprendimento em relação à realidade da matéria e a contínua aceleração provocada pela busca da eficácia técnica resultaram num mundo que se movimenta autonomamente com cada vez mais velocidade.
Gonçalo M. Tavares descreve a decadência da sociedade contemporânea como uma queda, na medida em que, tal como um corpo que cai não escolheu cair, também já não escolhemos a direção que seguimos enquanto sociedade. Resta-nos aceitar a queda e escolher o modo como queremos cair: destemperada ou elegantemente, com calma, como o senhor Calvino de um dos seus contos.