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Rafael Nadal. A lenda de Maiorca diz adeus aos courts

por Inês Geraldo e João Marques (grafismo) - RTP
Nadal não escondeu a emoção na hora da despedida Juan Medina - Reuters

Málaga foi testemunha do fim de uma era no ténis. Aos 38 anos, Rafael Nadal Parera disse adeus aos courts. Juntamente com a seleção espanhola, na Taça Davis, o maiorquino despediu-se de uma carreira cheia de sucessos e que o juntou a um trio de excelência, partilhando o talento com Federer e Djokovic.

"Tive a oportunidade de viver experiências inesquecíveis graças ao ténis. Só quero ser recordado como uma boa pessoa e como um miúdo que perseguiu os seus sonhos e atingiu mais do que alguma vez sonhou".

Emocionado. Foi assim que Rafael Nadal se despediu de uma carreira única. Rodeado de fãs espanhóis, Nadal agradeceu o apoio num adeus que já tinha sido anunciado. O “Rei da terra batida” terminou a carreira esta semana como um dos melhores tenistas e atletas de todos os tempos.

Ganhou praticamente tudo. Venceu 22 torneios Grand Slam e conquistou o chamado Grand Slam de carreira: Wimbledon, Open dos Estados Unidos, Open da Austrália, Roland Garros, Taça Davis e Jogos Olímpicos.

Nascido em Maiorca em 1986, Rafael Nadal cedo se dedicou ao ténis. É sobrinho de Miguel Ángel Nadal, antigo jogador do FC Barcelona, tendo crescido numa família de desportistas. Com pouca idade mostrou talento nos courts pela destreza e especialmente pela força física que lhe valeu a alcunha de “El Toro”.

Tornou-se profissional em 2001 e partilhou com Federer e Djokovic uma era de ouro do ténis. Ganhou a primeira partida de um torneio ATP ainda não tinha dezasseis anos e em 2003 conseguiu alcançar a primeira final de um torneio ATP.

A subida no ranking ATP foi meteórica e em 2004, três anos depois de se tornar profissional disputou pela primeira vez um dos duelos mais icónicos do ténis atual. Em Miami, Nadal defrontou pela primeira vez Roger Federer, na altura o número 1, e venceu a partida.

Ainda antes de chegar aos 20 anos, Rafael Nadal começou a vencer títulos em vários torneios do circuito ATP, conseguindo o primeiro Grand Slam aos 19 anos. Roland Garros, o torneio de preferência de Nadal, foi o primeiro a ser vencido pelo espanhol, depois de voltar a derrotar Roger Federer nas meias-finais, no dia em que completou 19 anos.
Grafismo: João Marques - RTP

Nessa altura, o maiorquino já estava no top 5 do ranking e mostrava a sua força na terra batida, onde tornar-se-ia a principal referência de sempre no ténis.

Nadal venceu todos os quatro grandes torneios da modalidade mas foi em Paris que realmente mostrou o seu ténis. Entre 2005 e 2022, Nadal venceu uns impressionantes 14 títulos, sendo o recordista deste torneio e por isso é apelidado de “Rei da terra batida”. O espanhol detém ainda o recorde do maior número de títulos conquistados num só torneio do Grand Slam.

Nadal é também o tenista que venceu grandes torneios em temporadas consecutivas. Entre os anos de 2005 e 2014, o espanhol venceu sempre pelo menos um Grand Slam. Depois de Roland Garros, Nadal chegou ao triunfo na relva de Londres, nos emblemáticos courts de Wimbledon. Aconteceu em 2008 e Roger Federer voltou a ser vítima na final.

Nadal venceu o suíço numa luta de cinco sets e tornou-se, depois de Bjorn Borg, o segundo tenista a conquistar Roland Garros e Wimblebon na mesma temporada.

O ano de 2008 seria ainda coroado com o título olímpico. Em Pequim, o tenista derrotou o chileno Fernando González e terminou o ano no primeiro lugar do ranking ATP, ultrapassando Roger Federer que era líder há pelo menos 237 semanas.

Em 2009, falhou o título em Roland Garros mas venceu pela primeira vez na Austrália, derrotando Federer e vencendo pela primeira vez o torneio australiano para Espanha.

A partir de 2010, Nadal venceu Roland Garros cinco vezes consecutivas (2010 até 2014) e garantiu o quarto Grand Slam da carreira que faltava: o Open dos Estados Unidos. Já depois de ter conquistado Wimbledon pela segunda vez, o espanhol chegou à partida decisiva em Nova Iorque.

No mítico court Arthur Ashe, Nadal derrotou Novak Djokovic por três sets a um numa partida que superou as três horas. E assim, Nadal conquistou pela primeira vez três torneios de Grand Slam num só ano.

Os Estados Unidos seriam testemunha de mais três títulos do tenista de Maiorca: depois de 2010, Nadal venceu em 2013, 2017 e 2019. Na Austrália, o segundo e último título aconteceu em 2022.

No entanto, seria em Roland Garros que Nadal continuaria a dominar. Não venceu em 2015 e 2016 e entre os anos de 2017 e 2022 só não venceu o torneio no ano de 2021 (Djokovic foi o vencedor).

Em 2016, chegou o segundo título olímpico. No Rio de Janeiro, Nadal fez dupla com Marc López e venceu por 2-1 a dupla romena composta Horia Tecau e Florin Mergea. Depois da glória olímpica a singulares, o triunfo nas duplas.

Em 2024 ainda tentou um regresso mas o historial de lesões começou a pesar na forma física do maiorquino. Cedo se despediu de Roland Garros mas voltaria uns meses depois para a despedida definitiva nos Jogos Olímpicos de Paris, depois de fazer parelha com Carlos Alcaraz e ter sido eliminado por Novak Djokovic que viria a tornar-se campeão olímpico.

Ao todo, Rafa Nadal venceu 92 títulos em torneios ATP: 22 deles foram Grand Slams e o torneio de Barcelona também foi talismã, com o espanhol a vencê-lo por 12 vezes.

O “Rei da terra batida” venceu 63 dos 92 títulos nessa superfície e tem um registo impressionante de 112 triunfos em Roland Garros e apenas quatro derrotas. Arrecadou mais de 130 milhões de euros só em prémios de vitória.

Apesar dos muitos duelos, é grande amigo de Roger Federer. Passou mais de 900 semanas no top 10 do ranking ATP, sendo que 209 semanas foram passadas em primeiro lugar.

Individualmente venceu vários prémios, tendo sido distinguido com quatro Laureus: em 2011 e 2021 para Desportista do Ano, em 2014 para o Regresso do Ano e em 2006 arrecadou o prémio revelação.

Foi porta-estandarte de Espanha nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, e foi agraciado com a Gran Cruz de la Orden del Dos de Mayo em 2020 e um doutoramento Honoris Causa da Universidade Europeia de Madrid em 2015.

Depois de várias lesões e de muita luta contra o passar anos, Rafael Nadal disse adeus no país natal. Para a posteridade fica a lenda do “Rei da terra batida”.
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