PCP acusa líder parlamentar do Chega de "ultrapassar todos os limites". PS e PSD pedem "sentido de responsabilidade" aos agentes políticos

por João Alexandre

Fotografias: Gonçalo Costa Martins - Antena1

Ouvido no programa Entre Políticos, da Antena 1, António Filipe, deputado do PCP, lamentou as declarações de Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, que, na noite de quarta-feira, na RTP 3, afirmou que, "se calhar, se (os polícias) disparassem mais a matar, o país estava na ordem".

"Ouvimos coisas absolutamente inqualificáveis da parte de responsáveis políticos, a culminar com o líder parlamentar do partido Chega", disse António Filipe sobre as declarações que também motivaram muitas reações nas redes sociais. "Acho que isto ultrapassa todos os limites. Falamos de linhas vermelhas. Isto ultrapassa todas as linhas possíveis e imaginárias", insistiu o deputado comunista, que considera necessário repensar a relação que existe entre a polícia e as populações de alguns bairros da Área Metropolitana de Lisboa.

António Filipe salienta ainda as declarações de André Ventura sobre o mesmo caso: "O líder desse partido [Chega] ter dito que o polícia que cometeu o homicídio merecia uma medalha, uma homenagem ou uma condecoração. É absolutamente inqualificável. Configura, inclusive, um ilícito criminal de incitamento à violência", acrescentou.

PS lamenta "discurso populista" de Montenegro sobre criminalidade

Na Antena 1, a socialista Cláudia Santos disse não compreender o discurso que Luís Montenegro tem tido sobre a segurança no país.
"Suscita-me duvidas que o primeiro-ministro de um dos países mais seguros do mundo eleja como prioridade no seu discurso a mão pesada sobre a criminalidade ou a tolerância zero", afirmou.

A deputada do PS faz ainda uma ligação entre as palavras escolhidas pelo chefe do Governo e alguns dos discursos ouvidos por parte de governos estrangeiros. "Esse discurso - com esse tom - foi adotado, noutros contextos, nos EUA a partir dos anos 80, no Brasil de [Jair] Bolsonaro e na Itália de [Giorgia] Meloni. Admito que não tenha sido essa a intenção do primeiro-ministro, mas há um discurso populista em matéria de combate à criminalidade", resumiu.

No entender de Cláudia Santos, que pede "sentido de responsabilidade" a todos os agentes políticos, o discurso por parte do líder do Governo é "destituído de sentido em Portugal", mas "cria inimigos e "faz com que certas pessoas se sintam excluídas da atenção do Estado e sejam vistas como inimigos".

PSD pede "responsabilidade" e "menos emoção" para evitar "contágio da violência"

António Rodrigues, deputado e vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, defendeu, no programa Entre Políticos, maior contenção por parte de quem tem debatido o tema dos desacatos que surgiram na sequência da morte de Odair Moniz, de 43 anos, após ter sido baleado por um agente da PSP.

"Neste momento, o papel é apelar à responsabilidade, retirar a emoção e evitar a violência. Principalmente o contágio que esta violência pode provocar no espaço da Área Metropolitana de Lisboa, mas também, e sobretudo, apelar à responsabilidade das associações que intervêm nessas áreas", disse.
O deputado social-democrata sublinha a importância destas organizações, salientando que "conhecem melhor" quem vive em muitos dos bairros da periferia da capital.

"Estamos mais atentos, mas este é um debate recorrente do ponto de vista autárquico", sublinha ainda António Rodrigues, que acrescenta: "Quem provocou algum tipo de incidentes sente-se psicologicamente legitimado pela morte de alguém que fazia parte dos seus".
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