Capitão Machado Santos
Havia conversas e reuniões de café – corriam boatos de que Machado Santos preparava um ministério revolucionário, que dirigia convites, e que o complot militar contava com apoios internos no Ministério da Guerra. O seu Serviço de informações sabia que se preparava um golpe.
O governo estava preparado – o golpe falhou e foi apelidado de ridículo.
Machado Santos falsifica um Diário do Governo supostamente assinado pelo Presidente da República Bernardino Machado que lhe entrega o governo – neste documento tem o cuidado de nomear o Ministro de Guerra Norton de Matos para adido militar para Paris.
Fonte: Arquivo Histórico Militar
Machado Santos escolheu o quartel de Tomar por ter apenas uma unidade militar o que facilitaria a sua tomada e para obrigar as forças fiéis ao governo a actuar fora da capital. à chegada houve quem resistisse . Já no quartel-general onde não houve igual firmeza Tomar foi tomada.
Machado Santos saiu de Tomar montado num cavalo branco, com uma força de 400 praças e 11 oficiais, meteu pela serra, sofrendo durante todo o percurso uma enorme tempestade. Chegados a Abrantes sem energia, dirigiram-se ao quartel de infantaria 22 esperando encontrar aí o batalhão de infantaria 21. Mas tal não aconteceu. Pouco depois o comandante de artilharia 8, coronel Abel Hipólito, notificou Machado Santos de que queria parlamentar com ele . Sob a ameaça de o quartel ser bombardeado até à sua derrota caso não houvesse uma rendição completa, sua e de toda a sua gente, Machado Soares, fardado de capitão-de-mar-e-guerra e de grêvas, rendeu-se, sob condição de garantia da sua vida e da dos revoltosos.
Machado Santos foi conduzido com Abel Hipólito para Lisboa. Conduzido ao Arsenal da Marinha foi transportado para o cruzador “Vasco da Gama". Entrevistado pelo jornal A República, o coronel Abel Hipólito relatava 3 dias depois os acontecimentos num artigo também ele censurado.
Diz ele que Machado Soares contava juntar-se a elementos vindos do norte com os quais, depois de se organizar, marcharia sobre Lisboa, apoiado pelas tropas que se houvessem revolucionado.
O movimento de revolta fez-se sentir em Tomar, Figueira da Foz, Abrantes e Castelo Branco.
A verdade é que no auto das perguntas e na declaração que Machado Santos fez ,este assume exclusiva responsabilidade pelo golpe inclusive pela impressão do falso Diário de Governo e outros editais.
Na realidade, o governo aproveitou o conhecimento que tinha do complot para fazer auto-propaganda, para uma acção de repressão alargada com inúmeras prisões, com a declaração de estado de sítio ou com a censura e suspensão de vários jornais. os jornais monárquicos Diário Nacional, Dia, e ainda o Liberal, a Vanguarda e os Ridículos. Aprova-se uma lei para sanear os militares e funcionários públicos revoltosos.
Entre os mais de 100 presos contava-se Miguel Bombarda filho, Egas Moniz e Costa Júnior, deputado que constava, tal como outros nomes, sem o seu conhecimento, do elenco governamental anunciado por Machado Santos. Presos também o administrador do jornal A Lucta, fundado por Brito Camacho um dos partidos da União Sagrada à frente do país.
Na câmara dos deputados, Brito Camacho confronta o presidente do governo exigindo que se esclareça se Machado Santos, herói do 5 de Outubro, queria afinal derrubar o governo ou se era acusado de querer derrubar a República - grandes protestos e barulheira geral .
A imprensa, com maiores ou menores lacunas de informação, relatava sobre o incidente:
IP – “Não se trocaram tiros, não se derramou uma gota de sangue, mas nem por isso o país deixou de sofrer um profundo abalo”, fala-se de uma gravíssima conjuntura, de pavorosa crise económica e financeira “ – a história repete-se.
Apesar de várias bombas serem encontradas na cidade de Lisboa no dia a seguir ao golpe os jornais anunciavam sossego, tranquilidade.
A imprensa estrangeira falava em crimes de alta traição e germanofilia por parte de Machado Soares.
Na câmara dos deputados, o presidente do ministério António José de Almeida prestava “homenagem calorosa à dignidade do exército português” que defendera o bom nome da Pátria, apesar de estarem alguns militares envolvidos na revolta. Apesar de os monárquicos afirmarem que “nunca entrariam em movimentos revolucionários”, os republicanos temiam que “sobre as ruínas da República, hábeis e cobardes manejadores pretendessem erguer um trono”.
Brito Camacho confronta o presidente do governo exigindo que se esclareça se Machado Santos, herói do 5 de Outubro, queria afinal derrubar o governo ou se era acusado de querer derrubar a República. Protestando que sem ele Machado Santos não haveria sequer República. Segue-se sessão animada, com grandes protestos e barulheira geral …
Os detidos de maior categoria seguiram para bordo dos navios de guerra, os restantes para o governo civil.
Na realidade, a relação de detidos que consta no Arquivo Histórico Militar dá conta de 316 detidos, dos quais – mais de 40% eram militares.
Ver relatório
Fonte: Arquivo Histórico Militar
Preso no Forte de S. João da Barra, Machado Santos officer e gentleman revolucionário descreve as condições.
“Sem canalização de água, nem de esgotos”, “a mobília: de pinho e casquinha; cobertores de soldado, coberta de cabo de esquadra, louça de refugo da mais ordinária faiança.” Em tempos de crise, não havendo géneros alimentares em abundância, a comida tem de ser encomendada de Oeiras.
Machado Santos assume toda a culpa pelo golpe, mas insiste em defender o direito de não permitir que se apouque a sua graduação militar e categoria social, apelando para a Majoria General.
Mais tarde apoiará Sidónio Pais – 5 anos depois da Revolta de Tomar o herói da Rotunda será assassinado…