O ex-internacional revela que o Europeu'84 foi pior que Saltillo.
"Os problemas foram mais que muitos. Dois anos depois, surge Saltillo, mas, na minha opinião, o Euro de França não teve nada a ver com Saltillo e pelo lado negativo. Foi muito pior, mas, como no futebol os resultados são sempre a base de tudo, os resultados deram para não por a nu todos os problemas", relatou.
Em 1984 Portugal disputou em França o primeiro europeu da sua história e logo na primeira participação alcançou as "meias", tendo caído frente à seleção da casa, de Michel Platini, Jean Tigana ou Alain Giresse, por 3-2, após prolongamento.
Muitos problemas
Apesar da boa prestação, Diamantino Miranda, que na altura representava o Benfica, recordou à Agência Lusa uma fase final da competição difícil, com problemas que começaram ainda em Portugal.
"O período antes do Euro não foi muito fácil, nem sequer para mim. Fizemos um jogo com a Jugoslávia no estádio Nacional antes da partida para França, onde dos 23 entraram 20. Os únicos que não jogaram, fui eu, o Bastos Lopes e o Damas. Fiquei muito desiludido, porque tinha feito uma excelente época. Tive uma reunião com a inusitada equipa técnica de quatro elementos ainda no estádio. Esclareci alguns pontos e um deles era, se não contavam comigo, não fazia sentido nenhum fazer parte da seleção. Foi-me garantido que tinha sido uma situação pontual", confidenciou.
Para Diamantino, uma das principais razões para os problemas vividos em França foram as divisões dentro do plantel e da própria equipa técnica.
"Desde a partida ate à chegada, houve muitos problemas, desde logo a grande divisão entre os dois blocos de Benfica e FC Porto. E, a partir daí, houve variadíssimos problemas com uma equipa técnica onde prevaleciam treinadores representantes dos dois blocos. As equipas eram feitas em cima da hora do jogo, com um treinador a puxar por um lado, outro a puxar por outro e outro que não se metia em nada. Era tudo feito em cima do joelho", afirmou.
O extremo, internacional em 22 ocasiões, considerou inclusive que os problemas vividos em França superaram a polémica que ocorreu dois anos depois, no Mundial de 1986, no México, em que jogadores portugueses ameaçaram fazer greves a treinos por diferendos internos.
Cada treinador escolhia os seus jogadores
Depois de passar a fase de grupos, no qual Diamantino destacou um "grande resultado" (0-0) diante da Alemanha, a seleção portuguesa encontrou a França nas "meias". Os diferendos continuavam, apesar do apoio dos adeptos portugueses.
"A viagem do hotel até ao estádio Velódrome foi uma loucura imensa, tanto da parte dos franceses como portugueses, foi uma viagem inolvidável. Houve grandes discussões na véspera e manhã do jogo porque uns treinadores queriam que jogassem uns jogadores e outros preferiam outros atletas", disse.
Depois do empate 1-1 no fim dos 90 minutos, Portugal até esteve a vencer no prolongamento, graças a ao 'bis' Jordão, novamente servido por Chalana, mas, em cinco minutos, a França virou o resultado, bom o 'bis' de Jean-François Domergue, aos 114 minutos, e um tento de Platini, a um minuto do fim.
"Com este tempo de distância, pode-se falar em mais demérito nosso. A França percebeu que tinha de jogar tudo nos últimos minutos. Conseguiu e, depois, no prolongamento, estarmos a defender muito dentro da nossa área contra jogadores de técnica elevadíssima, a qualquer momento poderiam fazer a diferença e isso aconteceu. Já na área, Platini conseguiu sentar um ou dois jogadores e fazer golo", recordou Diamantino.
Diamantino explicou que depois de ter atingido a fase a eliminar e depois da forma como os jogadores defrontaram a França, Portugal até podia ter atingido a final.
"Foi uma pena, depois de estarmos ali percebemos que poderíamos ir à final e teríamos ganhado. Foi uma grande geração do futebol português, de grande qualidade individual. Só assim foi possível ultrapassar tantos problemas e chegar à meia-final", concluiu.