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Perguntas e respostas sobre sondagens

por RTP
Foto: Pedro A. Pina - RTP

Reunimos neste artigo um conjunto de perguntas e respostas sobre os principais conceitos e métodos importantes relacionados com sondagens.

Os dados foram cedidos à RTP pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa. Neste conjunto de perguntas e respostas, constam alguns termos, expressões e curiosidades que permitem uma leitura mais informada sobre as sondagens.
Definição e conceitos

O que é uma sondagem?
Uma sondagem de opinião, vulgarmente sondagem, é uma forma de conhecer as atitudes ou opiniões de uma população sem ter de inquirir toda a população. A partir duma amostra representativa da população é possível conhecer e quantificar as opiniões presentes numa dada população num determinado momento.

Qual a diferença entre sondagem e inquérito?
Em geral o termo sondagem aplica-se a estudos de opinião feitos para órgãos de comunicação social (OCS) sobre temas da atualidade (por exemplo, sondagens eleitorais) e o termo inquérito é mais utilizado em estudos científicos. A distinção entre os dois termos faz pouco sentido mas, a haver, poderemos aceitar que as sondagens são tipos particulares de inquérito (feitos em menos tempo, incidindo sobre temas da atualidade, e tendo OCS como clientes).

O que é a População?
A população (ou universo) é o grupo de pessoas em análise, o conjunto de todas as unidades suceptíveis de serem observadas /inquiridas. Esta população define-se sempre por referência a um objeto de estudo. Por exemplo, se o objetivo de um estudo for conhecer as opiniões dos portugueses sobre cinema, a população é o conjunto dos portugueses. No entanto, se o objetivo for conhecer as opiniões dos atores de cinema sobre cinema então a população são os atores de cinema.

O que é uma Amostra?
A amostra é o conjunto de unidades que pertencem a uma população que serão efetivamente observadas. No caso de uma sondagem, é o número de indivíduos que foram efetivamente inquiridos. Pretende-se que a amostra seja representativa da população.

O que faz com que uma amostra seja “representativa”? / O que significa “representatividade da amostra”?
A ideia de “representatividade” traduz a forma como a amostra nos diz algo sobre o universo, de forma fidedigna. Existem diversos tipos de amostras, com tipos diferentes de representatividade associados. A “representatividade estatística” é a mais frequentemente referida, e significa que, se respeitadas certas condições, as constatações que fazemos sobre a amostra podem ser generalizadas ao universo, dentro de determinada margem de erro. Para que uma amostra seja estatisticamente representativa, os seus elementos devem ser selecionados de forma aleatória. As amostras aleatórias são probabilísticas. Existem também amostras não-probabilísticas, em que a selecção de elementos segue determinados critérios teóricos definidos pelo investigador. Nestes casos, não é possível tecer generalizações empíricas sobre o universo, a partir dos resultados sobre a amostra. No entanto, estas amostras podem ser mais adequadas em determinados estudos, por exemplo quando não se conhece o universo de referência, ou se desconhecem completamente os contornos da realidade em estudo.

O que é estratificação?
A estratificação de uma amostra significa que as suas unidades serão escolhidas tendo em conta, à partida, a pertença a determinado(s) grupo(s) considerado(s) importante(s) para descrever o universo, tendo em conta aquele estudo em particular. Quando os indivíduos são seleccionados aleatoriamente dentro de cada estrato, temos uma amostra estratificada. Quando não o são, teremos uma amostra por quotas, um tipo de amostra não-probabilística.

O que são ponderadores amostrais?
É normal que uma amostra possa ter alguns desvios face à população conhecida. Poderá, por exemplo, ter mais mulheres, menos jovens, mais pessoas licenciadas do que os dados conhecidos da população indicam. Para corrigir esta informação, ponderam-se os dados aplicando pesos às várias respostas de modo a aproximar a amostra à população.

Como interpretar a taxa de resposta?
Se se lê numa ficha técnica que foram obtidos 801 entrevistas válidas e a taxa de resposta foi de 60%, isto significa que foram contactadas 1335 pessoas (tendo 60% das quais aceitado responder). Quando se lê 801 entrevistas válidas significa que 801 responderam ao questionário do princípio ao fim.
Cobertura e seleção da amostra

Porque é que nem eu nem ninguém que eu conheça alguma vez respondeu a uma sondagem política?
Há cerca de 9,5 milhões de eleitores inscritos nos cadernos eleitorais em Portugal. No entanto, a dimensão média das amostras das sondagens realizadas em Portugal é de 800 eleitores. Isto significa que apenas uma em cada 12000 pessoas é incluída numa sondagem nacional. Ou seja, seriam necessárias 12000 sondagens sem repetição de inquiridos para que todos os eleitores do país fossem inquiridos. Mas tem mesmo a certeza de que não conhece pelo menos uma pessoa que já alguma vez tenha respondido a uma sondagem eleitoral?

O que significa “aleatoriedade da amostra”, ou que uma amostra é “aleatória”?
Significa que todas as unidades que integram o universo de referência terão uma probabilidade semelhante e diferente de zero de serem seleccionados para a amostra. Ou, noutras palavras, terão uma probabilidade semelhante de serem seleccionados para a amostra. Para isso, é necessário ter uma listagem com todas as unidades que compõem o universo, da qual serão extraídas as unidades da amostra. Esta listagem, também conhecida por “base de sondagem”, nem sempre existe, pelo que é necessário encontrar formas de dela nos aproximarmos. Por exemplo, no caso de uma sondagem à população portuguesa, não existem listagens de cidadãos associados a moradas ou telefones. Mas existem dados do recenseamento geral da população que a descrevem em função de variáveis-chave (região, dimensão da localidade, sexo, idade, escolaridade…). São assim utilizadas técnicas de estratificação da população em função destas variáveis. Os participantes são selecionados aleatoriamente dentro de cada estrato. Noutros casos, gera-se aleatoriamente um conjunto de número de telemóvel a contactar.

Como são selecionados os participantes na amostra?
Depende do objeto em análise e dos objetivos do estudo. Por exemplo, no caso de sondagens políticas, idealmente cada cidadão deveria ter a mesma probabilidade de ser escolhido para pertencer à amostra. Este nível de aleatoriedade não é possível pois não existem listagem de cidadãos associados a moradas ou telefones. Por esse motivo, são utilizadas técnicas de estratificação da população em função de variáveis-chave (região, dimensão da localidade, sexo, idade, escolaridade…). Os participantes são selecionados aleatoriamente dentro de cada estrato.
Dimensão da Amostra
Uma amostra maior é sempre melhor do que uma amostra menor?
Em regra sim, mas nem sempre. O fator mais relevante quando se constrói uma amostra para uma sondagem ou inquérito de opinião não é o número de inquiridos mas sim a forma como estes são selecionados. Uma boa amostra é constituída por inquiridos selecionados aleatoriamente e procura possibilitar a todos os membros da população igual probabilidade de ser inquirido. Sendo a seleção dos inquiridos bem feita então uma amostra maior é melhor do que uma amostra menor. Se a seleção estiver a sofrer de um qualquer viés, então uma amostra maior será pior do que uma amostra menor, pois dará uma falsa indicação de precisão e validade da informação.

Como pode uma amostra de 800, 1000 ou 1200 entrevistas refletir verdadeiramente as opiniões de milhões de pessoas?
O modo como os participantes na sondagem são escolhidos é muito mais relevante do que a quantidade de participantes. A quantidade de participantes é particularmente relevante quando se pretende analisar subgrupos amostrais (por exemplo, os homens, os jovens, os votantes no partido A, os residentes na região X). A qualidade da seleção é que determina a qualidade de uma sondagem. Procurar garantir a todos os membros da população igual probabilidade de serem selecionados é o eixo de qualidade que guia a amostragem.
Métodos de inquirição

O que são sondagens telefónicas?
São sondagens feitas por telefone, anteriormente para telefones fixos e agora para móveis. As taxas de resposta deste tipo de sondagens variam muito em Portugal. Algumas empresas apontam para taxas de resposta na ordem dos 30% a 50%, mas outras empresas indicam taxas de resposta superiores.

O que são sondagens porta-a-porta?
São sondagens feitas pessoalmente, em entrevista direta à porta do inquirido. Os inquiridores trabalham em freguesias selecionadas para a sondagem e deslocam-se entre casas segundo um caminho aleatório. De x em x casas, entrevistam um dos residentes selecionado também de forma aleatória. Algumas sondagens porta-a-porta utilizam a simulação de voto em urna. Este método, mais usado em datas próximas de eleições, consiste em dar ao inquirido um boletim de voto semelhante ao que este encontrará nas eleições. Depois de preenchido o boletim, o inquirido é convidado a dobrá-lo e a inseri-lo numa urna, procurando assim mimetizar o que acontecerá uns dias mais tarde nas eleições.

O que são sondagens de boca-de-urna?
São sondagens realizadas no dia das eleições. Os eleitores, depois de votarem e de saírem das suas secções de voto, são convidados a participar na sondagem, sendo-lhes pedido que preencham um boletim de voto semelhante ao que preencheram para as eleições. Depois de preenchido o boletim, o inquirido é convidado a dobrá-lo e a inseri-lo numa urna que o inquiridor transporta consigo. Este método tem vindo a ser substituído por recurso a tablets com simulação do boletim de voto.

O que são sondagens por email?
Por vezes é mais prático, barato e eficiente convidar a amostra de inquiridos a responder através de email. Associado ao convite por email estará um link para um inquérito online. As sondagens por email são especialmente indicadas para estudos em que existe uma base de contactos da população e quando se espera uma boa recetividade da população ao estudo.

“Sondagens” que qualquer um pode responder também são sondagens?
Muitas vezes vemos em programas de televisão ou sites na internet convites para responder a “sondagens” através de um número de telefone ou através de resposta direta num site. Estas “sondagens” não são sondagens pois falham o primeiro pressuposto de qualidade de uma sondagem – a aleatorização na escolha dos participantes. Os participantes destas “sondagens” são pessoas que escolheram participar. São normalmente pessoas muito empenhadas/interessadas no tema em questão. Aliás, em muitos casos até podem responder mais do que uma vez. Em geral, são também pessoas com mais tempo livre. Uma verdadeira sondagem tem como inquiridos pessoas muito interessadas e pouco interessadas, com tempo para responder e sem tempo para responder. Uma verdadeira sondagem seleciona os seus inquiridos e não tem como base inquiridos que escolheram participar.
Sondagens políticas e resultados eleitorais

As sondagens políticas são habitualmente certeiras ou erram com muita frequência?
É sempre preciso lembrar que as sondagens pré-eleitorais procuram quantificar intenções de voto. Apenas as sondagens de boca-de-urna (realizadas no dia das eleições através de entrevistas a votantes) procuram estimar distribuição de votos. Esta diferença entre intenções (atitude) e votos (comportamento) é muito relevante e não deve ser esquecida quando se analisam sondagens. Por vezes as sondagens realizadas antes das eleições apresentam resultados muito diferentes dos resultados eleitorais. Isto não significa que tenham sido mal feitas. Pelo contrário, é mais plausível admitir que tenham sido as intenções de voto a mudar. Habitualmente, sondagens realizadas em datas próximas das eleições costumam indicar resultados muito aproximados aos verificados nas eleições. Mas, como se viu em 2022, nem sempre é assim.

A formulação e a ordem das questões pode influenciar o resultado de uma sondagem?
Sim, podem. Por esse motivo as perguntas e opções de respostas são vistas e revistas, de modo a procurar a neutralidade e a pluralidade de opções, independentemente do seu peso ou representatividade a priori.

Porque é que deverei responder a sondagens?
Algumas centenas de pessoas escrevem e falam nos meios de comunicação social dando a sua opinião sobre o que será melhor para o país em situações concretas da nossa vida coletiva. Esta opinião, que designamos por opinião publicada, é diferente de uma outra, a opinião pública. Esta última é a opinião ou opiniões dos cidadãos sobre determinado assunto. Há várias formas de conhecer a opinião pública. Por exemplo, poderemos confiar nos comentadores, nos jornalistas ou noutros atores com papel relevante na comunicação social, para nos dizerem o que pensam os cidadãos em cada momento sobre cada assunto. Contudo, a opinião destas pessoas sofre muitas vezes do mesmo viés que a opinião de cada um de nós. Como qualquer outra pessoa, também estes atores veem e compreendem o mundo à luz das suas próprias ideias e atitudes. Uma forma não enviesada de conhecer as opiniões acerca de um determinado tema existente na sociedade num momento determinado é através de sondagens, inquéritos ou estudos de opinião. A sua participação é essencial pois uma boa sondagem depende da escolha aleatória dos participantes de modo a garantir que todas as opiniões sobre o tema em análise estão refletidas na amostra na exata proporção em que existem na população. A sua participação é fundamental pois é uma forma de fazer ouvir a sua opinião no espaço mediático da opinião publicada. A sua participação é essencial pois caso não queira participar estará a contribuir para que o seu modo de pensar seja remetido ao silêncio. Ao mesmo tempo, estará a dar a voz a outro/a, cujas opiniões podem ser diferentes das suas e que o/a substituirá. Verbalizar a sua opinião é uma forma indirecta de exercer a sua cidadania.

Porque é que as sondagens apresentam resultados contraditórios com aquilo que eu e as pessoas com quem falo sentimos sobre o mesmo assunto?
Muitas vezes as opiniões dos nossos amigos ou mesmo conhecidos, vizinhos ou colegas de trabalho não são um bom retrato das opiniões presentes no país. Mesmo que se conheça muitas pessoas e se fale com muitas mais, dificilmente alguém terá um grupo de contactos que represente corretamente a diversidade e distribuição das opiniões numa população.
Apresentação e leitura de resultados de sondagens

O que é a margem de erro?
Inquirir uma amostra não é o mesmo que inquirir toda a população. As respostas obtidas ao inquirir uma amostra aleatória não correspondem exatamente ao que existe na população. Ainda assim, é possível garantir, com base na dimensão da amostra e na aleatoriedade da seleção dos participantes, que as respostas realmente existentes na população estarão perto dos valores resultantes da inquirição à população. Quão perto? A margem de erro é a resposta. Entende-se por margem de erro máxima a distância máxima entre um resultado da sondagem e o resultado que seria obtido se tivesse sido possível inquirir toda a população. Essa margem de erro pode ser calculada segundo uma fórmula estatística e depende do número de inquiridos.

Como devo interpretar esse erro?
Imagine que numa sondagem o partido P tem 42% das intenções de voto. Se a margem de erro máxima for de 3%, isso significa que com uma probabilidade elevada (95%) o resultado que obteríamos se fosse possível entrevistar toda a população estaria entre 39% e 45%. Contudo isto não significa que o partido P teria igual probabilidade de ter qualquer um dos valores entre 39% e 45%. Os valores mais próximos do centro (42%) deste intervalo são mais prováveis de corresponder à realidade do que os valores mais próximos dos limites do intervalo (39%; 45%).

Quando o partido A tem mais intenções de voto do que o partido B numa sondagem isso significa que o partido A tem mais intenções de voto do que o partido B na população?
Nem sempre. Imaginemos que na população o Partido A tem 42% das intenções de voto e o partido B tem 39%. Se forem feitas várias sondagens, é normal que umas mostrem o partido A com mais intenções de voto e outras mostrem o partido B com mais intenções de voto. Imaginemos que uma sondagem com margem de erro de 3% mostra o partido A com 44% e o partido B com 37%. Isto significa que, segundo esta sondagem, o partido A terá entre 41% a 47% das intenções de voto (o que é correto) e o partido B entre 34% e 40% (o que também é correto). Mas consideremos também uma outra sondagem, que mostra o partido A com 40% das intenções de voto e o partido B com 41%. Esta sondagem indica que o partido A terá entre 37% e 43% das intenções de voto (o que é verdade) que o partido B terá entre 38% e 44% (o que também é verdade). Portanto, duas sondagens corretas podem dar resultados diferentes, chegando mesmo a inverter a ordem relativa dos partidos. No entanto, se em vez de duas sondagens corretas tivessem sido feitas 10 sondagens corretas, seria de esperar que a maior parte delas indicasse o partido A com mais intenções de voto do que o partido B. Seria também de esperar que a média dos resultados de cada partido indicados nas várias sondagens estivesse próxima da percentagem real de intenções de voto nesse partido.

O que é um empate técnico?
Em períodos pré-eleitorais fala-se e escreve-se muito sobre empates técnicos. Mas o que é um empate técnico? Normalmente diz-se que se está perante uma situação de empate técnico quando há sobreposição dos intervalos de confiança de dois valores (por exemplo, percentagens de intenções de voto em dois partidos). Por exemplo, no caso das sondagens acerca dos partidos A e B descritas na pergunta anterior, a primeira não dá indicação de empate técnico mas a segunda dá. Tomando como exemplo a sondagem 2, o limite superior do partido A é maior do que o limite inferior do partido B, o que não excluí a hipótese de existir na população maior percentagem de intenções de voto no partido A do que no partido B.

Se as sondagens não são instrumentos de medida assim tão precisos, porque é que usam casas decimais?
A CATÓLICA-CESOP divulga desde há vários anos os resultados dos seus estudos em números inteiros. Tomámos esta opção para não transmitir aos nossos clientes e à população em geral uma ideia de precisão que nenhuma sondagem consegue ter.

Nota: Este artigo foi publicado originalmente a 7 de março de 2024.
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