Professores ponderam greve perante expectativa de chumbo

por RTP
A Fenprof assinalou uma "vitória moral" mesmo que a contabilização integral seja chumbada José Sena Goulão - Lusa

Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, avançou esta sexta-feira à RTP que, caso a Assembleia da República rejeite, como se espera, as alterações ao decreto do Governo que previam a devolução de todo o tempo de serviço congelado aos professores, estes poderão avançar para uma greve. Mas afiança que “nenhum aluno do país será prejudicado”. Já a Federação Nacional de Educação (FNE) considera que a reivindicação dos professores se deve aplicar a todas as carreiras.

Se as previsões se cumprirem e as alterações ao decreto do executivo forem chumbadas pelos votos do PS, PSD e CDS-PP, registando apenas os votos favoráveis do BE, PCP e PEV, a Fenprof admite avançar com medidas que poderão passar por uma nova greve ou “por um envolvimento na campanha (eleitoral) que agora aí vem”.

“Iremos pensar e ler exatamente o que foi aprovado, iremos reunir os nossos sindicatos da Fenprof segunda e terça-feira, na quarta-feira iremos reunir as dez organizações sindicais de professores e à tarde, pelas 18h30, anunciaremos o que faremos, com uma certeza, que é (…) que só é vencido quem deixa de lutar”, sublinhou Mário Nogueira.

O dirigente da Federação Nacional dos Professores assume, porém, o compromisso de que “nenhum aluno deste país será prejudicado pelas malfeitorias que o Governo de António Costa está a fazer aos professores”.

Mário Nogueira, que na semana passada tinha considerado como uma “vitória” a aprovação, na especialidade, de uma alteração ao decreto do Governo que poderia levar à recuperação total do tempo de serviço pelos professores, continua agora a sentir que os professores ganharam muito por terem mostrado à sociedade portuguesa “a injustiça, a desigualdade e a descriminação de que estão a ser alvo”.

Refere ainda uma “vitória moral” pois, “ainda que hoje na Assembleia da República não fique consagrada a contagem integral do tempo de serviço, fica claro que há apenas um partido que quer apagar o tempo de serviço aos professores, que é o Partido Socialista”.
A Fenprof gostaria que hoje “houvesse uma abstenção que viabilizasse a contagem integral”.

Para Mário Nogueira, os restantes partidos “não estão a ter a maleabilidade suficiente para perceberem que, sem abdicarem dos seus princípios (…), poderiam fazer o esforço para fazer prevalecer” o que é essencial para os professores.

O secretário-geral referiu-se ainda aos valores que o Governo tem avançado a nível do impacto financeira da contagem integral como “falsos”, frisando que “cada vez que fala diz um número diferente”. Nogueira acredita que os verdadeiros valores não trariam qualquer desequilíbrio orçamental nem poriam em causa os critérios de Bruxelas.

O líder da Fenprof criticou o Governo ao considerar que o Partido Socialista se encosta tanto à esquerda como à direita, conforme lhe é conveniente, gerando uma “geringonça do oportunismo”.
Igualdade entre classes profissionais
João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional de Educação (FNE), garantiu esta sexta-feira à RTP que se, mais uma vez, não for concedida aos professores a contagem integral do tempo de serviço, estes continuarão na luta com o próximo Governo.

“Não é nesta legislatura, será na próxima legislatura. Uma coisa é certa, os professores não baixarão os braços”, assegurou.

O secretário-geral da FNE confessou ainda ter expectativas relativamente à votação de hoje. “Temos sempre expectativas porque entendemos que dentro dos próprios partidos deve ter havido debates” que possam levar a uma aprovação da contagem integral, admitiu.

Caso as alterações sejam chumbadas, “quem fica prejudicado no meio disto tudo são os professores que, tendo a verificação de que todos acham que têm razão, a razão que têm não é confirmada através de um ato prático (…) que resolva este problema de uma vez por todas”, considerou.

Quanto à questão da desigualdade entre classes profissionais caso apenas o tempo de serviço dos professores fosse descongelado, Dias da Silva começou por considerar que esta não se coloca pois “os professores são os trabalhadores da administração pública que ainda não viram contabilizado o tempo que esteve congelado”.

Acabou por referir, porém, “um grupo de outras carreiras especiais que ainda não viram esse tempo considerado”. Essas carreiras “têm de ter o mesmo direito que os professores”, defendeu.

“Nós entendemos que a nossa reivindicação é para os professores e é para todas as restantes carreiras que ainda não viram este tempo, mas a contabilização orçamental que tem sido feita tem sido excessiva”, acrescentou.
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