Com Abril de 74, começou um daqueles períodos em que a sociedade muda o cinema com maior rapidez e evidência do que o cinema muda a sociedade .
O cinema português, como arte do choque, do trauma teve a ocasião de mostrar como sabia bater-se com os traumas de uma sociedade portuguesa em confronto, logo após o dia 25 de Abril de 1974.
Nos anos que se seguiram à " revolução dos cravos" passou-se de uma tristeza triunfal da resistência à alegria breve, demasiado breve, da própria revolução.
Esses primeiros anos, caracterizam-se pelo renascer de algumas obras colectivas, documentários , reportagens, frequentemente em 16mm, para cinema ou televisão, por vezes com a colaboração da 5ª Divisão das Forças Armadas.
A partir de 1979, alguns súbitos sucessos de público , imbatíveis quase até aos dias de hoje, fazem acreditar naquele encontro com o espectador que o Cinema Novo desde sempre desejou , mas entrando agora em compromissos que antes se recusavam.
Também se legitima o chamado "cinema chato", nomeadamente através do acolhimento que os filmes de arte da chamada "escola portuguesa" vão continuamente tendo nos maiores festivais.
Muito pouco, afinal, ficou da grande agitação revolucionária: na superfície, sucedem-se grandes viragens; mas a níveis mais profundos, como são os do imaginário e das estruturas, mantêm-se muitas obsessões e impasses de antigamente, assim como muita da anterior criatividade.
Texto de Paulo Filipe Monteiro
Voz de Luis Miguel Cintra
Produção e Autoria de Pedro Efe
Realização de Jorge Paixão da Costa