Pedro Nuno Santos atira ónus da crise política para o primeiro-ministro
Em entrevista à RTP, o líder do PS explicou que o partido só decidiu avançar para uma comissão parlamentar de inquérito apenas após o primeiro-ministro, Luís Montenegro, se ter mostrado incapaz de dissipar dúvidas quanto ao caso da sua empresa familiar. O secretário-geral do PS esclareceu a posição dos socialistas no Telejornal, naquela que foi a primeira de uma série de entrevistas da RTP aos líderes dos partidos com assento parlamentar.
"Nós permitimos a investidura do Governo quando votámos contra a moção de rejeição do programa de Governo, permitimos a eleição do presidente da Assembleia da República, viabilizámos o Orçamento do estado e chumbámos duas moções de rejeição".
Pedro Nuno Santos assegurou no entanto que a forma como o PS geriu este processo partiu de uma decisão “consensual”, mas que a opinião de Medina é “respeitável”.
“PS não se imiscui na justiça”
Outro dos temas desta entrevista foi a Operação Marquês, que esta segunda-feira voltou às primeiras páginas com a marcação do início do julgamento. Pedro Nuno Santos recusou-se a fazer comparações entre José Sócrates e Luís Montenegro. “Não me vou pronunciar. (…) As realidades são diferentes e não vou fazer nenhum juízo de comparação”, vincou.
Rejeitou ainda que tenha faltado crítica ao seu partido e insistiu que o PS “já resolveu esse tema”. De resto, advogou que o partido “não tem medo de olhar para o que fez” e destacou, a título de exemplo, que “não correu tudo bem” no último Governo do PS.
Questionado sobre a necessidade de separação entre política e justiça, Pedro Nuno Santos referiu que esse é “um pilar fundamental” e que o PS não se imiscui no trabalho da justiça. Argumentou ainda que uma comissão parlamentar de inquérito é “um instrumento do Parlamento”.
Governar sem maioria de esquerda?
O secretário-geral do PS não se quis alongar nos cenários pós-eleitorais, mas disse que espera reciprocidade por parte do PSD em caso de vitória do PS, mesmo com uma maioria relativa.
“O PSD também governou sem uma maioria de direita”, afirmou perante a possibilidade de haver um resultado eleitoral que não permita formar uma maioria de esquerda.
É essa a atitude que espera por parte da oposição, apesar do deteriorar do discurso entre os líderes. Pedro Nuno Santos garantiu, no entanto, que continua a ter “uma relação institucional” com o primeiro-ministro e recusou-se a ver o combate político ou a exigência de transparência como “um problema”.
Questionado sobre uma eventual vitória da AD nestas eleições, Pedro Nuno Santos foi perentório: “Só trabalho num cenário de vitória”, vincou, insistindo que o PS “tem fortes possibilidades de ganhar estas eleições”.
Uma vez que passou apenas um ano desde a última eleição, Pedro Nuno Santos assume que o PS irá apresentar ao país “uma atualização” desse mesmo programa com “novas propostas.”
“Mas obviamente não vamos deitar ao lixo o programa”, admitiu perante o tempo curto entre eleições que não permitiu os Estados Gerais que pretendia levar a cabo.
Economia, Saúde e Habitação são as prioridades
Pedro Nuno Santos elencou as três áreas prioritárias para o PS neste campanha: economia, saúde e habitação. Em relação à saúde, o líder socialista considera que o processo das cinco parcerias público-privadas anunciadas pelo Governo não foi “implementado”.
Foi apenas “uma fuga para a frente” e um “anúncio panfletário” ainda sem qualquer aplicação e que, por isso, o PS não estaria propriamente a recuar na medida. No entanto, garante que não há no PS “nenhum dogma” com PPP’s.
A nível de Defesa, assumiu o compromisso por parte do PS em atingir os 2 por cento do PIB de gastos em Defesa, sem referir no entanto de onde será retirado o investimento em falta.
Pedro Nuno Santos realça que “não existe nenhuma dificuldade orçamental por cumprir” mas que o investimento em Defesa não pode colocar em causa o Estado Social.
“Temos de conseguir equilibrar e garantir que não há recuos em matéria social”, vincou, destacando a necessidade de um investimento em defesa que beneficie a Economia
Presidenciais. “Não estou à espera de ninguém em particular”
Por fim, sobre as eleições presidenciais que se realizam no próximo ano, Pedro Nuno Santos adiantou: “Continuamos à espera da disponibilidade dos diferentes candidatos da área do PS”.
“Não estou à espera de ninguém em particular”, afiançou, quando questionado sobre a eventual candidatura de António Vitorino.
O líder do PS recusou-se a reconhecer que a atual crise possa beneficiar a candidatura de Gouveia e Melo, visto como um candidato com maior distanciamento dos partidos políticos.
“Não é político a partir do momento em que decide ser candidato à presidência da República?”, rematou o secretário-geral socialista, reiterando ainda que os partidos são essenciais à democracia parlamentar.
Pedro Nuno Santos desdramatizou ainda esta ida a eleições e eventuais culpas que o eleitorado possa atribuir aos políticos pela situação atual. “Ainda bem que vivemos num país que pode resolver uma crise política com eleições”, reiterando que essa é uma conquista do 25 de Abril.