Foto: José Sena Goulão-Epa
Fernando Santos fez esta sexta-feira a antevisão ao jogo dos quartos de final do Mundial2022, jogo que vai colocar Portugal frente a frente a Marrocos amanhã, às 15h00, no Estádio Thumama. A conversa com Cristiano Ronaldo abriu a conferência de imprensa.
Conversa com Ronaldo: "Essa conversa aconteceu, mal seria que não tivesse acontecido. Desde que cá cheguei só dou a equipa uma hora e meia antes do jogo, escrevo no quadro. Tinha de acontecer, foi mais do que normal, não faço isso com todos, mas o capitão, alguém que é quem é, em termos de projeção, aquilo que representa para os portugueses e para a equipa, naturalmente que tinha de ter essa conversa. Aconteceu no dia do jogo depois de almoço. Não tivemos nenhuma conversa antes. A única conversa que tive, foi a explicar as razões porque é que não ia jogar. Dei-lhe a conhecer. Tivemos uma conversa no meu gabinete, em que lhe disse que não estava a contar com ele para este jogo de início. Achava que a entrada dele na segunda parte podia resolver o jogo. O Cristiano se ficou muito satisfeito? Não. Costuma jogar sempre a titular. É normal que não tenha ficado muito satisfeito. Foi uma conversa perfeitamente normal e tranquila. Ele não aceitou dessa forma simples. Nunca, em momento algum, me disse que queria sair da seleção nacional. E mais: acho que é tempo de pararmos com algumas coisas. É um pouco moda só apontar ao Cristiano. Se há exemplo melhor, é o exemplo que ele deu no jogo. Foi ele que deu o grito na cabina, saltou nos golos todos, vi na TV ele a bater palmas mais o João Mário. No fim foi ele que chamou os colegas para bater palmas e só o viram a sair sozinho. Deixem o Ronaldo em paz".
Rúben Dias e mesmo onze? "(Sobre Rúben Dias) Vamos ver mais logo. No dia em que eu tiver aqui um jogador, que não fique descontente, não pode voltar à seleção. Não está aqui a fazer rigorosamente nada. No meu tempo ficavam com azia e tive um treinador que dizia que devíamos ir à tasca comer iscas. Os treinadores fazem as suas escolhas. Essa questão de equipa que ganha não mexe... Marrocos tem questões distintas da Suíça. Marrocos é fortíssimo, não sei como é que se diz que não é favorita. Só tem 1 golo sofrido, 4 marcados, foi a única que fez 7 pontos na fase de grupos. Jogadores que jogam nas melhores equipas do Mundo, Chelsea, PSG, Bayern... Só quem não viu o jogo com a Espanha e Croácia é que duvida da qualidade da equipa. Depois tem um jogador, o Amrabat, que está a ser das maiores revelações. Ofensivamente procura a sair jogar bem, com um guarda-redes que joga bem com os pés, envolve à esquerda e à direita. É muito forte ofensivamente. Pensarmos que vai ser fácil, não vai. Recordo o jogo do Mundial 2018, o mais difícil que tivemos, mesmo vencendo 1-0. Sofremos muito. Os jogadores já viram, sabem da qualidade do adversário e têm de chegar ao campo sem receios e com confiança. Quando não tivermos bola temos de a ir procurar, sermos intensos... Se continuarmos a melhorar como temos melhorado, com mais ou menos dificuldade, acredito que Portugal vai ganhar".
Experiência nestas fases: "Nesta fase, as equipas que cá estão todas já chegaram a esta altura. É normal. Os jogadores estão muito habituados. Marrocos tem um grande público, sempre a puxar e que até assobia o adversário. Podíamos dizer... Cuidado. Cuidado não. Temos de mostrar em campo aquilo que somos".
Sobre a seleção de Marrocos: "A dois minutos do fim do jogo, em 2018, estava apurado... Não ter atingido mais cedo os quartos-de-final, aconteceu aí. São uma equipa muito bem organizada, com talento, tem a criatividade do jogador africano, com uma cultura mais forte em termos de jogo coletivo, pela influência de jogarem na Europa. É muito consistente, trabalha muito. O Hakimi não nasceu lá, mas joga pelos avós e pelos bisavós. Nós temos de fazer o mesmo, jogar pelos nossos avós, bisavós e até trisavós. Vai ser muito, muito difícil, mas também vai ser muito difícil para Marrocos".
Lado emocional; sente que alguém não quer o sucesso da Seleção? "Não acredito. Esta questão do Cristiano, sempre que vimos a uma conferência, 90% das questões são sobre ele, pela sua dimensão. A questão emocional é muito importante. No dia a seguir ao jogo o que faço é ver vídeos e ler relatórios. Cada vez mais treinamos menos, 40, 45 minutos. Nem há treino tático. É mandar para eles, para as televisões deles. É isso e depois dar um toque de manhã sobre o que acho do adversário. O que é fundamental, acredito que vamos estar aqui mais algum tempo, é o ambiente fantástico que existe entre os 24 jogadores. Sem isso não podíamos estar aqui".