Primeiro-ministro belga apresenta demissão

por Graça Andrade Ramos - RTP
Alexander De Croo apresentou a demissão após os resultados das eleições europeias James Arthur Gekiere/Belga - AFP

Na segunda grande reviravolta da jornada eleitoral europeia, o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, apresentou este domingo a demissão.

O país votou também em eleições regionais, federais e europeias, na expectativa de ver a extrema-direita ultrapassar a direita tradicional, o que abre a possibilidade de longas negociações para formar um governo.A Bélgica é geralmente considerada um país politicamente ingovernável.

De acordo com os resultados eleitorais, o N-VA, a Nova Aliança Flamenga, um partido político nacionalista de direita da região da Flandres, obteve 24 deputados, tendo perdido um. O partido seguinte mais representando, o Vlaams Belang, igualmente de direita ou extrema-direita, da Flandres, região flamenga da Bélgica, conseguiu 20, mais dois.

O MR, o Partido Liberal Francófono, surgiu em terceiro, com 19 deputados, tendo conseguido mais cinco. Os socialistas do PS, perderam quatro lugares e ficaram com 16. O Vooruit, o Partido Socialista - Diferente, um partido político social-democrata da Flandres, obteve 12 deputados, mais cinco do que anteriormente.

Notavelmente, o Les Engagés, Centro Democrático Humanista, registou a maior subida da noite, com 15 deputados, mais 10 do que antes.

Já o Open VLD, o Partido dos Liberais e Democratas Flamengos, do primeiro-ministro Alexander de Croo, ficou com apenas sete deputados, menos cinco e a nôna representação no parlamento belga.

De Croo reagiu em lágrimas aos resultados eleitorais e felicitou "os vencedores destas eleições, o N-VA, o Vlaams Belang e Vooruit", sem esquecer "os nossos amigos do MR na Bélgica francófona".

"Para nós é uma noite particularmente difícil, perdemos. A partir de amanhã, serei um primeiro-ministro demissionário. Mas os liberais são resistentes, we will be back", prometeu, utilizando em inglês a famosa expressão cinematográfica para afirmar que "regressarão".

Muito emocionado, Alexander De Croo foi aplaudido e aclamado pelos militantes dutrante o seu breve discurso.

Refletindo sobre os maus resultados do partido liberal, que contrastam com os bom desempenho alcançado pelos liberais francófonos em Bruxelas e na Valónia, De Croo admitiu que o desfecho não era o que esperava e que não vai fugir às suas responsabilidades.

"Vou concentrar-me totalmente nos assuntos atuais e preparar tudo para uma boa transmissão ao meu sucessor ou sucessores", declarou.

Ao avaliar os resultados obtidos, De Croo admitiu que para já o seu partido tem "muito mais perguntas do que respostas", mas observou que se trata de uma força "combativa e resiliente".
Quem pode suceder a De Croo

Bart De Wever, burgomestre de Anvers desde 2013 e presidente do N-VA, a Nieuw-Vlaamse Alliantie, surge como o provável sucessor de De Croo. O partido, o maior do país, deverá já esta segunda-feira começar a preparar a próxima equipa governamental, provavelmente resultante de negociações.

Paul Magnette, socialista, de 52 anos, é o grande favorito dos belgas francófonos e lidera o maior partido do sul do país. Burgomestre de Charleroi, várias vezes ministro à escala regional e federal, foi primeiro-ministro da Valónia. Com tal experiência governativa, poderia ser um sucessor de De Croo, mas a Flandres não quer um socialista e De Wever não o quer como primeiro-ministro. 

Magnette também não quer o presidente da N-VA neste cargo.

O presidente dos liberais francófonos, o MR, Georges-Louis Bouchez, tem-se mostrado conciliador com a N-VA e poderá assim ser um compromisso, desde que se avance para uma reforma do Estado. O seu liberalismo pintado de conservadorismo tem vários pontos em comum como a N-VA e poderá tentar a Flandres. 

A coligação com o N-VA é por isso uma probabilidade, se Bouchez conseguir refrear a sua personalidade efervescente.

com Lusa
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