O Verão de 1936 ficaria marcado pelo eclodir da Guerra Civil Espanhola. Na Figueira da Foz, que era amplamente frequentada por turistas espanhóis, o impacto desse trágico momento foi profundo. A cidade, as praias e aqueles que todos os anos escolhiam a Figueira como destino de férias, a guerra apanhou todos desprevenidos e a adaptação a essa realidade não seria fácil, num país em que a ditadura salazarista grassava.
Jorge foi para a casa dos tios aproveitar o tempo livre de aulas e reencontrar os seus amigos de todos os verões, numa atmosfera separada da Lisboa que deixava para trás. Nos cafés da cidade explodem discussões entre franquistas e radicalistas espanhóis, o tio mantém dois clandestinos em casa e as amizades estão diferentes. Rodrigues, Ramos, Macedo e a bela Mercedes já não são os mesmos do ano anterior. Ou será Jorge que está a mudar? Entre a descoberta da sexualidade e a entrada na idade adulta, num território que sente próxima a guerra que decorre além fronteira, os episódios são-nos narrados pelo jovem lisboeta, na primeira pessoa, numa auto-descoberta por vezes cruel.
Esta obra é parte do grande projecto de ficção (Monte Cativo) que Jorge de Sena nunca chegou a acabar, e mesmo a sua publicação foi póstuma. As cenas descritas, as palavras usadas, as dúvidas presentes ainda hoje provocam reacções apaixonadas e, ao longo da leitura, surge sempre uma comparação entre o escritor e aquele (também) Jorge que, entre fogos acesos, se descobre poeta.