A participação de Maria Luís Gameiro (X-Raid Fenic) na 47.ª edição do Rali Dakar marca o regresso das mulheres portuguesas à mais mediática prova de todo-o-terreno do mundo 15 anos após Elisabete Jacinto ter competido pela última vez.
Para além dessa curiosidade, Maria Luís Gameiro, gestora profissional de empresas no dia-a-dia, decidiu dar um cariz solidário a esta primeira participação no Rali Dakar, oferecendo-se para doar um euro por quilómetro percorrido em especiais da edição deste ano à luta contra o cancro.
“Por isso, o meu objetivo é chegar ao final. E quem quiser pode doar, também, através do site www.mlgameiro.pt. Outro dos meus objetivos é ter um desempenho bom o suficiente para poder regressar no próximo ano na categoria T1+ [a categoria principal, denominada Ultimate, reservada aos automóveis]. Se conseguir, irei doar um euro por cada quilómetro percorrido, seja em especial ou em ligação”, frisou à agência Lusa.
A ligação de Maria Luís Albuquerque aos automóveis partiu de uma paixão revelada desde cedo: “O mau pai detestava conduzir e, quando tirei a carta de condução, aos 18 anos, entregou-me logo a tarefa de conduzir o carro da família”.
Mas a competição só a descobriu em 2009, por intermédio do marido, José Gameiro, piloto de todo-o-terreno. Ainda experimentou ser navegadora mas o facto de enjoar como passageira tornou a aventura muito curta.
Daí a sentar-se no lugar de condutor foi um passinho, dado na Baja de Portalegre em 2009, porém a crise financeira levou-a a dedicar-se apenas ao mundo empresarial, nas oito empresas de que é gestora.
Apenas em 2022 regressou à competição, vencendo a Taça das Senhoras em Portugal e Espanha em 2023 e 2024, ano em que terminou mesmo o campeonato espanhol na terceira posição da geral.
“Perdi o segundo posto porque não disputei a última prova. Preferi ir ao Rali de Marrocos para ter um primeiro contacto com as dunas, já a pensar no Dakar”, frisou.
O sonho do Dakar começou com a disputa do campeonato espanhol.
“Havia muitas pilotos que me diziam para participar no Dakar. Em Portugal, não temos apoios para este tipo de corridas, mas puseram-me o bichinho. Uma equipa internacional fez-me um convite já em janeiro de 2024, mas apenas para um carro com duas rodas motrizes. Sempre corri com quatro rodas motrizes e para uma primeira vez seria complicado. Só que fiquei com o bichinho. A equipa começou a mexer-se junto de alguns patrocinadores e nós prescindimos de algumas corridas para conseguir amealhar para este projeto”, explicou.
O facto de ser uma mulher “também despertou algum interesse nos patrocinadores”, apesar de não ter conseguido juntar toda a verba necessária.
O orçamento, de cerca de 300 mil euros, teve de ser completado com verbas próprias, daí que a opção passe por um veículo ligeiro (SSV), um X-Raid Fenic, com motor Yamaha, também ele em estreia na prova que se disputa na Arábia Saudita.
Licenciada em Economia, é gestora de empresas, administradora da Motivo, ligada às máquinas pesadas do setor da construção , e, além disso, criou o primeiro centro hiperbárico privado em Portugal.
“Existem as câmaras das Forças Armadas. Eu criei o primeiro centro com câmaras monolugares, que dá para mergulhos, doenças súbitas, cicatrização, recuperação muscular. Esse é o meu bebé, o Centro Hiperbárico de Cascais”, conta.
No meio de uma agenda atarefada, o todo-o-terreno é um ‘hobby’.
“Nos últimos meses, tive de me preparar muito em termos físicos. Fazia ginásio regularmente. Para o Dakar tive de me preparar de forma diferente, pelo que fui mais piloto do que empresária”, admitiu à Lusa.
Ainda assim, considera que a modalidade “é um escape”: “Obriga-me a estar focada. Consigo trazer o foco do todo o terreno para as empresas”.
A seu lado terá o experiente navegador José Marques, que também já navegou para Elisabete Jacinto.