Política
Entre Políticos
PS está "preocupado" com postura da ministra da Saúde: "Vai empurrando com a barriga"
O Partido Socialista está cada vez "mais preocupado" com a forma como a ministra Ana Paula Martins tem feito promessas na tentativa de dar resposta aos problemas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e considera que a governante tem optado por um caminho de "desresponsabilização".
Gonçalo Costa Martins - Antena 1
Para a coordenadora dos socialistas na comissão parlamentar de saúde, nem mesmo o anúncio de que vai ser criada uma urgência regional de obstetrícia para a Península de Setúbal pode tranquilizar os utentes.
"Eu sou otimista por natureza, mas, o que o histórico da ministra nos diz é que começamos a perder alguma confiança nos anúncios que vai fazendo", aponta, na Antena1, a deputada do PS, que considera que, mesmo depois de várias horas a responder aos deputados, Ana Paula Martins não foi clara sobre as soluções: "Anunciou a urgência metropolitana, mas não percebemos como a vai operacionalizar". Susana Correia insiste ainda que, já em agosto, foi feita uma nova promessa: "Há um despacho de 21 de agosto que diz que 30 dias depois já teríamos a apresentação de uma rede de referenciação das urgências. E não será só na margem sul, nós também temos sentido muitas dificuldades, por exemplo, na zona centro".
A socialista aponta ainda falta de respostas por parte do Diretor Executivo do Serviço Nacional de Saúde, Álvaro Almeida, e defende o caminho seguido, no passado, pelo primeiro CEO do SNS, Fernando Araújo.
"[Os profissionais] Sentem uma grande diferença. Neste momento, há uma ausência de presença para articulação e cooperação. Na primeira equipa da Direção Executiva isso não se sentiu", diz.
Ex-bastonário Miguel Guimarães elogia "caminho certo" de Ana Paula MartinsApesar das dificuldades sentidas pela ministra da Saúde - que afirmou, inclusive, que foi "enganada" sobre uma solução para as urgências de obstetrícia e ginecologia na Península de Setúbal -, Miguel Guimarães, deputado do PSD, deixa elogios à forma como Ana Paula Martins tem respondido às críticas e considera "certo" o modelo apresentado perante os deputados.
No parlamento, a ministra anunciou que o Governo vai criar a curto prazo uma urgência regional de obstetrícia em que o Hospital Garcia de Orta, em Almada, irá funcionar em permanência e o Hospital de Setúbal irá receber casos referenciados pelo SNS 24 e o INEM.
"Acho que é o caminho que nós temos que seguir. Tivemos vários problemas no serviço de urgência há uns anos atrás e, no norte do país - e concretamente na área metropolitana do Porto -, conseguiu-se aumentar a eficiência dos serviços de urgência. Nos períodos de menor afluência, ou seja, no período noturno entre as 20h e as 8h - e, eventualmente, nos casos em que se aplicava, aos sábados e aos domingos - havia concentração de serviços de urgência. No resto, os serviços estavam naturalmente abertos entre as 8h e as 20h", detalha, em declarações à Antena 1, o ex-bastonário da Ordem dos Médicos. Para o deputado social-democrata, replicar o modelo encontrado para o Grande Porto é, portanto, o "caminho mais saudável" para dar resposta aos atuais problemas, até porque, defende Miguel Guimarães, não está disponível o número de médicos suficientes para manter as urgências abertas durante 24 horas.
"Temos de ter um modelo mais eficiente, que, aliás, é bom para o sistema. Neste modelo que acontece no norte do país, os médicos acabam a fazer menos urgências do que faziam anteriormente para assegurar 24 horas em cada hospital e, portanto, acho que é o modelo correto".
Livre desconfia da "capacidade" da ministra para resolver problemasA reformulação do modelo de urgências de obstetrícia e ginecologia na margem sul do Tejo também levanta muitas dúvidas ao Livre, que não vê em Ana Paula Martins as capacidades necessárias para responder aos problemas com eficácia.
"Acho que não devemos ficar nada descansados [com o anúncio], sobretudo, porque a mostra uma incapacidade da ministra de resolver problemas", aponta o deputado Paulo Muacho, que sublinha: "Antes do verão comprometeu-se. Disse-nos que estava resolvido e que tínhamos a solução para as urgências em Almada. (...) Aquilo que nós vimos foi o sistema todo a colapsar e que, afinal, não era verdade nenhuma que tivesse contratado uma equipa".
O deputado e coordenador do grupo parlamentar do Livre na comissão de saúde considera ainda que Ana Paula Martins não explicou aos deputados o que motivou as dificuldades do Governo em contratar profissionais, o que levou a governante a dizer-se "enganada" sobre uma solução para o caso.
"Explicou que houve algumas pessoas que teriam tido problemas pessoais, que havia outras que ainda estariam em reflexão e que havia outras que, afinal, tinham primeiro dito que sim e depois dito que não. A verdade é que a solução não estava fechada e ela foi-nos apresentada como estando fechada", lamenta. O deputado do Livre, que também aponta o problema da falta de médicos, considera ainda "grave" que a ministra da Saúde preste declarações ao país em que afirma ter sido "enganada" quanto a uma solução para a região de Setúbal: "Alguém lhe prometeu que esta solução ia resolver tudo. E enganou-a, mas também não nos diz quem é que enganou".
PCP critica anúncio de Ana Paula Martins: "A concretizar-se, não vamos ter mais médicos"Para além do Livre, também o PCP, por Bernardino Soares, assinala que um dos grandes problemas é a falta de médicos obstetras, e acusa a ministra da Saúde de se limitar a fazer remendos nos problemas que o SNS enfrenta.
"Eu acho que a ministra está a cumprir o seu plano. O plano do Governo é deixar colapsar serviços para justificar medidas drásticas, como é o caso desta, do encerramento de duas urgências, que é, na prática, o que vai acontecer na Península de Setúbal", afirmou no programa Entre Políticos, o coordenador do PCP para a área da saúde.
Segundo o ex-líder parlamentar comunista, a concretizar-se o plano do Executivo, não haverá mais médicos ao serviço do SNS nesta região do país: "Tendencialmente, fará sair mais médicos de algum dos outros serviços. A diferença será a concentração de médicos, mas eles não vão transitar todos para o Hospital Garcia de Orta, não vão aceitar todos. Isto vai ser um incentivo a alguns saírem. E não há nenhuma comparação com a urgência metropolitana do Porto". Bernardino Soares aponta ainda um "profundo desrespeito" pelos médicos e por outros profissionais ao longo dos anos, o que tem, entende o dirigente comunista, levado a um caminho negativo para o SNS.
"Não é só desta ministra e deste Governo. O que é que nós temos que fazer? Não é encerrar serviços, é criar melhores condições no Serviço Nacional de Saúde para os médicos e outros profissionais não quererem sair. Porque é que não temos o internato médico de especialidade como o primeiro grau da carreira médica? Daria um incentivo para que os internos continuassem no Serviço Nacional de Saúde", afirma.
Programa moderado por João Alexandre.