Publicada em 1846, a obra Viagens na Minha Terra continua a ser um texto de difícil definição. Exemplo magistral do talento de Almeida Garrett, este livro condensa vários estilos literários e um dos retratos mais realistas do Portugal do século XIX. Narrativa de viagens, manifesto político, crónica jornalística, romance, tudo cabe dentro nestas páginas.
A ?história? começa com a partida de Lisboa de um sujeito-narrador (identificado como Almeida Garrett) rumo a Santarém, para uns dias de descanso na casa de seu amigo Passos Manuel. A partir daqui, e com descrições esplendorosas de certas áreas de Lisboa que hoje já não se descobrem, o narrador segue o seu trajecto? de barco, de charrete e até às costas de um simpático burrico. Enquanto viaja, também a sua mente vagueia pelo passado, pelo presente e pelo futuro. São estas as outras ?Viagens? que o titulo aponta: um olhar sobre o Portugal de oitocentos, sobre a sociedade nacional, sobre a politica corrupta, sobre o desencanto final do liberalismo. Entre as observações surge um paradoxo inesquecível: os ?frades? e os ?barões?, quais Sancho Pança e Dom Quixote lusitanos, que, entre si, tomam as rédeas do país e incutem o progresso. Os ?frades? representam o conservadorismo, a tradição, os velhos e inquebráveis costumes. Os ?barões? são os acomodados, os antigos lutadores que, abdicando dos seus ideais, se entregam ao vício, ao diletantismo e a preguiça da demagogia. Um sem o outro não existem, um sem o outro não fazem o país caminhar.
Mas há muito mais nas páginas de ?Viagens na Minha Terra?.