Depois de as lideranças de PSD e CDS-PP terem entreaberto a porta à rejeição do diploma da contagem do tempo de serviço dos professores, em votação final global, António Costa instou na última noite os dois partidos à direita do PS a emendarem “o erro que cometeram”. O primeiro-ministro classificou de “contranatura” a “aliança” que levou à aprovação em sede de comissão.
Segundo Costa, se as lideranças de social-democratas e democratas-cristãos se “arrependeram” das posições assumidas na semana passada, “têm bom remédio”. Ou seja, deixar cair uma proposta que, insistiu o primeiro-ministro, “põe em causa” quer as contas públicas, quer a “credibilidade” externa do país.
“Agora não queiram enganar nem os portugueses, nem os professores, porque virem agora falar de travões e condicionantes é confessarem aquilo que verdadeiramente era o seu projeto, uma mão cheia de nada para os professores e uma enorme conta calada para todos os portugueses terem de pagar”, acentuou, dois dias depois de ter ameaçado demitir-se, em caso de aprovação do diploma em votação final global.
Luís Vigário, Teresa Marques, Ismael Marcos, José Rui Rodrigues - RTP
“O PSD e o CDS começaram por dizer que nós mentíamos, que não era verdade, que não havia impacto orçamental, que não havia custos para ninguém, que só havia benefícios para a carreira dos professores, como se alguém pudesse acreditar que ao mesmo tempo era possível dar a uns sem que os outros pagassem. Obviamente quem mentia não éramos nós”, prosseguiu.
Só os socialistas votaram contra, na noite de quinta-feira, em sede de especialidade, uma alteração ao decreto do Governo a reconhecer aos professores a recuperação de nove anos, quatro meses e dois dias de tempo de serviço congelado para efeitos de progressões nas carreiras.
“Contranatura”
Na perspetiva ontem advogada pelo chefe do Executivo, foi “contranatura” a “aliança” formada no Parlamento para a aprovação do diploma em causa.
“É um momento particularmente grave, porque a bomba orçamental que criaram implicaria entre este ano e o próximo aumentar a despesa em 340 milhões de euros e, no futuro, aumentar de forma certa, permanente em cada ano, a despesa em mais 800 milhões de euros”, afirmou António Costa.
O projeto, reiterou, “põe em causa a governabilidade do presente e condiciona de forma inadmissível a governação do futuro”.
“Não, nós não podemos aceitar, nós somos o garante da confiança dos portugueses no compromisso de romper com a austeridade com contas certas, nós somos o garante para os portugueses da credibilidade internacional de Portugal”, rematou o governante.
No domingo, o líder do PSD veio acusar António Costa de “ilusionismo eleitoral”, instando ainda os socialistas a votarem a favor das alterações ao diploma dos professores propostas pelo maior partido da oposição.
Rui Rio quis assegurar, ao mesmo tempo, que os social-democratas manterão “coerentemente” a sua posição e que o equilíbrio orçamental será “condição inegociável”.
Por sua vez, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, afirmou que o partido manterá o descongelamento integral da carreira docente, mas mediante aprovação de condições de sustentabilidade.
“O primeiro-ministro criou uma crise política com base numa falsidade, com base em algo que nunca existiu, que foram votações que aparentemente, na perspetiva do primeiro-ministro, oneravam o Orçamento do Estado futuro, e isso nunca aconteceu”, propugnou Cristas em declarações à RTP.
O PCP acusou, por sua vez, a direita de ter cedido ao “ultimato do Governo”.
“As declarações de Rui Rio e Assunção Cristas confirmam que o PSD e o CDS se moveram não pelo objetivo de dar resposta ao direito de contagem do tempo de serviço dos trabalhadores das carreiras especiais da Administração Pública, mas sim por meros critérios de calculismo”, reagiu em comunicado o partido de Jerónimo de Sousa.
A coordenadora do Bloco de Esquerda criticou o primeiro-ministro por, nas suas palavras, ter colocado “em causa a estabilidade” quando a pré-campanha para as europeias estava “a correr mal”.
“O apelo que eu faço ao Partido Socialista é tão simples quanto sensato: mantenhamos o acordo, não temos de votar com a direita, mantenhamos o acordo, mantenhamos a forma de respeitar todos os trabalhadores de uma forma gradual, como já tínhamos decidido, como já tínhamos votado em conjunto [no Orçamento do Estado]”, exortou Catarina Martins.
“Não se aliem à direita, que é oportunista, que quis sempre cortar salários a toda a gente, no público e no privado, e agora faz umas piruetas a fazer de conta que defende professores”, apelou a dirigente bloquista.
c/ Lusa
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