O secretário-geral do PCP considera uma distração discutir as reuniões entre Luís Montenegro e André Ventura. Paulo Raimundo diz preferir analisar o Orçamento já entregue pelo Governo.
Em declarações aos jornalistas à margem de uma manifestação em Lisboa para exigir a paz no Médio Oriente e uma Palestina independente, Paulo Raimundo foi questionado sobre as trocas de acusações mútuas entre o primeiro-ministro, Luís Montenegro, e o presidente do Chega, André Ventura, quanto a alegadas reuniões secretas e propostas de acordo nas negociações do Orçamento do Estado.
Na resposta, Paulo Raimundo disse que "há demasiada gente responsável" pelo conteúdo do Orçamento do Estado que, agora que a proposta foi entregue, "quer falar de tudo, menos do seu conteúdo".
"Connosco, não. Não contam connosco para empurrar a barriga para a frente, para alimentar manobras de diversão. Connosco é para falar sobre os conteúdos concretos, da vida das pessoas, da política que faz falta e dos conteúdos a que este orçamento não dá resposta", disse.
O secretário-geral do PCP disse que "há um punhado de gente satisfeita com este Orçamento do Estado", referindo-se aos grupos económicos, e, depois, "há aqueles que estão sob a alçada dos grupos económicos que querem que se fale de tudo, menos do conteúdo".
"Enquanto se trocam acusações e se fala em, supostamente, reuniões secretas, não se fala nos 1.800 milhões de euros em benefícios fiscais, dos 1.500 milhões de euros nas parcerias público-privadas, dos oito mil milhões que saem do Serviço Nacional da Saúde para entregar aos grupos privados que fazem da doença um negócio, não se fala da falta de respostas à habitação, não se fala do problema, na prática, de conter os salários", criticou, salientando que o seu partido não vai alimentar a polémica sobre as "reuniões mais secretas ou menos secretas".
Paulo Raimundo disse ainda ser surpreendente que, até 09 de outubro, véspera da entrega da proposta orçamental no parlamento, se falou sobre "um orçamento que não havia" e, agora que a proposta foi entregue, opta-se por falar de outra coisa.
"Até dia 9, não havia Orçamento e falava-se do IRC, do IRS Jovem. Era a conversa do Orçamento. A partir de dia 10, há orçamento e o que é extraordinário é que se continuar a falar de tudo, menos do conteúdo do Orçamento", disse, defendendo que a proposta orçamental que foi apresentada pelo Governo não é a de que o país precisa.
"Nós precisamos de mais salários, mais pensões, mais profissionais no SNS, mais respostas para as crianças nas creches e no pré-escolar, precisamos de resposta ao problema da habitação. Nada disto este Orçamento dá resposta, e é por isso que se está a falar de tudo, menos do Orçamento", disse.
Questionado sobre o discurso feito hoje pelo novo procurador-Geral da República, durante a sua cerimónia de tomada de posse, Paulo Raimundo disse que o PCP acompanha "alguns dos alertas e necessidades" que Amadeu Guerra avançou.
O secretário-geral do PCP disse designadamente esperar que seja possível dar "mais meios, mais condições, mais funcionários" ao Ministério Público, tal como foi reivindicado por Amadeu Guerra, mas acrescentou que, também nesse ponto, a proposta de Orçamento do Estado não dá qualquer resposta.
Paulo Raimundo aproveitou ainda para falar da temática da corrupção - um dos temas que também foi abordado por Amadeu Guerra no discurso que fez hoje -, para salientar que a proposta de Orçamento do Estado "prevê mais privatizações, nomeadamente a da TAP".
"Ora, se há coisa que nós conhecemos, por A mais B, é que as privatizações - a TAP, em 2015, a ANA, mas também as mais recentes que conhecemos - todas elas são, em si mesmas, focos de alta corrupção, de alta negociação. Investigue-se isto até ao fim", disse.
c/ Lusa