Uma mulher muito elegante e bonita conduz pelas ruas de Luanda, mostrando a sua cidade que, tem vindo a vestir uma nova pele, com edifícios desmesurados a serem erguidos, uma ?pele? que às vezes a descaracteriza, ?perdendo traços e ficando mais moderna.? Ainda assim, o bairro da sua infância, o Cruzeiro, continua a ser um dos mais calmos, apesar de ter mais muros nas casas. Luzia estava no 6º ano quando deixou o liceu para entrar na guerra de libertação. Depois foi um rodopio de emoções. Os tantos anos de guerra que Angola viveu (e mesmo durante a guerra era preciso manter a dignidade humana), ensinaram-lhe que se deviam ter sentado a tempo de ?reconhecer erros de parte a parte?.
Vamos ouvi-la falar de Justiça, do sistema de direito herdado de Portugal, da constituição que vinha de 1992 e que em 2010 foi alterada, dos direitos das mulheres e dos desafios de governação.
Veremos também esta supermulher no seu lar de fim de semana, nos arredores de Luanda, com um neto ao colo e uma família que vai chegando para o almoço e ocupa dois sofás inteiros. Luzia acredita nas novas gerações e tem vocação para leccionar. Relembra os tempos em que as crianças se sentavam ?em latas de leite e punham os cadernos nos joelhos para escrever?. Sabe que ainda há muito a melhorar. A sua geração viveu na expectativa de um desenvolvimento que demora a acontecer, ?muitas das coisas pelas quais lutámos ainda não se cumpriram?, mas acredita na capacidade de resistência dos angolanos e num futuro melhor para a sua terra.