Bocage chega a Lisboa depois de alguns anos em Goa e Macau ao serviço da Marinha Real. Para trás ficou uma caixa cheia com alguma da sua melhor produção literária de sempre. Acontecimentos graves ainda por explicar em que se envolveu no Oriente, levam-no a desembarcar às escondidas e feito cúmplice involuntário de contrabando de livros proibidos.
O Intendente Pina Manique, que dirigia pessoalmente algumas das operações policiais de controlo alfandegário com o objectivo de estancar a entrada de ideias perigosas da França revolucionária no Reino, lança uma vasta rusga policial na noite do desembarque de Bocage que obriga o poeta a esconder-se no bas fond de Lisboa, acolhido na cama pela prostituta Nise e no meio literário por um velho amigo, o Padre Agostinho Macedo.
Pina Manique procura Pierre Marie Auguste Broussonet, do partido de Robespierre, e põe Lisboa em sobressalto a qualquer hora do dia ou noite. Não hesita sequer em entrar na casa da Marquesa d?Alorna, a quem faz ameaças veladas apesar desta invocar os nomes do Duque de Lafões e da Rainha. Mal sucedido nas pistas que segue nos salões da nobreza, Pina Manique vira-se para outro meio que conhece bem: o bas-fond, as ruas de pior fama de Lisboa.
É aí que se vai cruzar com Bocage, que se adaptou rapidamente à vida na capital, vivendo de pequenos estratagemas que lhe garantem as refeições e as primeiras necessidades. Bocage não era uma figura desconhecida: tinha deixado alguma fama como poeta antes da sua partida para a Índia e José Pedro das Luminárias, que de dia trabalha no Nicola e à noite no Botequim das Parras.