A Noite Cairá

Quando as tropas aliadas libertaram os campos de concentração as suas câmaras de filmar, e a posterior edição das imagens feita por Hitchcock, garantiram que nunca mais esqueceríamos

A 27 de Janeiro de 1945, os soviéticos chegaram a Auschwitz, na Polónia, o maior dos campos de concentração e extermínio. A 15 de Abril de 1945, as tropas britânicas libertaram o campo de concentração de Bergen-Belsen. Durante os anos de 1944/45, ao percorrer a Europa numa série de ofensivas militares contra a Alemanha nazi, as tropas aliadas depararam-se com campos de concentração onde estavam detidas dezenas de milhares de pessoas sob todo o tipo de privações, malnutrição e doenças.
Uma equipa filma os sobreviventes e as pilhas de cadáveres, provas irrefutáveis dos crimes cometidos pelo regime Nazi. Nessa altura, o mundo defrontou-se com horrores indizíveis. Os sobreviventes ao brutal regime de trabalho escravo e falta de alimentos enfrentaram um longo e árduo caminho de recuperação e muitos deles não resistiram. Quando o produtor britânico Sidney Bernstein convidou o realizador Alfred Hitchcock para supervisionar a montagem das imagens recolhidas no terreno, fê-lo porque queria deixar algo para memória futura, para que a História recordasse o que os soldados norte-americanos, soviéticos e britânicos encontraram ao longo do caminho de libertação da Europa.
As filmagens, registadas por operadores de câmaras militares, foram usadas em julgamentos como prova dos crimes de guerra ou incluídas parcialmente em jornais noticiosos. Porém, com o fim da guerra, as forças de ocupação mudaram a sua política e, em vez de confrontar a Alemanha com a culpa, escolheram instalar a confiança para tornar possível a reconstrução do pós-Guerra. Neste contexto, o filme de Sidney Bernstein tornou-se politicamente inconveniente e foi arquivado. O documentário de André Singer segue as pisadas deste filme inacabado também conhecido como o "Hitchcock Perdido".