O primeiro-ministro considerou esta segunda-feira que seria “desrespeitador da autonomia própria do Ministério Público (MP)” estar a fazer considerações sobre se a investigação ao assalto aos paióis de Tancos estava a andar depressa ou devagar e reafirma a confiança no MP. É a reação do primeiro-ministro às críticas lançadas por Rui Rio, que este domingo defendeu que o país tem de exigir ao MP que rapidamente faça a "acusação correta", dizendo que Governo e Ministério Público se mostram incapazes de dar respostas ao país. António Costa garantiu ainda que o que competia ao Governo fazer, “está feito”.
Questionado sobre as palavras de Rui Rio durante o fim de semana sobre o assalto de Tancos, António Costa considerou não haver qualquer razão para que “não haja confiança” no trabalho que o Ministério Público está a fazer na investigação do caso, considerando mesmo que seria “desrespeitador” estar a fazer considerações sobre o andamento do processo ou se o MP poderia fazer mais do que está a fazer.
António Costa garantiu que o que competia ao Governo fazer no caso de Tancos “está feito”, nomeadamente na garantia de que o caso não configurava uma ameaça à segurança nacional. "Nas 48 horas imediatamente seguintes foi possível reunir a Unidade de Combate ao Terrorismo e a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna deu garantias de que não havia qualquer risco para a segurança interna do país", respondeu o primeiro-ministro. António Costa argumentou ainda que foi feito um “trabalho de fundo” de recolocação do material militar que estava em Tancos em novas instalações com maior segurança.
As palavras de António Costa surgem depois do ministro da Defesa já se ter insurgido contra Rui Rio.
"O Governo fez o que lhe cabia e era seu dever, respondeu de forma célere e competente ao furto de Tancos e restabeleceu as condições de segurança do material militar à guarda das Forças Armadas, nomeadamente através da recolocação noutros paióis mais modernos, num tempo recorde, de mais de mil toneladas daquele material", escreveu.
Na resposta a Rui Rio, escrita em oito pontos, o ministro argumentou que "é mau quando, para se fazer a oposição a qualquer preço, se confundem estes factos básicos, que se resumem...ao princípio da separação de poderes", lembrando que a investigação cabe ao Ministério Público.
"Se até aqui já é mau, é ainda pior, é péssimo quando, para se tentar ir "fazendo" oposição, se atacam ferozmente as Forças Armadas e, como no caso, o Exército, não se hesitando em tentar a todo o custo a sua partidarização", acusou o ministro da Defesa.
Azeredo Lopes sustentou que "fazer chacota com as Forças Armadas ou com as suas chefias quebra um consenso de décadas" na democracia portuguesa e "fere instituições que tanto fizeram e fazem por Portugal".
As palavras surgem em resposta a Rui Rio, que este domingo defendeu que o país tem de exigir ao Ministério Público que rapidamente faça a "acusação correta" no caso do furto de material de guerra em Tancos, considerando o Governo "incapaz de dar mais respostas".
Na sua intervenção no encerramento da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, Rui Rio utilizou a ironia para descrever o roubo de material de guerra e recorreu mesmo a um célebre 'sketch' humorístico do falecido ator Raul Solnado sobre a ida à guerra para descrever a situação: "Os gatunos chegaram à guerra e estava fechada, aproveitaram para levar o que levaram", gracejou.
O ministro da Defesa vai esta quarta-feira ao parlamento prestar mais esclarecimentos sobre o caso de Tancos, furto que foi divulgado pelo Exército em junho do ano passado.