Pediatria. Administração do São João admite condições "miseráveis"

por Carlos Santos Neves - RTP
“Tenho recebido mais do que queixas”, afirmou o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de São João, no Porto Yorgos Karahalis - Reuters

Condições “indignas” e mesmo “miseráveis”. O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de São João descreve assim a atual realidade do serviço de oncologia pediátrica nesta unidade do Porto, onde há tratamentos de quimioterapia “feitos num corredor”. A oposição reclama explicações do Governo e dos responsáveis pelo hospital. À esquerda exige-se o imediato desbloqueamento de verbas.

“Tenho recebido mais do que queixas. Há três coisas que temos de realçar: a primeira é a resiliência das crianças doentes e dos país, a segunda é a resiliência dos profissionais de saúde e em terceiro a da administração, em ter de suportar toda esta situação, que nos deixa sempre numa situação desconfortável”, vincou António Oliveira e Silva, em declarações aos jornalistas no Hospital de São João.
“Estou em choque, porque nós quando estamos a sair com a Lara e ela sai do bloco e tem que ir para os cuidados intensivos, quando chamamos o elevador, está a sair um carro dos lixos”, contou à RTP Luís Moreira, pai de uma criança tratada no São João.
O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar com o mesmo nome sublinhou haver “um protocolo assinado” e “um projeto pronto para entrar em execução”.

“E não temos o dinheiro libertado que torne possível a execução desse projeto”, apontou, para acrescentar que as obras que não estão dependentes destes fundos têm sido concretizadas, como por exemplo o centro ambulatório para pediatria que estará pronto a funcionar a 15 de junho.

“Sinto-me maltratado porque represento não só o Conselho de Administração, mas represento os cidadãos doentes a quem tenho a responsabilidade de prestar o melhor tratamento possível e represento também os profissionais do CHSJ. A minha lealdade é tripla e espero que não conflituem”, frisou.

A situação na pediatria do Hospital de São João foi denunciada nas páginas do Jornal de Notícias - pais de crianças com doenças do foro oncológico apontaram as más condições de atendimento em ambulatório e na chamada unidade do Joãozinho, queixas reiteradas à reportagem da RTP.

Paula Martinho da Silva, André Mateus Pinto, Marcelo Sá Carvalho - RTP

Ainda segundo António Oliveira e Silva, se notícias como a desta terça-feira “não são suficientes para libertar as verbas necessárias à construção do centro pediátrico”, a administração hospitalar não pode enumerar “o que é possível fazer mais”.

“A tutela diz que as verbas estão disponíveis, estão à espera dos procedimentos administrativos ou burocráticos para a libertação para o CHSJ. Tive informação, há cerca de três meses, do ministro da Saúde, que havia as verbas disponíveis para a construção. No fim de fevereiro, tive o contacto da Secretaria de Estado a dizer que a verba estava no CHSJ, mas continuo à espera”, adiantou.
Instalações provisórias “há dez anos”
Na edição desta terça-feira do Jornal de Notícias pode ler-se que há nesta altura tratamentos de quimioterapia administrados a crianças “num corredor do hospital”.

O mesmo diário escreve que, quando as análises pós-tratamentos ditam que as crianças fiquem internadas e em isolamento, “a maior parte das vezes é preciso esperar quatro a cinco horas por uma ambulância, sem condições higiénicas, que transporte as crianças do edifício central para o Joãozinho, num trajeto que demoraria alguns minutos”.

O secretário de Estado adjunto da Saúde, Fernando Araújo, afirmou em março que já haviam sido transferidos 22 milhões de euros para obras na unidade pediátrica, faltando a luz verde do Ministério das Finanças.

O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de São João enfatiza que “há dez anos que o centro pediátrico” daquele hospital da Invicta funciona “em instalações provisórias”.

“Continuamos a aguardar que sejam desbloqueadas essas verbas. As instalações do internamento são miseráveis, passo do indigno para o miserável. Temos muito más condições para as crianças e muito más condições para os pais das crianças, mas neste momento em instalações provisórias não podemos fazer melhor”, clamou.

c/ Lusa
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