Futuro da Ucrânia incerto com regresso de Trump à Casa Branca

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Shannon Stapleton - Reuters

Com a reeleição de Donald Trump para a Casa Branca, o destino da Ucrânia é incerto. O presidente eleito prometeu durante a campanha terminar com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia “em 24 horas”, sem especificar o seu plano. Trump tem, no entanto, criticado veementemente a ajuda dos EUA a Kiev, o que significa que a Ucrânia poderá sofrer um corte drástico do apoio crucial de Washington.

O presidente ucraniano foi um dos primeiros líderes internacionais a felicitar Donald Trump pela sua vitória nas eleições presidenciais norte-americanas.

Numa mensagem publicada nas redes sociais logo após Trump reivindicar a vitória, na terça-feira, Volodymyr Zelensky elogiou a abordagem “paz através da força” do ex-presidente e disse esperar que a sua reeleição ajude a Ucrânia a alcançar uma “paz justa”.

Já na quarta-feira, Zelensky disse que manteve uma "excelente conversa telefónica" com Donald Trump, onde o felicitou pela "vitória esmagadora" nas presidenciais dos Estados Unidos, acrescentando que concordaram em manter um diálogo e avançar na cooperação bilateral.

"A liderança forte e inabalável dos EUA é vital para o mundo e para uma paz justa", acrescentou.

A urgência de Zelensky em felicitar Trump e os repetidos elogios estão a ser vistos como uma tentativa do presidente ucraniano de persuadir o presidente eleito dos EUA a não abandonar a sua causa na guerra contra a Rússia.

Durante a campanha eleitoral, Donald Trump disse que se fosse presidente, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia nunca teria começado e prometeu acabar com o conflito que dura há mais de dois anos em “24 horas”.

O republicano não especificou como tencionava pôr em prática esse plano, mas Trump tem criticado veementemente a ajuda norte-americana a Kiev, o que indica que a Ucrânia poderá sofrer uma redução drástica do apoio dos EUA – o que terá certamente um impacto decisivo na guerra com Moscovo.

Já a pensar nesta possibilidade, a Administração Biden está a acelerar o processo para entregar mais ajuda à Ucrânia antes da tomada de posse de Donald Trump, a 20 de janeiro.

Para além disso, Trump nunca escondeu que mantém uma “muito boa relação” com o presidente russo e fez comentários que sugerem que os EUA poderiam pressionar a Ucrânia a negociar com a Rússia em condições muito desfavoráveis, pressupondo concessões da parte de Kiev.
Kremlin reage com cautela
A Rússia, por sua vez, reagiu com cautela à vitória de Donald Trump, com o Kremlin a anunciar que o presidente Vladimir Putin não tem intenções de felicitar Trump.

“Não esqueçamos que estamos a falar de um país hostil que está direta e indiretamente envolvido numa guerra contra o nosso Estado", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em referência ao conflito na Ucrânia.


"É praticamente impossível que as relações se deteriorem ainda mais. Elas estão no nível mais baixo de todos os tempos. Quanto ao que pode acontecer, tudo dependerá da liderança americana", disse Peskov, acrescentando que o Kremlin vai avaliar Trump “com base em ações concretas”.

“Temos afirmado repetidamente que os Estados Unidos estão em posição de pôr fim a este conflito. Uma vez que os Estados Unidos estão a alimentar este conflito e estão diretamente envolvidos nele, acredito que os Estados Unidos podem mudar o rumo da política externa que adotaram”, afirmou.

“Veremos o que acontece em janeiro”, disse, referindo-se à data da tomada de posse do próximo presidente dos Estados Unidos.
“Com Trump, não vamos vencer a guerra”
Os ucranianos olham com pessimismo e desânimo para o regresso de Donald Trump à Casa Branca.

“Foi o presidente russo que venceu as eleições nos EUA”, disse Ihor, militar ucraniano de 29 anos, à Al Jazeera.
“Eles estão a comemorar no Kremlin agora. Nós não estamos”, acrescentou.

“Trump vai forçar-nos a parar a guerra sob a condição de que a Rússia obtém tudo o que ocupou”, disse, referindo-se ao plano do presidente eleito para a guerra na Ucrânia.

“Com Trump, não vamos vencer a guerra”, disse Oleksandr.
Tópicos
PUB