As notícias desta terça-feira sobre as más condições em que está a funcionar o serviço de oncologia pediátrica do Hospital de São João, no Porto, levaram os partidos à esquerda e à direita dos socialistas a exigir explicações do ministro da tutela, Adalberto Campos Fernandes, e de Mário Centeno. O CDS-PP insta mesmo o primeiro-ministro a “pôr na ordem” o ministro das Finanças. Por sua vez, O PS afiança que “está bem encaminhada a solução”.
“Apelo a que o primeiro-ministro ponha na ordem, como pôs o ministro da Cultura, o ministro das Finanças, porque é ele quem manda”, reforçou Nuno Magalhães.
Além de reclamar explicações do Centeno, que vai ser ouvido esta quarta-feira nas comissões parlamentares de Saúde e Finanças, o partido de Assunção Cristas endereçou 14 questões ao ministro da Saúde.Na reação às queixas de pais de crianças doentes publicadas pelo Jornal de Notícias, o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de São João, António Oliveira e Silva, admitiu que as condições do atendimento pediátrico naquele hospital do Porto são “indignas” e “miseráveis”.
“São condições indignas e que indignam qualquer pessoa, mesmo vergonhosas. Matérias muitíssimo graves”, acentuou o dirigente democrata-cristão, que tratou ainda de relembrar o projeto para a construção de uma nova ala pediatria no Hospital de São João, num montante de 22 milhões de euros: ”Há dois anos à espera da assinatura das Finanças”.
Também o PSD prometeu, nas últimas horas, exigir explicações ao Governo, ao que somou um pedido de audição parlamentar da administração do Hospital de São João.
“Hoje somos confrontados com a notícia de que no Hospital de São João, onde o governo anterior tinha iniciado a construção de uma nova ala pediátrica para doentes com doença oncológica, muitas crianças estão a ser tratadas em condições que não são dignas do Serviço Nacional de Saúde, que não são dignas do nosso país”, apontou o deputado do PSD Ricardo Baptista Leite, coordenador do grupo parlamentar laranja na Comissão de Saúde.
A partir dos testemunhos sobre crianças a receberem tratamentos de quimioterapia em corredores, ou transportadas em elevadores com caixotes do lixo, Baptista Leite sublinhou que “o PSD não pode ficar indiferente”.
Mário Centeno, acusou o mesmo deputado, “é de facto o ministro da Saúde em funções, é aquele que está a tomar decisões na saúde, e temos um Ministério da Saúde que está refém quer da extrema-esquerda quer, sobretudo, das decisões do ministro das Finanças que tem uma agenda pessoal e coloca o défice acima da saúde dos portugueses”.
Ao ministro da Saúde, em concreto, os social-democratas exigem saber se foram tomadas medidas “para impedir a ocorrência dessa flagrante violação dos direitos das crianças com doença oncológica”. Questionam ainda Adalberto Campos Fernandes sobre “o atraso na realização das obras necessárias no Centro Hospitalar de São João com vista a permitir a existência de uma nova ala pediátrica naquela unidade hospitalar”.
“Considera o ministro da Saúde que as questões anteriores podem melhor ser respondidas pelo senhor ministro das Finanças?”, remata o partido.
“A opção central”
O retrato denunciado nas páginas do Jornal de Notícias mereceu também reações críticas entre os partidos da maioria parlamentar.
O Bloco de Esquerda decidiu apresentar um projeto de resolução com vista ao imediato descongelamento de 22 milhões de euros para as obras da ala pediátrica do Hospital de São João. Moisés Ferreira considerou inadmissíveis as condições descritas na imprensa.
Sérgio Vicente, Tiago Contreiras, Rosário Salgueiro, Luís Còrte-Real, Rodrigo Lobo, Osvaldo Costa Simões - RTP
O deputado bloquista sustenta que investir no Serviço Nacional de Saúde é mais importante do que fazer "brilharetes" com o défice das contas públicas junto da Comissão Europeia.
O partido promete também confrontar já esta quarta-feira o ministro das Finanças com estes problemas.
Do PCP saiu o anúncio de um requerimento para as audições parlamentares, com caráter de urgência, do ministro da Saúde e da administração do Hospital de São João. Os comunistas, explicou a deputada Carla Cruz, tencionam “focar todas as questões de investimento necessário ao nível de infraestruturas e equipamento no Serviço Nacional de Saúde”.
“Esta situação é a prova de que a opção central não pode ser a redução do défice, mas a recuperação do investimento público e resolver os problemas das pessoas e mostra a sua premência e urgência, depois de quatro anos de governação PSD/CDS em que houve um decréscimo acentuado no investimento público que degradou a resposta pública, quer no SNS, quer na educação”, sustentou.
“Está bem encaminhada a solução”
Pelo PS, o deputado António Sales quis enfatizar que o partido “está muito preocupado” com a situação vivida na pediatria do São João, uma vez que se trata “de crianças com patologia oncológica, mas também de profissionais de saúde que trabalham em condições menos boas”.
“Nos fóruns próprios e junto dos órgãos próprios, o grupo parlamentar do PS fará pressão para que esta situação seja resolvida o mais depressa possível. Sabemos que está bem encaminhada a solução, quer por parte do Ministério da Saúde, quer por parte do Ministério das Finanças”, indicou.
Antena 1
Questionado pelos jornalistas sobre a necessária luz verde para o investimento na unidade pediátrica do hospital, o deputado do PS evitou alargar-se em comentários, insistindo na ideia de que “da parte da Saúde as coisas estão muito bem encaminhadas”.
“Da parte das Finanças não posso ainda fazer essa afirmação. Mas a muito breve trecho tudo também estará resolvido pelas Finanças. Está em causa desbloquearem-se 22 milhões de euros para esta nova ala pediátrica do hospital”, frisou.
“Tenho a garantia que, por parte das Finanças, serão feitos todos os esforços para poder colmatar esta lacuna relativamente ao Hospital de São João”, repetiria, adiante, o deputado, para depois considerar “estranho que a oposição explora agora esta situação, até porque terá provavelmente conhecimento prévio de que está prestes a ser resolvida”.
c/ Lusa