Se os condutores sem problemas físicos enfrentam diariamente a dificuldade de arranjar um buraco para estacionar em Lisboa - mesmo a pagar -, o dilema agrava-se para os condutores com mobilidade reduzida. Perante este entrave, os editores da aplicação de trânsito Waze deitaram mãos à obra.
Foi precisamente a pensar nas dificuldades das Pessoas com Mobilidade Reduzida (PMR) no dia-a-dia rodoviário que os editores da aplicação GPS de trânsito Waze decidiram oferecer mais um serviço de informação.
Menos tempo, mais liberdade
A maioria das pessoas que se deslocam de carro para a cidade partilha das mesmas inquietações: onde deixar o veículo; perceber se há parquímetros para alimentar com moedas; arriscar ou não uma multa, o bloqueio ou mesmo o reboque.
Este é o panorama diário de um condutor sem limitações físicas. E o quadro piora para quem depende não só do carro mas também de uma cadeira de rodas para se deslocar. Uma realidade com a qual Carlos Nogueira, deficiente motor, assistente social na Câmara de Lisboa, convive diariamente na deslocação para o trabalho no centro da capital.
“O estacionamento para nós é essencial, é para toda a gente. Só que uma pessoa que não tenha deficiência pode deixar o carro um pouco mais longe do destino e depois dirigir-se a pé. Nós não. Porque quanto mais longe, numa cadeira de rodas, mais difícil e ainda existem infelizmente muitas barreiras arquitetónicas”.
Carlos Nogueira diz que a opção de ter carro é uma escolha pessoal. “Ser portador de uma deficiência física não me obriga a ser menos cidadão do que qualquer outro, obrigando-me a optar por soluções alternativas como andar de táxi ou autocarro. Não”.
Com a ferramenta do Waze, disponível através de plataformas móveis como os smartphones, Carlos Nogueira sente maior liberdade de escolha, pois encontra informações sobre locais indicados para pessoas como ele.Lugares PMR no Waze
A aplicação de navegação GPS Waze disponibiliza a partir desta quarta-feira, feriado do 25 de Abril, uma nova ferramenta de ajuda nas estradas da capital Lisboeta. A função consiste na informação dos locais físicos onde estão reservados e demarcados os lugares de estacionamento para PMR.
A ideia partiu de dois editores do Waze, que sentiram necessidade de ajudar os condutores com mobilizada reduzida. Propósito que teve apoio da restante comunidade portuguesa da plataforma.
Para aceder a esta informação, o condutor tem de procurar no sistema Waze a sigla PMR. Automaticamente, o programa fornece os locais onde se pode encontrar lugares.
Por agora, esta informação só está disponível para a cidade de Lisboa, contando com mais de 200 locais identificados.
Delfim Machado, um dos mentores e editor do Waze, explica à RTP que todos os condutores são potenciais fornecedores de conteúdos para a aplicação, que permite ao programa de informação de trânsito e de locais de interesse geolocalizar novos pontos de estacionamento para PMR.
Ou seja, a aplicação constitui uma ferramenta “viva”, permanentemente atualizada.Waze. Informar para melhor circular
O Waze é uma aplicação de GPS para os sistemas de telemóvel iOS e Android que usa os dados dos utilizadores, em rede, para melhorar as rotas e evitar perigos na estrada.
A comunidade de utilizadores fornece informação em tempo real sobre o estado do trânsito. Os dados são validados por editores que, além de gerirem o sistema, mantêm atualizados os mapas das estradas, levando em linha de conta, por exemplo, eventos desportivos, manifestações ou catástrofes.
As informações são disponibilizadas mediante alertas dos condutores e/ou parceiros, que partilham os dados a comunidade em geral.
Exemplos de trabalho em parceria - com a Brisa e a GNR - são a informação do encerramento e da abertura de várias estradas e autoestradas durante a visita do Papa, bem como a ajuda na informação dos acessos viáveis durante os incêndios no norte e no centro do país, como explica o editor da aplicação António Antunes.
“Nesta aplicação do Waze já fizemos trabalhos, como na altura dos incêndios, em que na aplicação cortamos e abrimos as estradas, cortes na informação GPS que informa os utilizadores para não ir por aquela via porque se encontra cortada. Automaticamente o sistema cria rotas e reencaminha as pessoas para lugares seguros”.
Recorde-se que parar ou estacionar em locais destinados a Pessoas com Mobilidade Reduzida constitui uma contraordenação grave, sendo subtraídos pelo menos dois pontos à carta (num total de 12), além da original multa, que para estacionamento em lugares reservados vai dos 60 aos 300 euros.
Está também publicado em Diário da República o diploma que obriga todas as entidades públicas a passarem a dispor de lugares mínimos obrigatórios para pessoas com deficiência.