Luís Filipe Rocha a retomar o caso da morte de Sá Carneiro, entre as teses do acidente e do atentado, vinte anos depois.
A 4 de Dezembro de 1980 o Primeiro Ministro português, Francisco Sá Carneiro, o Ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, e um pequeno grupo de acompanhantes morrem num acidente de aviação. O pequeno avião em que seguiam rumo ao Porto para um comício eleitoral, despenhou-se em Camarate, pouco depois de descolar do Aeroporto de Lisboa. O inquérito policial declarou que se tratou de acidente devido a erro de pilotagem. Porém a tese do atentado foi ganhando consistência ao longo de vinte anos de sucessivos inquéritos parlamentares. Vinte anos depois, uma juíza volta a investigar o caso ¿Camarate¿.
Vinte anos depois do célebre, controverso e ainda misterioso caso da morte de Francisco Sá Carneiro, Luís Filipe Rocha retoma o tema numa hábil ficção política. A reabertura do processo e a sinuosa e atribulada investigação por parte de uma juíza, com uma vida pessoal não menos complicada, são o pretexto para Rocha reequacionar e reflectir sobre as teses do acidente e do atentado de um facto verídico que afectou, significativamente, a vida portuguesa nos finais do século XX. Com o seu estilo narrativo envolvente, hábil e discreto, de que filmes como ¿Cerromaior¿ ou ¿Sinais de Fogo¿ são exemplares, Rocha aborda com surpreendente contenção e notória frontalidade um caso incómodo, complexo e ainda, politicamente, delicado, numa mista atmosfera de thriller policial e evocação factual, que não deixa de registar uma tese pessoal e tenta evitar contribuir para a criação de uma nova e sebastianística lenda histórica.