Paulo Raimundo frisa "enorme responsabilidade" do PCP no primeiro discurso como líder comunista
Depois de ter reunido a unanimidade do Comité Central no sábado, Paulo Raimundo discursou pela primeira vez como secretário-geral do Partido Comunista Português. O novo líder comunista afirmou, este domingo, que o partido tem "uma enorme responsabilidade" e a conferência dos últimos dois dias demonstrou que está "à altura". O sucessor de Jerónimo de Sousa agradeceu ao líder cessante o "empenho e contributo" e dirigiu-lhe um "até já", alertando os militantes que "há quem salive e desespere pelo fim do PCP".
“Com esta grandeza, com esta força, com esta determinação é muito fácil levar por diante as tarefas – sejam elas quais forem – que o partido nos dá”, acrescentou.
Ao encerrar os trabalhos da Conferência Nacional, Paulo Raimundo disse que o partido reafirmou a “identidade comunista e natureza de classe, objetivos e princípios”.
“Envolvemos o partido, aprofundamos a reflexão, construímos soluções ao mesmo tempo que incentivamos e mobilizamos para a luta – uma luta que passou também aqui pela nossa conferência e que daqui saudamos”.
Com a aprovação da resolução, anunciou o novo líder comunista, o PCP vai continuar o “trabalho sobre cada uma das linhas de intervenção agora decididas, tomar a iniciativa, responder às novas exigências e reforçar o partido que queremos ainda mais ligado à vida e aí ir buscar mais força”.
As decisões que o PCP está a tomar, frisou, “são uma necessidade para o partido mas são, acima de tudo, uma necessidade dos trabalhadores, das populações, da juventude, dos democratas e dos patriotas”. Porque “um partido mais forte e com maior influência é o garante dos direitos e dos anseios dos trabalhadores e do povo”.
“Temos uma enorme responsabilidade, mas tal e qual a conferência demonstrou, estamos à altura dessa responsabilidade”.
“Aqui tomamos iniciativa pelo trabalho, pela dignidade de que trabalha, dos que produzem a riqueza e garantem o funcionamento da sociedade e que, por isso, no mínimo merecem respeito, direitos e uma vida digna”, afirmou, frisando a urgência no aumento dos salários, do fim da precariedade, da regulação dos horários de trabalho e a revogação das normas gravosas da legislação laboral.
Na conferência comunista, continuou, “não houve nem há manobras para cortar reformas e pensões”, porque o PCP toma a “iniciativa por quem trabalha e trabalhou uma vida inteira, pelo seu direito a uma reforma digna e a envelhecer com qualidade de vida”.
Em tom de critica ao Governo, Paulo Raimundo sustentou que o PCP propõe medidas para salvar o Serviço Nacional de Saúde, garantir Educação de qualidade, defender serviços públicos e valorizar os seus profissionais.
E, referindo-se ao conflito na Ucrânia, Paulo Raimundo garantiu que o PCP não discute “como apoiar ou aceitar os caminhos da guerra, do reforço armamentista, das sanções, da destruição e da morte”.
“Não instigamos uma escalada de resultados imprevisíveis”.
E deixou um alerta: "Fogo não se apaga com gasolina, tomamos a iniciativa pela paz".
Ainda no seu primeiro discurso como secretário-gera do partido, Paulo Raimundo agradeceu a Jerónimo de Sousa o seu “empenho e contributo” e dirigindo-lhe um “até já".
“Porque não esquecemos o papel de cada um no coletivo partidário, em nome do Comité Central, em nome da Conferência Nacional e certamente que em nome de todo o Partido, gostaria de dirigir uma palavra ao camarada Jerónimo de Sousa”, afirmou.
“A alteração das tuas responsabilidades não significa um adeus, é um até já camarada”, disse, num momento em que os delegados e militantes presentes se levantaram para aplaudir Jerónimo de Sousa e entoar “Assim se vê a força do pêcê”. Jerónimo de Sousa, recorde-se, deixa o cargo de líder mas vai permanecer no partido como membro do Comité Central.
Falando para os presentes, Paulo Raimundo avisou ainda que “há quem salive e desespere pelo fim do PCP”.
“Pois daqui fica o conselho, esperem sentados, porque um partido ligado aos trabalhadores, às populações, aos seus problemas e anseios, determinado em lhes dar esperança, um partido assim e como aqui se reafirmou na Conferência, a única coisa a que está condenado é a crescer e a alargar a sua influência”, defendeu.
Em todas as frentes de luta e intervenção, continuou, "aqui fica o apelo, que todos e cada um dê mais um pouco, faça mais um esforço, ganhe mais confiança nesta luta que travamos pelos trabalhadores, o povo e o País, por uma sociedade e um mundo mais justos”. Mas o apelo foi estendido “a toda a sociedade”, para que não se perca “a esperança” nem se “baixem os braços”.
De acordo com Raimundo, o PCP não se conforma nem resigna com o capitalismo que “apenas tem para oferecer a guerra, a miséria, a corrupção e a degradação ambiental, tem de facto muita força” mas que “não tem força bastante para travar o mais belo projeto que a humanidade conhece e que colocará a igualdade, a justiça e a paz no centro dos objetivos da atividade humana, o socialismo e o comunismo, a sociedade nova, a que o futuro pertence”.
Vincando que “o PCP conta, e conta muito”, o novo líder comunista assinalou que para atingir estes objetivos conta também com “os dois mil novos militantes que aderiram ao partido desde o início do ano passado e com os milhares que serão membros do partido nos próximos anos”.
“[O PCP] Conta na vida de todos os dias, conta na luta de todos os dias, conta, e cada vez é mais necessário, aos trabalhadores, ao povo e ao país”, rematou.