Nas nossas ruas, ao anoitecer, há tal soturnidade, há tal melancolia que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia despertam-me um desejo absurdo de sofrer".
Assim começa o poema "Sentimento de Um Ocidental" de Cesário Verde que Mário Viegas diz na íntegra neste programa da série "Palavras Vivas" dedicado exactamente à vida e à obra deste poeta.
Tendo como pano de fundo o Tejo e a maresia, Mário Viegas conta um pouco da vida desse "poeta comerciante" - já que vendia ferragens num estabelecimento da Baixa lisboeta - e fala também dos poetas que o citaram nas suas obras: Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner...
Pai de toda a poesia do século XX, como muito bem refere Mário Viegas, Cesário Verde foi, como é costume, ignorado em vida e acusado de tratar nos seus poemas de coisas pequenas e triviais: das peixeiras, dos guardas-nocturnos, do peixe podre, dos bicos de gás, dos gatos, dos telhados, das meretrizes...
Termina o programa com "O Sentimento de Um Ocidental", um dos mais belos poemas jamais escritos acerca da vida, do quotidiano e de Lisboa.