Frequentou o curso de comunicação no ISLA – Vila Nova de Gaia. Casado, tem uma filha, Catarina, de 23 anos, que afirma ser o seu “semáforo”. É o sexto de oito irmãos. Apesar de ser um homem de muitos ofícios, é como calceteiro que se define, profissão que exerce na Câmara do Porto.
“Gosto de me definir como um tatuador de chãos”, afirma.
“O Porto é o meu chão, trato-o por tu. Conheço as ruas e muitas pedras do Porto e posso dizer que nunca vi duas pedras iguais”, afirmou em maio de 2016 ao portal da Câmara do Porto.
É filho de um cordoeiro, que morreu quando Vitorino Silva tinha nove anos, e de uma agricultora e vendedora de ovos.
Tem como hobbies “o cinema, a escrita e a leitura”.
“Mesmo quando estou na valeta, tiro o melhor da valeta”, é a frase com que se define.O percurso político
Um discurso no XI Congresso Nacional do Partido Socialista, em fevereiro de 1999, em que pôs os militantes a rir e terminou com um abraço ao então secretário-geral António Guterres, lançou Vitorino Silva para a ribalta. Tinha 27 anos.
Depois de revelar que o irmão considerava que o “Tino é a única pessoa capaz de por a nossa terra [Rans] no mapa”.
Para de seguida acrescentar: “Eu naquela altura ria-me e dizia: Necas, por amor de Deus. O que eu quero é beber uns copos, dar uns chutos numa bola”.
Na sequência do episódio, tornou-se uma figura mediática e no ano seguinte publicou um livro autobiográfico, prefaciado pelo Bispo D. Manuel Martins.
O mediatismo levou-o a participar em dois reality-shows da TVI, em 2005 e 2013.
Desfiliou-se do PS e nas autárquicas de 2009 concorre como independente à Câmara de Valongo, município onde já residia desde meados da década de 1990, não sendo eleito.
Em dezembro de 2015 formalizou a sua candidatura às eleições presidenciais de 2016, tendo conseguido 152 mil votos, 3,82 por cento dos eleitores que foram às urnas.
Vitorino Silva volta a concorrer nas eleições autárquicas de 2017, desta vez à Câmara de Penafiel com o apoio do movimento “Penafiel é Top”, conseguindo apenas 152 mil votos, 3,28 por cento dos eleitores votantes.
Dois anos depois, lança o partido RIR (Reagir, Incluir e Reciclar) e candidata-se a primeiro-ministro nas eleições legislativas de 6 de outubro de 2019. O partido obteve votos em 275 dos 308 concelhos do país, chegando aos 2104 com 5,56 por cento do total.
“Combater os populismos”
Esta é a segunda vez que Tino de Rans entra na corrida ao Palácio de Belém e desta vez conta com o apoio do RIR. Vitorino Silva confirmou a 8 de setembro que era candidato e apresentou a candidatura na Feira do Livro do Porto, nos jardins do Palácio de Cristal.
Quando questionado sobre o motivo que o levava a voltar a candidatar-se a Belém, respondeu que o objetivo é “combater os populismos”. Se for eleito, considera que, “mais importante do que ser o Comandante Supremo das Forças Armadas, é ser o comandante supremo das forças desarmadas”.
“Do povo que sempre pagou a fatura e que nunca recebeu nenhuma comenda nestes nove séculos de história do nosso país”, acrescenta.
No dia em que confirmou que se recandidatava afirmou: “A minha candidatura é muito forte, feita por gente simples onde a qualidade impera”.
Sobre o desfecho da eleição, o candidato apoiado pelo RIR avançou com uma convicção: “Não sei se vou ter muitos ou poucos votos, mas de uma coisa tenho a certeza, vão ter de me pôr nas sondagens, nos debates depois de há cinco anos me terem chamado de candidato provisório, o outro?”.
O calceteiro de Rans anunciou que não abandona os portugueses que lhe deram o voto em 2016.
“Aquela gente acreditou em mim para Presidente da República há cinco anos. Andei pelo terreno e já são muitos mais. A minha candidatura tinha que acontecer porque eu não abandono os meus eleitores”, acrescentou.
Para o candidato, a “democracia está em risco” e “é necessário defendê-la”.
Tino de Rans afirmou ainda que “está cada vez mais preparado para ser Presidente da República, porque está sempre no meio do povo”.
Na ocasião, criticou a data das eleições devido à pandemia de Covid-19, sublinhando que as baixas temperaturas podem constituir um motivo de menos afluência por parte dos mais idosos e defendeu o adiamento da ida às urnas para a primavera.
“Toda a gente sabe que em janeiro o frio é de rachar e as eleições estão marcadas para essa altura, sendo que nessa altura podemos ter a pandemia de Covid-19 e a epidemia de gripe e não podemos permitir que os idosos possam faltar ao voto por estarem enfraquecidos ou com medo”, frisou.
Tino de Rans defendeu ainda “que a opinião pública devia exigir que as eleições não sejam em janeiro”.
“Já participei em muitas mesas eleitorais e nas mesas dos idosos a afluência era de 80 por cento e na dos jovens votam 150 a 200 em cada mil. Se em janeiro continuar a haver a pandemia, os filhos não irão levar os pais a votar e corre-se o risco de na eleição presidencial votar apenas 20 ou 25 por cento do eleitorado”.
Na apresentação da candidatura - que decorreu poucos dias depois da Festa do Avante!, cuja realização levantou muitas críticas devido à pandemia, Vitorino Silva recordou que “em janeiro vão votar oito milhões de portugueses, sendo que 35 por cento são idosos”.
Quando questionado pela Lusa se tinha lido a Constituição, Vitorino Silva advertiu que esta “não é eterna e pode ser mudada pelos políticos, assim haja bom senso e responsabilidade”.
“Março ou abril, na primavera, seria mais fácil para os idosos votarem, pois se insistirem em votar em janeiro vão retirar-lhes um dos poucos direitos que têm e, então, será uma vergonha”, realçou. Sétima campanha eleitoral
Tino de Rans recorda que Marcelo Rebelo de Sousa chegou à Presidência a “falar de livros, 15 anos a falar de livros”.
“Eu vou começar a minha candidatura a falar de livros. Que é a grande razão desta candidatura. Que é o A...corda p’ra vida, a história de alguém que fica para trás. E este para trás significa o povo. O povo está sempre a ficar para trás”, frisou na altura.
A... corda p’ra vida é a “história de um dos oito filhos de um cordoeiro a quem foi dito que acordasse para a vida”.
Esta é a sétima campanha eleitoral em que Vitorino da Silva entra e tem a esperança de ir a uma segunda volta.
Numa eleição que considera “atípica”, Vitorino Silva não quer “só ir à Liga Europa, mas também à Champions”.
Tino de Rans garante que vai fazer uma campanha “original, um a um. A rua é o meu gabinete”. Mais de nove mil assinaturas
Formalizou a candidatura a 23 de dezembro com a entrega de nove mil assinaturas no Palácio Ratton. E sublinhou que o processo de recolha das assinaturas foi “muito duro”, por causa da pandemia, e teve lugar em feiras e estabelecimentos comerciais, nomeadamente junto aos pontos de recolha dos carrinhos de compras aproveitando o facto de haver desinfetante para mãos.
Na altura afirmou: “Sou um cidadão do mundo e quero voltar Portugal para o mundo como virámos há 500 anos”.
Vitorino Silva autointitulou-se “candidato do povo e da Póvoa”: “o povo é a gente e a Póvoa é a terra, Portugal não tem nove dias nem nove meses, tem nove séculos e tem muito futuro”.
Para a campanha eleitoral conta com um orçamento de 16 mil euros.
“O meu orçamento é de 16 mil euros, mas só dez mil em dinheiro. Tudo o resto é em géneros porque vou usar o meu carrito, vou dormir em casa de amigos, nalgumas zonas do país, mas vai ser tudo apontado e contadinho, quilómetro a quilómetro, refeição a refeição”.
Marcelo “apalhaçou” a função presidencial
Na entrevista à RTP de 31 de dezembro, Vitorino Silva não poupou críticas a Marcelo Rebelo de Sousa.
“Há uma coisa de que eu tenho a certeza. O nosso Presidente houve uma altura do mandato que teve o povo mimoso e outra vez abandalhou um bocadinho. Apalhaçou a função do Presidente da República”, acusou.
“Eu não vejo o Marcelo quando não há fogos. Ele aparece logo quando há fogos. Que tem necessidade de aparecer. Mas há alturas em que aparece demais. E o povo começou a perceber que às vezes aparece demais. Muitas vezes falou demais. Outras vezes era preciso que ele falasse e esteve calado”, acrescentou.
Para Vitorino Silva, “o grande adversário de Marcelo é o próprio Marcelo”.
E acusou o atual Presidente da República de ser “muito forte com os fracos e muito fraco com os fortes”.
Sobre a relação entre Macelo Rebelo de Sousa e o atual Governo, Tino de Rans frisa que “houve embalanço a mais”.
“Ele andou a embalar o Costa e o Costa a embalá-lo. Acho que houve embalanço a mais (…) O Marcelo sabia que ia ser candidato novamente e precisava dos votos do Partido Socialista. Só que o Costa foi muito inteligente, muito perspicaz e percebeu que o melhor para o Partido Socialista era dar liberdade de voto”, frisou.
Segundo o candidato, a “primeira razão” pela qual se recandidata é “não deixar o sistema ir a votos sozinho”.
Vitorino Silva apontou a segunda volta como meta da candidatura e rejeitou a possibilidade de entrar nesta segunda corrida a Belém em busca de protagonismo para entrar no Parlamento.
“O meu grande objetivo é que haja a segunda volta. E se houver a segunda volta eu sei que vão votar em mim. Eu fui presidente da Junta com 21 anos. E não foi fácil ser presidente da junta. Mas também não é impossível ser Presidente da República. É um direito que eu tenho. Estou a exercê-lo. E sinto o apoio de muita gente”.
E recordou um momento passado no programa Big Brother, em que afirmou a outro concorrente que “a fama é o caminho mais rápido para a desilusão”.
“Se há pessoa que se está marimbando para a fama sou eu. Eu não estou aqui pela fama”, acrescentou.
Vitorino Silva lamentou que ainda que, numa fase inicial, tenha sido excluído do planeamento das entrevistas e debates da comunicação social, salientando que nas presidenciais de há cinco anos “teve mais votos que a Iniciativa Liberal e o Chega juntos” e criticou que o boletim de voto vá ter um candidato, Eduardo Baptista, que não completou o processo.
“Eu sem me queixar estou habituado desde pequenino a nunca pedir esmola. Porque que pede esmola perde a dignidade”, frisou. Para acrescentar de seguida “eu sou fora do sistema, estou aqui porque o povo está a acordar”.
“Apartaram um candidato do povo. Um candidato que andou tipo formiga a arranjar assinaturas”.
“Sou fora do sistema, porque incomodo. Eu tive 152 mil votos nas últimas eleições. Tive mais votos há cinco anos que a Iniciativa Liberal e o Chega juntos”.
“Eu tive um partido político e a comunicação social nunca apareceu”, acusou.
Na entrevista a João Adelino Faria, voltou a afirmar que é o representante do povo porque “está próximo”.
“Eu não apareço só em tempo de eleições. Há muitos políticos que estão lá em cima nos gabinetes do 11.º andar, saem pelo elevador, entram no carro e as pessoas não os veem. E só aparecem ao povo tipo ave de rapina em tempo de votos”.
Vitorino Silva criticou também o papel desempenhado pelo Governo no combate à Covid-19.
“O Governo não tem gerido muito bem esta situação”. E acrescenta que “Costa devia ter ido à região do Vale do Sousa, a zona vermelha”.
“Eu acho que o Governo tem de estar na linha da frente para dar ânimo”.
Sobre a denominada geringonça, Vitorino Silva é perentório: “Se fosse uma coisa boa, de certeza que eles não se divorciavam. E neste momento eles estão divorciados”.
“O PS está muito longe do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda”, realçou.
Questionado se admitiria vetar um Orçamento do Estado, o antigo militante do PS respondeu afirmativamente, caso “visse que o dinheiro ia para os grandes e não chegasse ao povo”.
“O Orçamento devia pensar primeiro nos peixinhos. Nos que mais sofrem. Naquele povo que nunca recebeu uma comenda. É muito fácil arranjar milhões para os bancos, para a TAP. E é muito difícil arranjar migalhas para o povo”.
Para o candidato, “o povo que sempre pagou a fava também merece ser condecorado”.
“Também falta fiscalização, há gente que tem apoio e não merece”, afirmou.
Sobre a bazuca europeia, os fundos europeus previstos para responder à crise provocada pela pandemia, Tino de Rans diz não acreditar “que esses milhões venham de borla” e não gostar de ver Portugal “a pedir esmola”.
“Não há almoços grátis. As pessoas dizem que vem de borla, mas depois vamos a ver e o povo está sempre a pagar e cada vez mais”.
Já em relação à TAP Vitorino Silva frisa que “Portugal tem bons gestores. Mas quando estão à frente de empresas do Estado parece que não assim tão bons”. “E depois são muito bons a arranjar buracos”.
“A TAP é serviço público”.
Segundo Tino, “se não se fizesse o aeroporto novo havia dinheiro para salvar a TAP. Devíamos começar por aí”.