Episódio n.º12022006

Episódio 12022006 de 0

Lilith Quinteto de Francisco Luís Parreira
Dois motivos musicais fornecem a estrutura simbólica desta peça. Um é a lição de canto difónico de um mestre mongol, que exemplifica as várias técnicas nativas enunciando o alfabeto. O outro é uma velha cançoneta de amor e disco riscado, de uma Edith Piaf em início de carreira.
Quatro vozes femininas e uma masculina traçam discursivamente a genealogia do segundo motivo no primeiro ; mais precisamente, fazem a paráfrase do processo pelo qual um estado atávico (e vogal) da linguagem se pode pôr ao serviço das riscadas ilusões de amor. Essa paráfrase articula-se ficcionalmente em torno de uma obscura figura da mitologia judaica : Lilith, a primeira mulher de Adão, que abandonou o paraíso e se tornou o epítome da prostituta. Mais não diz a mitologia. Mas as vozes tratam de compôr-se sob o signo dessa figura, indo buscar memórias, narrativas, instantâneos que, embora pessoais, potenciam o destino mítico que a figura não teve e, conversamente, deixam ouvir, alguma vez, o que nas nossas vidas é o resto do terrível silêncio da mitologia.
Com os actores:
Carla Galvão
Diogo Dória
Inês Rosado
Joana Brandão
Micaela Cardoso