A campanha eleitoral para a Presidência da República ficou ontem marcada por mais um episódio entre as candidaturas de Cavaco Silva e Manuel Alegre e tendo como base uma vez mais o BPN. O porta-voz de Cavaco Silva acusou Alegre de fazer “campanha suja”, enquanto o diretor de campanha de Manuel Alegre acusou o adversário de se vitimizar e de recorrer ao insulto pessoal, mas sem esclarecer as ligações ao BPN.
O primeiro a chamar a comunicação social foi o porta-voz de Cavaco Silva, Alexandre Relvas, que acusou a candidatura de Manuel Alegre de fazer "campanha suja", com "ataques desonestos e cobardes" e insinuações sobre as poupanças de Cavaco no BPN.
"A baixa política entrou na campanha eleitoral", começou por dizer Alexandre Relvas para acrescentar e deixar bem claro que o candidato Cavaco Silva “nada tem a esconder”.
Numa declaração sem direito a perguntas dos jornalistas, lida na sede nacional da candidatura de Cavaco Silva, em Lisboa, Alexandre Relvas assegurou que Cavaco Silva "colocou parte das suas poupanças no BPN" e em outros bancos, mas que pagou os impostos devidos e "cumpriu escrupulosamente todos os deveres de cidadão contribuinte sem qualquer privilégio ou favorecimento".
Como forma de esclarecimentos, o porta-voz da candidatura de Cavaco Silva referiu ainda que ao ser eleito Presidente da República Cavaco Silva declarou "todo o seu rendimento e património" ao Tribunal Constitucional, como a lei exige.
Como tal a candidatura de Cavaco Silva repudia “as inaceitáveis insinuações promovidas principalmente pela candidatura de Manuel Alegre", acusando o candidato Manuel Alegre de fazer uma "campanha indigna e ignóbil de ataque pessoal".
Resposta a Alexandre Relvas
Pouco depois das declarações do porta-voz da candidatura de Cavaco Silva foi a vez de Duarte Cordeiro, diretor de campanha de Manuel Alegre, chamar os jornalistas e dar conta do pensamento do candidato apoiado por PS e Bloco de Esquerda.
Duarte Cordeiro acusou a candidatura de Cavaco Silva de recorrer ao insulto pessoal e de procurar vitimizar-se, mas continuando a não esclarecer as ligações que o atual Presidente da República teve ao BPN.
"Estranhamos e lamentamos a vitimização por parte do candidato Cavaco Silva" porque "foi o candidato Cavaco Silva que decidiu pronunciar-se sobre o BPN. Registamos que perante um tema incómodo a candidatura de Cavaco Silva recorra a mais uma manobra de diversão com o objetivo de desviar a atenção dos portugueses", declarou o diretor de campanha de Alegre.
Para a candidatura de Manuel Alegre estranha-se esta reação quando quem colocou o tema BPN na campanha foi Cavaco Silva no debate televisivo com o candidato comunista Francisco Lopes, quando disse: "nunca trabalhei no BPN, nunca comprei nem vendi nada do BPN, nunca recebi qualquer remuneração do BPN".
São estas as palavras questionadas pela candidatura de Alegre quando "sabe-se que Cavaco Silva detinha ações da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) que era proprietária do BPN".
Para o deputado Duarte Cordeiro foi tempo ainda de recordar que, num segundo momento, Cavaco Silva criticou a atual administração do BPN sem fazer qualquer referência "à anterior gestão danosa" do banco, em relação à qual "todos conhecemos as relações pessoais e políticas que Cavaco Silva teve com anteriores elementos da administração do BPN".
Na sua declaração o porta-voz da candidatura de Manuel Alegre deixou ainda bem claro que a candidatura de Cavaco Silva nada esclarece sobre o BPN deixando ainda um aviso: "Este episódio não demoverá Manuel Alegre de continuar a apresentar as suas ideias e de criticar o que entende dever ser criticado.
Francisco Lopes volta a pedir esclarecimentos
O candidato às eleições presidenciais Francisco Lopes foi ontem à noite o entrevistado da RTP e aproveitou a ocasião para, mais uma vez, abordar o tema BPN e reclamar "esclarecimentos a todos e de tudo" o que está relacionado com o caso BPN.
O candidato apoiado por comunistas e Verdes acusou ainda Cavaco Silva e Manuel Alegre de pretenderem "distrair as atenções" para iludir responsabilidades.
"Exijo esclarecimentos a todos e de tudo", disse Francisco Lopes que pediu ainda uma clarificação sobre "quem são responsáveis da fraude e a quem serviu a fraude", deixando claro que, no seu entender, os responsáveis pela nacionalização do banco são "Cavaco Silva, como Presidente da República, o Governo do PS, a maioria da Assembleia da República e o próprio candidato Manuel Alegre", deputado socialista na anterior legislatura.
"Cavaco Silva procura distrair as atenções da fraude que houve antes da intervenção do Estado, falando das administrações anteriores; Manuel Alegre procura distrair-nos das responsabilidades do Governo, de Cavaco Silva e dele próprio na intervenção que houve que levou à apropriação pública do buraco do BPN", referiu o candidato.
Francisco Lopes referiu-se ainda a apoiantes de Cavaco Silva como "promotores da fraude", nomeadamente ao anterior responsável do BPN, Oliveira e Costa, que "foi ministro e financiador da sua campanha presidencial em 2006".
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