Pepinos espanhóis não estão na origem de surto

por RTP
Estão por efetuar duas análises num total de quatro, mas a responsável alemã entendeu divulgar os resultados preliminares "porque a infeção pode ter sido provocada por sujidade" Carlos Barba, EPA

Os pepinos espanhóis não são afinal a origem do surto da variante da bactéria E.coli, revelou uma responsável da Saúde Pública de Hamburgo. A epidemia dos pepinos já matou 15 pessoas na Alemanha e uma na Suécia e provocou focos de infeção na Dinamarca, Grã-Bretanha e Holanda. Todos são cidadãos alemães ou turistas que estiveram na Alemanha. O caso gerou uma discussão entre espanhóis e alemães na reunião de ministros europeus da Agricultura da UE.

A senadora do Governo regional de Hamburgo especificou que a variante da E.coli isolada nos pacientes não coincide com a variante identificada nos pepinos espanhóis do mercado de Hamburgo.

"Como antes, a fonte (do surto infecioso) ainda não foi identificada", adiantou a senadora Prufer-Storks. O Instituto de Higiene de Hamburgo está a fazer testes a pepinos, tomates e alfaces recolhidos em mercados, lojas e restaurantes da cidade alemã. O objetivo é encontrar a fonte da infeção e, também, apurar o motivo para a contaminação dos pepinos.

Estão por efetuar duas análises num total de quatro, mas a senadora entendeu que "era importante publicar estes resultados, porque a infeção pode ter sido provocada por sujidade".

As declarações de Prufer-Storks sustentam as alegações dos produtores espanhóis, de Almeria e Málaga. Estes insistem que os pepinos não saíram contaminados da exploração, mas admitem que a contaminação poderá ter acontecido durante o transporte ou o armazenamento.

Em Portugal, o presidente da Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) considera que dificilmente os casos mortais de contaminação com a bactéria Escherichia coli têm relação com a produção de pepino.

"Estes agentes patogénicos não atacam os vegetais. Não é um produto transformado, é uma verdura que é colhida. Se houvesse algum problema seria por contaminações cruzadas. Por exemplo, através de um armazém, havendo uma contaminação superficial", declarou à Lusa Domingos dos Santos.

O responsável só vê oportunidade para contaminação durante o armazenamento. “Dificilmente terá sido o transporte, que é normalmente refrigerado. (Os legumes) podem não ter estado nas condições de armazenamento adequadas", acrescenta.

Número de casos de contaminação está a aumentar
A epidemia dos pepinos já matou 15 pessoas na Alemanha e uma na Suécia. A vítima sueca é uma mulher de 50 anos, que esteve na Alemanha, e faleceu hoje no hospital Sodra Alvsborgs de Boraas, perto de Goteborg, no Sudoeste da Suécia, onde tinha sido admitida domingo.

Depois da Alemanha, onde foram contaminadas 1400 pessoas, incluindo 570 em Hamburgo, a Suécia é o país com maior número de contaminações (39).

Um homem de nacionalidade espanhola, de 41 anos, está internado em estado grave, supostamente infetado.

Dinamarca, Grã-Bretanha, Holanda e Suécia registam também focos de infeção, mas todos os contaminados são cidadãos alemães ou turistas provenientes recentemente da Alemanha.

Deco lembra importância de lavagem dos legumes

Em Portugal não há registo de casos de contaminação por causa dos pepinos. Menos de 5 por cento dos casos de contaminação pela E.coli exigem hospitalização e, entre estes, entre 3 a 5 por cento são vítimas mortais.

"Muitas vezes as pessoas têm infeção alimentar por esta bactéria (Escherichia coli) e não são hospitalizadas. E a grande maioria dos casos relatados tem a ver com carne contaminada, porque é uma bactéria de origem fecal", declarou Nuno Dias, responsável da associação de defesa do consumidor Deco. A contaminação não é feita de pessoa a pessoa mas antes por contacto oral/fecal, nota o especialista.

No entanto, há cuidados de higiene diários que podem ajudar a prevenir infeções, como uma boa lavagem dos legumes ou frutos para consumo cru. "É também preciso evitar contaminações cruzadas na cozinha. Evitar que alguns alimentos contaminem outros que são consumidos crus. Manter uma boa higiene na cozinha", apela Nuno Dias.

O especialista em saúde pública Mário Durval nota que a estirpe da bactéria pode causar o rebentamento dos glóbulos vermelhos, uma ineficaz coagulação do sangue e saída pelos rins, bloqueando-os. O período de incubação da doença pode ir dos três aos oito dias.

Proibição de importação de pepinos gera altercações entre Espanha e Alemanha

Num conselho informal dos Ministros da Agricultura, na Hungria, a Espanha pediu a aprovação de uma declaração para afastar as suspeitas que recaem sobre o país.

A Alemanha recusou, alegando que não existem evidências sobre as causas do problema que já causou a morte a 16 pessoas, incluindo uma mulher sueca que esteve recentemente na Alemanha. "Primeiro é necessário perceber como surgiu esta situação" já que "ainda não existem evidências científicas sobre as causas do problema", relatou à Lusa uma fonte da delegação portuguesa.

Também Portugal "aguarda que o sistema europeu produza alguns resultados científicos", acrescentou esta fonte.

Quando as infeções começaram a causar vítimas, a Alemanha atribuiu a origem aos pepinos espanhóis. Na sequência deste anúncio, Áustria, a Bélgica e a Rússia decidiram fechar a porta a vários produtos espanhóis. As exportações dos hortofruticultores espanhóis para a Alemanha, que são destino de dois terços da produção, praticamente paralisaram.

A Espanha alega "danos irreparáveis" para a sua agricultura e considera que a medida é ilegal, tendo ameaçado processar a Alemanha e pedir uma indemnização pelos danos causados aos seus produtores de legumes e frutas.

Os responsáveis pela Agricultura da União Europeia acabaram por não fazer qualquer declaração sobre a contaminação e marcaram um conselho de ministros extraordinário para debater o assunto dentro de duas semanas.
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