O Presidente do PSD anunciou esta segunda-feira a recandidatura à liderança do partido e confirmou ainda que pretende assumir o líder parlamentar dos social-democratas até ao Congresso, a realizar no início de fevereiro. Rui Rio diz que a sua candidatura pretende evitar "uma grave fragmentação de consequências imprevisíveis" para o futuro do PSD.
O anúncio foi feito ao final da tarde, no Porto, mais de duas semanas depois das eleições
legislativas de 6 de outubro, em que os social-democratas obtiveram
27,7% dos votos, contra 36,3% do PS.
"O que está em jogo é demasiado importante para que a minha decisão possa ser outra. Estou pois disponível para disputar as próximas eleições internas, liderar a oposição ao Governo do Partido Socialista e conduzir o PSD nas próximas eleições autárquicas", afirmou o presidente do partido.
Na noite eleitoral, Rui Rio tinha anunciado que ia avaliar com "calma e ponderação" o seu futuro político. Agora, o líder social-democrata salienta que esta decisão teve em conta a vida pessoal e profissional, mas também "inúmeros apelos ao longo das últimas semanas me foram a feitos por largas dezenas de pessoas, de dentro e de fora do partido".
Rui Rio mostra disponibilidade para disputar as eleições internas considerando que a sua não recandidatura poderia levar o partido "a uma grave fragmentação, de consequências imprevisíveis para o seu futuro", e sublinhando que isso mesmo aconteceu "com outros grandes partidos europeus".
"O PSD precisa de uma liderança que defenda a social-democracia e mantenha o partido no centro político, não permitindo que ele se transforme numa força partidária ideologicamente vazia ou de perfil iminentemente liberal", acrescentou.
O líder social-democrata lembrou ainda o resultado eleitoral como um fator de responsabilidade acrescida: “Os quase 28 por cento de votos nas recentes eleições legislativas significam que um milhão e meio de portugueses confiaram no PSD com esta liderança e não com a de quem tudo tem feito para a destruir”.
"Estou pois disponível para lutar contra todas as adversidades inerentes ao exercício do cargo de líder da oposição, que é dos mais difíceis de executar numa democracia representativa. Não estou, no entanto, disponível, para voltar a enfrentar deslealdades e permanentes boicotes internos nos moldes em que o tive de fazer ininterruptamente desde a minha tomada de posse", assinalou o presidente do PSD.
Críticas aos adversários
Sem referir especificamente o nome de Luís Montenegro, Rui Rio lembrou o "lamentável golpe de janeiro passado, quando alguns procuraram fazer no PSD o que se fez no PS em 2014, e que esses mesmos, à data, tanto criticaram". Uma referência ao desafio à liderança do PSD por parte do antigo líder da bancada parlamentar, que agora volta a candidatar-se contra Rui Rio em eleições diretas.
A 9 de outubro, três dias depois das eleições, Montenegro anunciou que será candidato à presidência do PSD nas próximas diretas. Já na semana passada, Miguel Pinto Luz, antigo líder da distrital de Lisboa, anunciou que vai estar também na corrida.
Sobre as duas candidaturas adversárias, Rui Rio resume: "Ser primeiro-ministro de Portugal implica uma grande experiência política e profissional, características pessoais muito especificas e, acima de tudo, uma enorme disponibilidade pessoal para o exercício de tão exigente tarefa. Não deve por isso esta função ser desempenhada por quem obstinadamente a deseja, nem por quem liminarmente a recusa. O primeiro, porque arredado na sua vaidade e ambição pessoal, nem sequer percebe a dimensão daquilo a que se propõe. O segundo, porque não teria a força anímica necessária para tão grande responsabilidade".
"Num partido democrático e civilizado o que de todos se exige é que depois das eleições internas, que seja leal e se respeite a vontade maioritária dos militantes. As regras dos democratas são estas, não são as da vaidade, da ambição, do interesse pessoal. O nosso objetivo comum tem de ser o de derrotar o PS e não o de derrotar o próprio PSD", acrescentou.
Rui Rio respondeu diretamente às críticas de Miguel Relvas: "Quando diz que eu não gosto do partido (...) o que afirma não é verdade, eu gosto muito do PPD, a que aderi há mais de 40 anos, e do PSD, que nestes mesmos quarenta anos tanto fez por Portugal. Mas Miguel Relvas em parte tem razão porque efetivamente eu muitas vezes não gosto mesmo nada do que vejo nos partidos políticos, incluindo o meu".
Poupou, no entanto, visar diretamente a antiga ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que foi apontada por Aníbal Cavaco Silva como uma das potenciais alternativas à liderança dos sociais-democratas, e que entretanto já declarou apoio a Luís Montenegro nas eleições diretas que se avizinham.
Questionado pelos jornalistas sobre se gostaria de receber o apoio de Maria Luís Albuquerque, Rui Rio disse que não pretender particularizar a situação. "Há pessoas que eu gostava que não me apoiassem, porque é bom que não me apoiem. Relativamente à doutora Maria Luís Albuquerque, não tenho essa posição, ela é livre e apoia quem muito bem entender".
Líder parlamentar até ao Congresso
Rui Rio confirmou ainda que será o líder do grupo parlamentar do PSD. "No que concerne à liderança do novo grupo parlamentar do PSD, é meu entendimento, em coerência com o que sempre defendi, que ela deverá estar em consonância com o Presidente do partido entretanto eleito", explicou.
"Irei assumir eu próprio a liderança da bancada de modo a que o novo líder parlamentar seja apenas escolhido em definitivo após a realização do próximo Congresso Nacional", disse Rui Rio, destacando que esta é "uma situação de exceção" que advém da proximidade desse mesmo congresso.
Depois desse momento, Rio promete marcar presença na Assembleia da República "fundamentalmente nos grandes debates nacionais". Ainda antes da campanha para as eleições, o presidente do PSD tinha admitido que não tinha "particular entusiasmo em ser deputado".
"Se é certo que em situações pontuais de particular relevância o líder da oposição poderá aproveitar o plenário da Assembleia para marcar de forma mais clara a sua posição, também não é menos certo que não é a ele que compete alimentar o quotidiano parlamentar", argumentou.
Rui Rio disse candidatar-se com "total desprendimento" e tranquilidade em caso de vitória ou de derrota "por ter cumprido o meu dever para com o partido, para com o país e com a minha própria consciência".
Sobre o posicionamento dos social-democratas no Parlamento enquanto for líder da bancada, Rui Rio destaca que os próximos meses serão marcados pelo debate do programa de Governo e pela apresentação do Orçamento do Estado. E quanto ao estilo de oposição na Assembleia da República, assegurou: "Há quem esteja na política em permanente campanha eleitoral, não é nada o meu género".
O presidente do PSD confirmou ainda que as eleições diretas do partido vão acontecer em janeiro e o Congresso em fevereiro. As datas específicas só ficam definidas no Conselho Nacional, a 8 de novembro.