O secretário-geral do PCP antecipou hoje que o novo Governo vai "acentuar tudo o que é negativo" e não vai dar resposta em "questões fundamentais" como os salários, salientando que tem um projeto de "aumento da exploração".
Em declarações aos jornalistas após ter visitado a exposição "Factum", do fotógrafo Eduardo Gageiro, em Lisboa, Paulo Raimundo disse que não tem "expectativa nenhuma" quanto ao XXIV Governo Constitucional, que toma hoje posse.
"O que conhecemos do programa do PSD e do CDS - não precisávamos de mais nada - é mais do que suficiente para antevermos não só que não esperemos nada, como que aquilo que esperamos será tudo mau, será tudo para acentuar o que era negativo", declarou.
Para Raimundo, as opções políticas do novo executivo são "contrárias à exigência de mudança que se expressou nas urnas", e que pedia uma "mudança nos salários, no acesso ao SNS, na educação, nas reformas, uma mudança para os jovens".
"O projeto do PSD e do CDS, e o projeto da direita - que, independentemente desta ou daquela discórdia, envolve o Chega - (...) é um projeto de aumento da exploração, de desmantelamento dos serviços públicos, um projeto que não responde a nenhuma dessa exigência de mudança que é necessária", frisou, salientando que não tem "nenhuma `fezada` neste Governo".
Questionado se o elenco governativo apresentado na semana passada não o fez mudar de opinião, Paulo Raimundo respondeu que o seu partido não avalia "a pessoa A, B ou C", mas antes as "opções políticas", que considerou erradas.
Interrogado sobre a nova orgânica do Governo, e em particular sobre o facto de se ter juntado o ministério da Educação e o do Ensino Superior, Raimundo sublinhou que o importante são "as questões políticas", apesar de reconhecer que a orgânica "dá sinais" e que a fusão desses ministérios no passado não foi "necessariamente positiva".
"Agora, se me dissesse assim, esta nova orgânica no ministério da Educação, por exemplo, responde a um maior investimento nas escolas, na educação, na formação dos professores, na redução dos alunos por turma, na melhoria das condições das escolas... Se correspondesse a isso, não era um problema de orgânica, só que não vai corresponder a isso, infelizmente", disse.
Questionado se não há qualquer possibilidade de entendimentos com este Governo em questões como o aumento dos salários ou a recuperação do tempo de serviço dos professores, o líder do PCP disse ter a certeza que o executivo "vai entrar com pezinhos de lã, com esta ou aquela medida pontual para dar aquele sinal".
No entanto, Paulo Raimundo reforçou que, nas opções de fundo, o Governo não vai dar combate à "brutal desigualdade em que se vive", nem vai "enfrentar a banca" ou a "precariedade do trabalho e as condições dos baixos salários".
"Vai fazer esta ou aquela medida pontual, é claro, medidas pontuais positivas, com as quais toda a gente está a favor. Não há nenhuma dúvida sobre isso", frisou.
Sobre se espera algum apoio de outros partidos quanto à moção de rejeição ao programa de Governo que o PCP vai apresentar, Raimundo reiterou que o intuito dessa iniciativa é "dar um grande sinal política" da forma de estar no partido nesta legislatura, que vai ser de "combate político e ideológico" ao executivo.
"É claro que cada um terá de tomar a sua atitude e, perante a nossa moção de rejeição, os partidos vão ter de votar: ou se abstêm, ou votam a favor, ou votam contra. Não têm outra alternativa e cada forma de expressar o voto também é uma opção que fazem", frisou.
Depois de ter visitado a exposição "Factum", tendo como guia o próprio Eduardo Gageiro - que disse ter "muita admiração" pelo PCP, que "deu a cara e sofreu" durante o Estado Novo -, Paulo Raimundo disse que as fotografias em exposição mostram "um país atrasado, da emigração forçada, do fascismo, da pobreza, da miséria".
"Mas também a força das pessoas, da determinação, a força que construiu e levou por diante a Revolução do 25 de Abril, com tudo o que isso implicou de energia nova, de direitos, liberdades e garantias, de um mundo e de um país melhor", frisou, assinalando que a sua visita à exposição também pretende marcar o dia em que assinalam 48 anos desde a aprovação da Constituição.