Nove meses depois da sua entrada, Bocage abandona o Hospício e encontra trabalho na Oficina Tipográfica, Calcográfica, Tipoplástica e Literária do Arco do Cego. Entusiasmado pelo sucesso que o segundo volume de Rimas atinge, o impressor Simão Tadeu Ferreira apresenta à Real Mesa da Comissão Geral sobre o Exame e a Censura de livros pedido de licença para republicar o primeiro tomo do Rimas. A decisão de Bocage de subtrair algumas peças publicadas na edição anterior e substituí-las por outras mais recentes fazem o poeta entrar em polémica com o funcionário régio. Depois de um braço de ferro, a censura acaba por permitir que a obra seja enfim publicada.
Ao mesmo tempo, em França, o general Napoleão Bonaparte toma conta do poder em França, e começa a pressionar cada vez mais Carlos IV, rei de Espanha e sogro do príncipe D. João, com o objectivo de isolar e aniquilar Portugal, que insistia em manter-se fiel a Inglaterra.
Neste ambiente politicamente conturbado, Bocage parece ter definitivamente deixado para trás a sua vida dissoluta de tardes e noites perdidas em bebedeiras no Rossio. Enquanto as suas publicações anteriores à sua prisão, em 1797, circulam clandestinamente de mão em mão por todo o Reino, Bocage parece cada vez mais adaptado à situação de áulico do regime, até porque não tinha outra hipótese: o contrário significava voltar para os calabouços.
Lisboa, no final de 1801, vive um dos seus Invernos mais rigorosos. Bocage parece aos olhos do poder tão regenerado que o Intendente Pina Manique o convida a participar de uma festa no Teatro de São Carlos.