?Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer.?
Bernardo Soares
O «Livro do Desassossego» resulta da junção de textos avulsos encontrados no espólio de Fernando Pessoa. Bernardo Soares é o autor ? embora algumas edições atribuam a co-autoria do livro a Vicente Guedes, um outro ?eu? de Pessoa. A organização desses escritos, fragmentados em folhas soltas ? muitas delas incluindo as iniciais L. do D. ?, deu origem a edições distintas do «Livro do Desassossego», que variam consoante os critérios utilizados pelo editor. A primeira data de 1982 ? quase 50 anos após a morte de Pessoa. Alguns autores defendem a publicação ? ?ideal? ? do «Livro do Desassossego» em versão folhas soltas, sem encadernação, o que, segundo os mesmos, permitiria manter a ideia original de Pessoa, deixando a cargo do leitor o encadeamento da leitura.
O «Livro do Desassossego» assemelha-se a um diário, a um blogue. Baseia-se em anotações fruto das vivências, interrogações ou reflexões. Esta característica torna o livro singular, já que não tem uma narrativa definida, com princípio, meio e fim. Esse facto não diminui a obra de Pessoa, antes pelo contrário. Imprime-lhe, reconhecidamente, um fulgor, apenas ao alcance dos grandes mestres da escrita.