Grandes Livros

O LIVRO DE CESÁRIO VERDE

Episódio 1 de 11 Duração: 50 min

Pode um livro ser a vida de um homem? E pode um conjunto de poemas, compilado segundo critérios discutíveis, ser a maior herança de alguém cuja voz era mantida no silêncio? Cesário Verde não era um poeta vulgar, embora as vulgaridades formassem a sua poesia. Comerciante, burguês de alta roda da Lisboa de finais de século XIX, mantinha um olhar atento para o que era, na realidade, a vida mundana de uma cidade em plena revolução industrial. O feio, o simples, o banal encontrou na poesia de Cesário um lugar de destaque e, para sempre, uma referência singular na literatura portuguesa. Poemas como "O Sentimento dum Ocidental" ou "Cristalizações" são odes às gentes do povo (costureiras, calceteiros, crianças maltrapilhas ou velhas curiosas são apenas alguns dos seus retratos líricos), esteja ele minado pela tuberculose, pela sujidade ou pela mera pobreza. O mundo é um infinito de possibilidades de transfigurações... e Cesário concretizou-as em rígidas estruturas silábicas e em versos de métrica perfeita. O seu olhar cinematográfico é uma inspiração para qualquer geração de autores portugueses que o sucede e, seja pela temática, seja pela originalidade, pode-se afirmar que foi o nosso primeiro poeta urbano.