Assim falava Ana de Castro Osório, no Congresso Nacional de Livre Pensamento em 1908.
Colecção particular Professor António Ventura
Com a declaração do estado de guerra em Março de 1916, as mulheres monárquicas e republicanas mobilizaram-se para dar apoio material e moral aos combatentes e suas famílias.
O feminismo da época prescindiu parcialmente da sua vertente pacifista e viu na guerra uma oportunidade de as mulheres mostrarem o seu valor.
Apoiadas pelo governo republicano, as mulheres provaram que eram capazes de muito mais do que tricotar...
Reivindicava-se a igualdade de direitos – afirmava-se a vontade de intervir nos acontecimentos. Foi no associativismo que o feminismo melhor se expressou.
O Mundo - Biblioteca Nacional de Portugal
Menos de duas semanas após a declaração de guerra a Portugal, o laicismo expressou-se em forma de "cruzada" – a Cruzada das Mulheres Portuguesas – herdeira do movimento Pró Pátria. Não confundir com a "Assistência das Portuguesas às Vítimas da Guerra", uma associação também inteiramente feminina, mas ligada à aristocracia monárquica e ao catolicismo.
Ilustração Portuguesa - Hemeroteca de Lisboa
Presidida por Elzira Dantas Machado, mulher do presidente Bernardino Machado, contando também com suas filhas e outras familiares de políticos e militares notáveis, a Cruzada aglutinou quase uma centena de mulheres da elite republicana.
Ana de Castro Osório ocupou-se da comissão de propaganda e organização do trabalho.
Via na guerra uma oportunidade para as mulheres mostrarem o seu valor, as suas capacidades de organizar a vida familiar e social, de intervir na economia, e de participar politicamente no destino do país. O exemplo vinha de fora: chegavam notícias dos países que estavam em guerra, onde as mulheres garantiam o trabalho masculino.
Não se tratava, pois, apenas de tricotar agasalhos para os combatentes ou de angariar fundos:
Ilustração Portuguesa - Hemeroteca de Lisboa
A Cruzada das Mulheres Portuguesas criou dezenas de subcomissões locais, de norte a sul do país, e internacionais. Em 1916, a Cruzada das Mulheres Portuguesas organizou o Instituto Clínico , em Campolide - que se destinava-se à convalescença dos feridos de guerra - as enfermeiras da cruzada exerceram mais tarde nos hospitais de Belém e da Estrela, no Instituto de Reeducação dos Mutilados de Guerra em Arroios, sob a presidência de Ester Norton de Matos mulher do Ministro da Guerra, e no Hospital de Recuperáveis de Hendaye nos Pirenéus franceses.
Biblioteca Nacional do Porto
Ilustração Portuguesa - Hemeroteca de Lisboa
A Cruzada prestou assistência aos militares mobilizados, às mulheres dos mesmos, mesmo àquelas que apenas viviam em união de facto, e aos filhos dos combatentes. Criou escolas profissionais, creches e orfanatos, mas antes disso faltava ainda angariar fundos: uma das iniciativas mais badaladas à época foi a recolha de donativos com a Festa da Flor realizada em 1916, por iniciativa do jornal O Século e em que participaram monárquicas e republicanas. Organizaram-se quermesses, houve festivais, saraus artísticos, houve récitas e lotarias.
Ilustração Portuguesa - Hemeroteca de Lisboa
E vai haver muitos Postais da Grande Guerra dedicados ao papel da mulher há 100 anos e a quem escreveu a sua história.