"1914 Paris, Lisboa – em tempo de declaração de guerra, Mário de Sá-Carneiro escrevia postais e cartas."
"1915 Lisboa – Na vida real, Mário de Sá-Carneiro consulta o neurologista Egas Moniz que o descreve como sendo "um homem ligeiramente obeso, de rosto redondo com um olhar inteligente e triste".
No desdobramento físico e psicológico que o poeta sentia – o futuro Nobel reconhece a sintomatologia de um esquizofrénico."
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Em poema, Mário de Sá-Carneiro expressa a loucura, sem elipses, assim:
A minha vida sentou-se
E não há quem a levante,
Que desde o Poente ao Levante
A minha vida fartou-se.
E ei-la, a mona, lá está,
Estendida, a perna traçada,
No infindável sofá
Da minha Alma estofada.
Pois é assim: a minha Alma
Outrora a sonhar de Rússias,
Espapaçou-se de calma,
E hoje sonha só pelúcias.
Vai aos Cafés, pede um bock,
Lê o <Matin
E não há nenhum remoque
Que a regresse ao Oiro antigo:
Dentro de mim é um fardo
Que não pesa, mas que maça:
O zumbido dum moscardo,
Ou comichão que não passa.
Folhetim da <Capital>
Pelo nosso Júlio Dantas
Ou qualquer coisa entre tantas
Duma antipatia igual...
O raio já bebe vinho,
Coisa que nunca fazia,
E fuma o seu cigarrinho
Em plena burocracia!...
Qualquer dia, pela certa,
Quando eu mal me precate,
É capaz dum disparate,
Se encontra a porta aberta...
Isto assim não pode ser...
Mas como achar um remédio?
Pra acabar este intermédio
Lembrei-me de endoidecer:
O que era fácil partindo
Os móveis do meu hotel,
Ou para a rua saindo
De barrete de papel
A gritar <Viva a Alemanha
Mas a minha Alma, em verdade,
Não merece tal façanha,
Tal prova de lealdade...
Vou deixá-la decidido
No lavabo dum Café,
Como um anel esquecido.
É um fim mais raffiné.
Créditos das imagens: Biblioteca Nacional de Portugal
Exposição patente até dia 30 de Setembro, Mário de Sá-Carneiro, <<o homem são louco