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PSD. Rio e Montenegro disputam inédita segunda volta com polémica sobre lugares na reta final

por RTP
Lusa

O presidente do PSD, Rui Rio, e o antigo líder parlamentar Luís Montenegro voltam a ir a votos no sábado em eleições diretas para escolher o próximo líder, numa inédita segunda volta em que o tom da campanha endureceu.

Na primeira volta, Rui Rio foi o candidato mais votado com 49,02% dos votos expressos, seguido do antigo líder parlamentar do PSD, que obteve 41,42% do total. O vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais Miguel Pinto Luz ficou em terceiro, com 9,55%, e fora da segunda volta.
Nesta última semana, as 'transferências' dos apoiantes de Pinto Luz para os dois candidatos mais votados e as acusações mútuas de troca de apoios por lugares marcaram a campanha.

Os antigos secretários-gerais do PSD Miguel Relvas e Matos Rosa, o antigo vice-presidente Marco António Costa, os líderes das distritais de Lisboa e de Setúbal, Ângelo Pereira e Bruno Vitorino, o vice-presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, o deputado e presidente da distrital da JSD de Lisboa, Alexandre Poço, ou o presidente da concelhia do Porto, Hugo Neto, foram alguns ex-apoiantes do autarca de Cascais que anunciaram o seu voto em Montenegro na segunda volta.No total do país, Rio teve mais 2.409 votos que Montenegro, mas os dois candidatos menos votados somaram, em conjunto, mais 621 votos do que o atual presidente.

Os deputados Carlos Silva e Sandra Pereira, que apoiaram Miguel Pinto Luz na primeira volta, também declararam apoio a Luís Montenegro.

Em sentido contrário, o ex-ministro Mira Amaral, o cientista Carvalho Rodrigues e os deputados Ana Miguel Santos e Nuno Carvalho (que foram cabeças de lista nas últimas legislativas em Aveiro e Setúbal, respetivamente) passaram do apoio a Pinto Luz para a declaração de voto no atual presidente e recandidato, Rui Rio.

Mas o que 'aqueceu' esta semana extra de campanha foram as trocas de acusações de que as candidaturas andariam a oferecer lugares em troca de apoios e votos, negadas por ambos e sem nomes em cima da mesa.

No discurso da madrugada eleitoral de domingo, Rio disse que todos os seus votos tinham sido "por convicção" e assegurou que não tinha oferecido nem iria oferecer quaisquer lugares, no que foi lido por Montenegro como uma insinuação sobre a sua candidatura.

Dois dias depois, o antigo líder parlamentar fez questão de negar "solenemente" tal prática e devolver a acusação à direção de Rui Rio, mas sem apontar nomes.

"Eu acho de todo impossível que isso esteja a acontecer sendo que eu ouço histórias do lado de lá ao contrário, até ouço histórias esquisitas que nem vou aqui dizer", respondeu Rio.

"Eu quero dizer-lhe olhos nos olhos: não aceito lições de seriedade do dr. Rui Rio, ele não é mais sério do que eu", retorquiu Montenegro, dizendo nada ter a oferecer aos apoiantes a não ser "esperança e mudança".

Nesta última semana, os dois candidatos tiveram apenas ações cirúrgicas de campanha
: ambos em Lisboa - que tinha sido ganha pelo candidato que não passou à segunda volta. Rio esteve também em Braga, onde perdeu, e Montenegro, em Santarém, distrito onde saiu derrotado por pouco na primeira volta.

Como últimas mensagens políticas, Rio pediu uma vitória folgada, dizendo temer que se "o resultado for do tipo 51-49" a oposição interna volte "a infernizar vida do líder, a infernizar a direção nacional".

Já Montenegro avisou que no sábado será "a última oportunidade" para os que querem um PSD diferente, afirmando que o atual líder já disse que "deixará tudo na mesma".

A polémica com o PSD-Madeira - todos os votos da primeira volta na Região Autónoma foram considerados nulos pelo Conselho de Jurisdição Nacional (CJN) por discrepâncias com o caderno eleitoral oficial - vai manter-se, tendo a estrutura regional decidido que não vai abrir as sedes para a segunda volta, considerando que isso seria uma "humilhação" para os militantes sociais-democratas do arquipélago.A 'chave' do resultado eleitoral voltará a estar, como habitualmente, nas quatro maiores distritais do PSD: Porto, Lisboa, Braga e Aveiro registam, por esta ordem, o maior número de militantes em condições de votar, centralizando mais de 57% do total.

No passado sábado, Rui Rio ganhou em 13 distritos ou estruturas, incluindo duas das maiores: Porto, Aveiro, Bragança, Guarda, Viana do Castelo, Vila Real, Santarém, Faro, Beja, Portalegre, Évora, Açores e Europa.

Já Luís Montenegro venceu em seis: além da poderosa distrital de Braga, venceu em Leiria, Viseu, Coimbra, Castelo Branco, Lisboa Área Oeste.

Pinto Luz saiu vencedor na Área Metropolitana de Lisboa (com Montenegro em segundo) e em Setúbal, reclamando também vitória na Madeira, mas os votos da Região Autónoma não foram contabilizados.

Já no círculo Fora da Europa os quatro militantes que votaram repartiram-se igualmente por Rio e Montenegro, registando-se um empate.

Para o resultado de sábado, contará também o número de votantes, que no sábado foram 32.082, num universo de 40.604 inscritos, uma taxa de participação de 79%, a mais alta de sempre em percentagem em diretas, apesar de ser a mais baixa em números absolutos de todas as eleições do PSD em que houve disputa.

Em 2018, Rui Rio derrotou Santana Lopes com 54,15% dos votos (22.728).

A eleição direta do presidente por todos os militantes foi introduzida no PSD em 2006 pelo então líder Marques Mendes, mas só em 2012 foi colocada nos estatutos a obrigatoriedade de uma segunda volta sempre que um candidato não obtenha a maioria dos votos.
Rui Rio, o "corredor de fundo"
Rui Rio, que na juventude corria os 100 metros, já se assumiu como um "corredor de fundo" na política, e quer renovar no sábado o mandato como líder do PSD até 2022.

Se o fizer, será apenas o segundo presidente do PSD em exercício a ser reeleito em diretas, já que, até agora, só Pedro Passos Coelho o tinha conseguido (por três vezes, mas sempre sem oposição). Por outro lado, também apenas um líder se tinha recandidatado e perdido em diretas, Marques Mendes, em 2007 contra Luís Filipe Menezes.

Apesar de já ter confessado que, por vezes, se sente como um "extraterrestre" na política portuguesa ou o "político do Norte que não percebe nada disto", a principal mensagem de Rio ao longo dos últimos dois anos em que comandou os sociais-democratas foi a defesa de consensos alargados entre os partidos em nome do interesse nacional.

Há dois anos, chegou a presidente do PSD com a imagem de economista austero que cultivou ao longo de 12 anos à frente da Câmara Municipal do Porto e o primeiro mandato foi marcado pela tensão interna, com o partido a vencer apenas uma das três eleições que disputou, as regionais da Madeira.Depois das eleições legislativas de 6 de outubro, em que o PSD obteve 27,7% dos votos (correspondentes a 79 deputados), contra 36,3% do PS (108 deputados) - Rio manteve um 'tabu' de duas semanas sobre a recandidatura, mas acabou por avançar por considerar que poderia ser "útil ao país".

Por várias vezes, Rio salientou que só voltou a assumir um cargo de protagonismo na vida política para o PSD poder contribuir para as reformas que entende serem essenciais ao país, apontando quatro exemplos: sistema político, segurança social, descentralização e justiça.

Há dois anos, Rio apresentou-se aos militantes prometendo "um banho de ética" na política e, na noite da vitória, avisou que o PSD "não foi fundado para ser um clube de amigos".

No plano interno, a direção de Rio contou no primeiro mandato com duas baixas: o seu primeiro secretário-geral, Feliciano Barreiras Duarte, demitiu-se apenas um mês depois de eleito, na sequência de notícias relacionadas com irregularidades na sua licenciatura e dúvidas sobre subsídios que recebia enquanto deputado.

A segunda foi a demissão do vice-presidente Manuel Castro Almeida, em julho passado, por divergências políticas e com acusações de "centralismo" ao atual presidente.

Depois de ter prometido "uma oposição firme, mas não demagógica" ao Governo, Rui Rio assinou em abril de 2018 dois acordos com o executivo: um sobre os princípios gerais do processo de descentralização e outro em que PSD e o executivo concordam que Portugal não poderia perder fundos no próximo quadro comunitário.

Perante críticas internas de que o partido estaria a ser "uma muleta do Governo", Rio contrapôs que quando os entendimentos "são bons para o país, são bons para o PSD".

Nos últimos meses, fruto das campanhas eleitorais para o país e para o partido, Rio mostrou uma faceta mais descontraída, dançando em Santarém e tocando bombo e bateria num arraial minhoto, e até foi ao programa de entretenimento das manhãs da SIC.

Apesar de não ter cozinhado, Rio fez uma corrida numa pista de carrinhos com a apresentadora Cristina Ferreira e revelou a sua preocupação com a saúde e com a escolha dos suplementos nutricionais: "Tomo muitas vezes magnésio, vitamina B3, quando estou em Lisboa tomo zinco, quando estou no Porto tomo selénio", detalhou.Nascido no Porto a 6 de agosto de 1957, 62 anos, Rui Rio ganhou visibilidade como presidente da Câmara Municipal do Porto durante três mandatos, entre 2001 e 2013, mas o percurso político do militante do PSD já tinha começado bastante antes, na Juventude Social Democrata.

Rio foi vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do PSD, quando era presidente do partido o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Nesse período, o social-democrata travou algumas guerras internas devido ao processo de refiliação de militantes que levou a cabo, gerando muitos anticorpos no aparelho do partido -- chegou a propor colocar um relógio de ponto na sede do partido para controlar as entradas dos funcionários.

Marcelo Rebelo de Sousa foi mantendo Rio no cargo, mas este acabaria por sair pelo seu próprio pé, depois das autárquicas de 1997, em divergência com o presidente do partido.

O ex-autarca do Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005, com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e mais tarde, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite.

Estudou no Colégio Alemão e licenciou-se em Economia pela Universidade do Porto - tendo sido eleito pela primeira vez presidente da Associação de Estudantes da faculdade em 1981 -, e manteve sempre um percurso profissional como economista, tendo chegado à Assembleia da República em 1991, onde foi deputado durante dez anos.

Depois das últimas legislativas, regressou ao parlamento como deputado em outubro passado - apesar de ter confessado que a função não o entusiasma - e até assumiu a liderança parlamentar até ao próximo Congresso, devido ao período de disputa interna do PSD.

Adepto do Boavista e praticante de vários desportos na juventude, opôs-se enquanto deputado ao chamado 'totonegócio', que previa que parte das receitas do totobola fossem entregues aos clubes de futebol, e foi um rosto quase isolado na sua bancada a favor da interrupção voluntária da gravidez.

Casado e com uma filha, Rio sempre teve uma vida pessoal recatada, marcada na infância pela morte do irmão. Agnóstico, tem como 'hobbies' as corridas de automóveis, a astronomia e a bateria, instrumento que tocava quando integrou uma banda na sua juventude.
Montenegro, o desafiador que quer suceder a Rio
Luís Montenegro, que se notabilizou como rosto do 'passismo' no parlamento nos anos da 'troika', quer no sábado chegar a líder do PSD e destronar Rui Rio após dois anos de um mandato em que simbolizou a oposição interna.

Se conseguir vencer a segunda volta, no próximo sábado, Montenegro estará, desta vez, fora da Assembleia da República e terá de lidar com um grupo parlamentar escolhido pelo seu antecessor - tal como aconteceu a Rio -, mas já garantiu que contará com os 79 deputados do PSD. Como metas eleitorais, Luís Montenegro apontou à vitória nas autárquicas de 2021 e nas duas próximas eleições legislativas, ambicionando até a maioria absoluta.

O antigo líder parlamentar do PSD entre 2011 e 2017 - o presidente de bancada mais duradouro entre os sociais-democratas - chegou a ponderar uma candidatura à liderança do partido há dois anos, quando Pedro Passos Coelho anunciou que se não se recandidataria na sequência do mau resultado nas autárquicas, mas acabou por concluir que não estavam reunidas as condições para avançar "por razões pessoais e políticas".

Mas logo em fevereiro de 2018, no Congresso de aclamação de Rio, Montenegro deixou um aviso de que poderia vir a disputar-lhe o lugar: "Conhecem a minha convicção e a minha determinação, se for preciso estar cá, eu cá estarei, para o que der e vier (...) Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem que não vou pedir licença a ninguém".

Tal como anunciou nesse Congresso, Luís Montenegro deixaria o parlamento em abril de 2018, 16 anos depois de tomar posse como deputado, e foi expressando pontualmente as suas divergências com a direção de Rui Rio.

Em outubro de 2018, ajudou a 'travar' a realização de um congresso extraordinário, promovido por André Ventura - que, entretanto, abandonou o PSD e fundou o Chega - mas a tensão interna abaria por 'explodir' em janeiro.

Em 11 de janeiro, Luís Montenegro desafiou Rui Rio a convocar eleições antecipadas no PSD, dizendo que não se resignava "a um PSD pequeno, perdedor, irrelevante, sem importância política e relevância estratégica".

O presidente do PSD não aceitou o repto para marcar diretas um ano antes do previsto, mas levou a votos uma moção de confiança à sua direção, que foi aprovada em Conselho Nacional com 60% dos votos.

Na sequência dessa derrota, Montenegro defendeu que o seu desafio de clarificação "acordou um gigante adormecido" que é o PSD, e prometeu reserva pública nos meses seguintes quanto às divergências em relação a Rui Rio, e que cumpriu até às legislativas, anunciando três dias depois que seria candidato à liderança.

Depois do Conselho Nacional de janeiro, terminou as suas colaborações regulares com órgãos de comunicação social e, segundo noticiou o Expresso, frequentou no verão um programa de gestão avançada para executivos e líderes do Instituto Europeu para Administração de Empresas em França.Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 46 anos, e advogado de profissão, destacou-se como deputado - sempre eleito por Aveiro - e, sobretudo, como líder parlamentar do PSD.

Assumiu o cargo já após a vitória de Pedro Passos Coelho nas legislativas, em junho de 2011, e foi, com Nuno Magalhães, então líder parlamentar do CDS-PP, a dupla de defesa, na frente parlamentar, da coligação de direita durante os anos da intervenção externa da 'troika' em Portugal.

Vem desse período - em janeiro de 2014 - a frase polémica de que "a vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor", que lhe viria a merecer muitas críticas.

Montenegro estreou-se no parlamento aos 29 anos, em 2002, quando Durão Barroso era presidente do PSD e primeiro-ministro, depois de ter iniciado uma carreira política que começou na JSD e passou pela Câmara Municipal de Espinho, onde foi vereador.

Nas autárquicas de 2005, candidatou-se a presidente do município, mas foi derrotado por José Mota, do PS.

Nas disputas internas no PSD, Luís Montenegro foi tendo opções diferentes: nas diretas de 2007, entre Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, foi mandatário distrital do ex-autarca de Gaia; um ano depois, assumiu o lugar de porta-voz da candidatura à liderança de Pedro Santana Lopes, contra Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho; já em 2010 apoiou Passos Coelho, contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco; nas últimas, em 2018, apoiou Santana Lopes contra Rui Rio já na reta final da campanha interna.

Montenegro foi apoiante da candidatura do atual Presidente da República, e Marcelo Rebelo de Sousa já retribuiu quando lhe entregou, no início do seu mandato, a medalha de ouro de Espinho: na ocasião, elogiou as suas "qualidades invulgares" e vaticinou-lhe "muitos sucessos políticos" ainda ao longo do seu mandato em Belém, que só termina em 2021.

A sua alegada pertença à mesma loja maçónica do ex-diretor dos serviços de informação Jorge Silva Carvalho - na atual campanha interno negou alguma vez ter pertencido à maçonaria - e as faltas parlamentares para assistir a jogos do FC Porto, clube do qual é adepto, e da seleção nacional foram algumas das polémicas que viveu na Assembleia da República.

Em junho do ano passado, Luís Montenegro viria a ser constituído arguido - a par dos então deputados Hugo Soares e Luís Campos Ferreira - pelo alegado crime de recebimento indevido de vantagem no caso das viagens do Euro 2016, tendo negado então a prática de qualquer crime e garantido que essas viagens foram pagas a expensas próprias, num processo ainda em investigação.

Na campanha interna, foi, tal como o seu adversário Rui Rio, ao programa das manhãs da SIC, onde contou à apresentadora Cristina Ferreira que a sua alcunha de infância era 'Ervilha' - por ser "redondinho" e ter olhos verdes - e no qual fez um dueto com Tony Carreira a cantar o "Sonhos de Menino", garantindo que liderar o PSD não estava entre eles.

c/Lusa
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