XXII Congresso do PCP. PS recorda geringonça, BE pede convergência e PSD minimiza

por Carlos Santos Neves - RTP
“É muito importante que não se confundam os alvos”, apelou o socialista João Torres Rui Minderico - Lusa

No cair do pano sobre os trabalhos do XXII Congresso do PCP, este domingo, em Almada, a delegação do PS quis apelar aos comunistas para que não gastem “energia e tempo” a fazer dos socialistas um alvo. Bloco de Esquerda e Partido Ecologista “Os Verdes” apelaram, por seu turno, à união contra a direita. E o PSD ensaiou uma reprovação de “críticas por tudo e por nada”.

Em declarações aos jornalistas em Almada, o deputado socialista João Torres recordou o que separa PS e PCP, desde logo em capítulos como a guerra na Ucrânia. O agora maior partido da oposição, sublinhou, condenou “desde a primeira hora a invasão pela Federação Russa, algo que o PCP não fez”.

Em seguida, porém, recuou aos dias da geringonça, quando foi “possível convergir em matérias fundamentalmente de força social, num momento importante para o país”, sem deixar de tornar “muito claras as divergências”.

Nas palavras de João Torres, é “muito importante que a esquerda esteja unida no combate a este Governo, que é um Governo sem credibilidade e não responde às necessidades das portuguesas e dos portugueses”. Para então arguir que, quando o PCP ataca o PS, está a “perder a sua energia e o seu tempo num contexto que não tem sido ascendente”.

É muito importante que não se confundam os alvos. Nós no Partido Socialista nunca confundimos os alvos e espero que o Partido Comunista Português também, de agora em diante, não os confunda”.PSD, PS, BE, Livre e PEV fizeram-se representar no encerramento do XXII Congresso do PCP. Chega, IL e CDS-PP não receberam convite.


Em convergência nas avaliações do Congresso comunista estiveram Bloco de Esquerda e PEV. O primeiro enunciou mesmo a ideia de “espaços comuns de luta” em matéria de direito ao trabalho, habitação e defesa de serviços públicos.

“Temos que encontrar as forças, os caminhos, a capacidade de convergência necessária para derrotar essas políticas e procurar criar alternativas que verdadeiramente empurrem o país para um desígnio de progresso, desenvolvimento e justiça social”, sustentou o dirigente bloquista Luís Fazenda, referindo-se às opções do Governo de Luís Montenegro.

Já a dirigente do Partido Ecologista “Os Verdes” Dulce Arrojado deixou elogios à análise avançada pelos comunistas relativamente à situação do país.

“Houve um grande apelo à paz que partilhamos enquanto partido pacifista”, observou a representante do PEV. “Está no nosso ADN, no nosso programa”
, acentuou, referindo-se, depois, ao compromisso com as justiças social e ambiental.
“Por tudo e por nada”
O vice-presidente do PSD Carlos Coelho avaliou como “relativamente normal” a tomada de posição dos comunistas contra as políticas do Executivo da Aliança Democrática. Mas advertiu, em seguida, contra um modelo de oposição que critica “por tudo e por nada”.
“Espera-se de um partido da oposição que seja crítico. Numa democracia estabilizada isso é positivo, porque os governos que sabem ouvir também ouvem críticas e devem tirar consequências”, enfatizou o dirigente laranja.

“Agora, os partidos da oposição, quando fazem críticas à esquerda e à direita por tudo e por nada, correm o risco de serem mais ouvidos com a perspetiva de que estão a cumprir um papel do que por estarem realmente focados em objetivos”, acrescentou.
Américo Aguiar em Almada. "Fazemos caminho"

Também o bispo de Setúbal, Américo Aguiar, marcou presença no encerramento do Congresso do PCP. Questionado pelos sobre jornalistas se receia ficar conhecido como "bispo vermelho", à semelhança de Manuel Martins, bispo de Setúbal nos anos de 1980, o cardeal desvalorizou.

"Estou aqui, hoje, como amanhã poderei estar no congresso do Chega, do PSD, do PS, do Bloco de Esquerda, da Iniciativa Liberal ou do PAN. Acho que não esqueci nenhum", retorquiu, esquecendo-se de referir o Livre, enquanto partido com representação na Assembleia da República.

Na perspetiva de Américo Aguiar, a Igreja deve acompanhar "tudo aquilo que signifique proximidade em relação aos problemas reais das pessoas, das famílias e dos trabalhadores, independentemente do partido".
"Estamos juntos e fazemos caminho. O que é importante é que todos os partidos tenham uma linguagem que se aproxime dos verdadeiros problemas de cada português", defendeu.

A proximidade é, ainda de acordo com Américo Aguiar, fundamental para que não haja "queixas de notícias falsas ou de desvios ideológicos, situações que possam acontecer por as pessoas não entenderem aquilo que é a mensagem que os partidos têm para transmitir".

"Precisamos que os jovens se empenhem e se disponibilizem para a cidadania, também na vida dos partidos, de todos os partidos", exortou.

c/ Lusa
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