PS 1986-1992. A difícil campanha para as presidenciais e a oposição a Cavaco

por por Sandra Machado Soares, Pedro Zambujo, Pedro de Góis, Miguel Teixeira - RTP

O Partido Socialista, depois da longa liderança de Mário Soares, enfrenta uma difícil campanha para as presidenciais e com Vítor Constâncio e Jorge Sampaio a terem mandatos difíceis como líderes de oposição a Cavaco Silva, sem conseguirem chegar ao poder.

1986 a 92Em 1985, o primeiro-ministro Mário Soares, a cara da austeridade dos últimos anos, anuncia que é candidato a Belém. "Digo-vos sim!".

Para as legislativas, o PS escolhe Almeida Santos. O nome é anunciado por José Manuel dos Santos. A batalha é difícil para o PS - enfrenta o PSD, com a cara nova de Cavaco Silva, e o PRD, impulsionado pelo popular Ramalho Eanes.
José Manuel dos Santos | Foto: Pedro Góis - RTP

O resultado é um desastre. Com apenas 21% dos votos, o PS tem o seu pior resultado de sempre. O PRD rouba muito eleitorado socialista, Cavaco vence sem maioria.

Soares e o PS estão na maior crise das suas vidas. As sondagens para as presidenciais são impiedosas - e surge ainda um improvável rival à esquerda. Salgado Zenha é candidato, apoiado por comunistas e pelo PRD. Desvinculou-se do PS, que tinha fundado.

A tensão à esquerda marca toda a campanha. É a única vez que há uma segunda volta nas presidenciais - à primeira, Freitas do Amaral vence destacado. Soares fica muito distante, e precisa dos votos de quem jurou nunca votar nele.

Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP, teve de vir a público. "Que não leiam o nome de Soares, que não olhem para o seu retrato, mas que marquem a cruz no quadrado que está à frente desse retrato". Nessa segunda volta, os comunistas engolem um sapo.

Mário Soares acaba por ser eleito Presidente da República. "Não serei o presidente de um partido, nem da maioria que me elegeu. Serei o presidente de todos os portugueses", afirma Soares.

Mário Soares, o único líder que os socialistas conheceram, entra no Palácio de Belém e sai do Largo do Rato.

Na batalha da sucessão, Jaime Gama é o rosto dos Soaristas, e Vítor Constâncio o da nova geração do PS. Em 1986, o partido escolhe o jovem Constâncio.

A palavra-chave é tentar - até porque a conjunta é difícil.

Logo em 1987, uma moção de censura faz cair o governo de Cavaco, e o PS apresenta a Soares uma espécie de geringonça, com o partido de Eanes e os comunistas. Mas Soares critica a postura socialista, e dissolve o parlamento.

"Foram-me sugeridas algumas hipóteses de solução, e essas hipóteses, além de não terem sido concretizadas, comportariam muito provavelmente o risco da instabilidade"
, refere o PR.

As eleições dão a maioria absoluta do PSD, a primeira de um só partido. A derrota do PS não abala a liderança de Constâncio. Para fora, o partido mostra-se mais unido do que nunca, mas por dentro, Constâncio sente falta de solidariedade.

"Há muitos apoiantes e poucos defensores, há quem aparentemente só pense em reservar-se para o futuro. Pois bem, o partido fica a saber que não aceito ser tratado como líder de transição. Prefiro sair já", diz Constâncio.

Mas na sucessão, volta a avançar um nome do ex-secretariado. Jorge Sampaio enfrenta o repetente Jaime Gama. A batalha é tensa e barulhenta - vence Sampaio, que só tinha aderido ao partido no final dos anos 70.

Nas eleições europeias, o PS perde por pouco e anima-se. Mas nas autárquicas, Sampaio tem as mesmas dificuldades que Constâncio para encontrar nomes para avançar. Para Lisboa, surpreende todos e é ele próprio candidato. "E o candidato do PS naturalmente sou eu próprio", diz o secretário-geral.

A candidatura abre o caminho a uma das primeiras alianças de esquerda – o PCP está numa lista conjunta com o PS, para derrotar Marcelo Rebelo de Sousa. Mas é a união de forças da esquerda que vence, e Sampaio junta o cargo de presidente da câmara ao de secretário-geral do PS.

Da vida interna do PS, o fundador quer distanciamento - até porque o Presidente da República é por esta altura cada vez mais popular. Corre o país nas presidências abertas, com banhos de multidão.

As críticas à maioria de Cavaco são pouco pronunciadas - sinal disso é o apoio do PSD à recandidatura, ao lado do PS.

As presidenciais são um passeio - Soares vence com 70% dos votos, um recorde eleitoral que ainda não foi batido.

Com os destinos da capital nas mãos, Sampaio esforça-se por não largar o país. Apresenta uma moção de censura, e até segue animado até à campanha das legislativas. Mas rapidamente se percebe que o PSD não deixa escapar a vitória. Pior - a maioria absoluta de Cavaco sai reforçada.

"Não estou aqui para vos esconder a minha deceção pessoal, pois esperava bastante mais", diz Sampaio.

No dia seguinte, Guterres diz-se "em choque" com o resultado. E abre caminho a mais um duelo dentro do PS.
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