Há fumo branco nas negociações entre a União Europeia e o Reino Unido. Reveja os atores principais da corrida em contrarrelógio, que dura desde Março de 2017.
De um lado, Theresa May faz malabarismo, equilibrando com as duas mãos mais do que consegue sustentar: oposições dentro do partido, pressão para um segundo referendo e a inevitável fronteira da Irlanda do Norte.
Do outro, ecoam as vozes de Michel Barnier e Donald Tusk que, à luz do dia, lideram as negociações. Nos bastidores, o peso de Angela Merkel e de outros chefes de Estado condiciona as cedências de Bruxelas. O acordo é difícil, mas não impossível. Para quando? Ninguém sabe.
Os atores principais
Não, não é um filme… ainda. Não deverá ser longínqua a adaptação à tela das tramas deste divórcio político. Por enquanto, os atores são reais e as suas decisões terão consequências na vida de milhões de indivíduos.
Embora o acordo tenha de ser aprovado pelos 27 países da nova União, as negociações estão a ser conduzidas por seis figuras chave.
Descubra quem é quem neste jogo interativo.
É mulher
Tem cabelo curto
Gosta de dançar
1. Theresa May
A mulher de quem todos falam. Caricaturam-na pelos seus sapatos tigresa bicudos e a própria admite que tem um fascínio por saltos altos. Não é por acaso que foi apanhada ao ritmo de Dancing Queen: num programa de rádio da BBC, elegeu-a como uma das suas músicas preferidas.
Cresceu numa família religiosa, filha de um vigário anglicano. Licenciou-se em Oxford e começou a carreira política a fechar envelopes. Em 1986 estreou-se como vereadora, em 1997 no Parlamento britânico. Foi ministra do Interior com David Cameron, substituindo-o no cargo de primeiro-ministro depois do referendo que conduziu à sua demissão em 2016.
Como chefe de governo é quem conduz o barco das negociações, apesar das crises internas que ultrapassou. As negociações encontram-se num impasse, por isso a líder britânica tem uma posição ingrata: ao aceitar determinadas exigências de Bruxelas arrisca perder o apoio interno para se manter no leme.
É homem
É alto
Pratica karaté
2. Dominic Raab
Tem cinturão preto em karaté, mas nem por isso está ganha a luta com a UE. Antes de subir à ribalta política liderou uma equipa de advogados contra criminosos de guerra em Haia. Esteve no centro de várias polémicas, nomeadamente por ter classificado as mulheres feministas como “fanáticas insuportáveis”. Quem o criticou fortemente na altura foi… Theresa May.
Em Julho de 2018 substituiu David Davis como ministro do Brexit. Raab teve um papel de protagonismo na campanha do Leave e admite-se relaxado com a possibilidade de um não acordo. Demitiu-se por considerar que o documento acordado com a União Europeia não corresponde às promessas feitas durante a campanha do referendo.
É homem
Tem cabelo curto
É baixo
3. Stephen Barclay
É o terceiro na lista de ministros para o Brexit em três anos. Depois da demissão inesperada de Dominic Raab, Stephen Barclay assume a pasta da saída do Reino Unido. Está responsável pela gestão interna do Brexit, uma vez que Theresa Mau assumiu as negociações.
Barclay era secretário de Estado da Saúde e Assistência Social no Gabinete do Chefe de Governo. Deputado pelo partido Conservador desde 2010, nunca votou contra um governo do seu partido.
É homem
Tem cabelo branco
Tem barba
4. Sir Tim Barrow
Representa o Reino Unido junto da União Europeia após a demissão do antigo embaixador, sir Ivan Rogers, por ter sido divulgada uma mensagem comprometedora sobre as negociações do Brexit. Foi Barrow quem entregou em mão, a Donald Tusk, a carta que acionou o artigo 50.
Diplomata de carreira, tem um estilo de negociação discreto mas eficaz. É prova disso o tempo que passou como embaixador em Moscovo num dos períodos mais tensos entre os dois países, entre 2011 e 2015, altura da crise na Crimeia. Reconhecem-no por não ter cedido à pressão de Putin sem no entanto hostilizar a diplomacia entre os dois países.
É homem
Usa óculos
Tem olhos azuis
5. Michel Barnier
Está do outro lado da barricada de Dominic Raab. É francês e já esteve na ribalta dos tabloides britânicos, que o apelidaram do “homem mais perigoso da União Europeia”. Ainda assim deixou uma boa relação com a City londrina enquanto ex-comissário europeu para o Mercado Interno e Serviços Financeiros.
É o negociador principal da União Europeia para o Brexit, representando os interesses dos países e das instituições europeias na mesa de negociações. Diplomata com larga experiência e europeísta convicto, deixou claro desde o início que não vai ceder nos pontos principais, nomeadamente na ordem de trabalho: primeiro o acordo de saída, depois eventuais pactos de comércio.
É homem
Tem cabelo loiro
É polaco
6. Donald Tusk
Da Polónia para o centro da União Europeia, Donald Tusk é o presidente do Conselho Europeu, uma das principais instituições da União Europeia, composta pelos chefes de Estado e de governo dos 28 países. No cargo desde 2014, enfrentou a crise da Crimeia e o resgate grego. Agora tem pela frente a crise de refugiados e a saída do Reino Unido. Apesar de não ter poder efetivo, Tusk tem largo poder de influência, já que define as prioridades políticas da União Europeia e orientações gerais.
Cresceu numa Polónia dominada pelo regime comunista e na universidade envolveu-se na oposição. Fundou dois partidos marcados por uma ideologia pró-europeia e neoliberal. Enquanto primeiro-ministro conseguiu gerir o impensável: a partir de 2008, enquanto a Europa lutava contra uma crise económica, a Polónia cresceu 20%. Ganhou muito apoio interno, mas recentemente cortou relações com o governo polaco, o único que não votou para a sua reeleição em 2017.
É mulher
Usa franja
Tem sotaque
7. Sabine Weyand
Não está na ribalta mas é fundamental para as negociações do Brexit. Sabine Weyand é a especialista alemã que, juntamente com Olly Robins (o seu equivalente do lado do Reino Unido), tenta orquestrar soluções reais para os conflitos políticos. A Bloomberg traçou o perfil dos dois técnicos que “operam na sombra”.
Weyand é fiel às regras da União Europeia, atenta ao detalhe e crítica do idealismo inglês. Características parecidas com as de Angela Merkel, num estilo mais burocrata. Considera que a confiança entre as equipas de negociação é fundamental para o seu sucesso.
Fez um intercâmbio em Cambridge no mesmo ano em que Margaret Thatcher assumiu a presidência rotativa do Conselho da Europa, em 1986. Talvez por isso tenha uma sensibilidade especial para a cultura britânica, demonstrada quando, em Bruxelas, é a única a dizer “bollocks”.