Passos Coelho vira as costas ao almoço de Marcelo

por RTP com Lusa
Rafael Marchante, Reuters

O líder do PSD assistiu à tomada de posse do novo presidente, mas declinou o convite para almoçar e voou para Londres, a participar na conferência de uma obscura confraria de debates.

O vaticínio de uma presidência difícil, que Passos Coelho deixou a Marcelo, não era exactamente uma profecia da desgraça, e não faltaram a temperá-lo as habituais promessas de cooperação institucional por parte do PSD.
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Mas o discurso de Marcelo, com uma "mensagem de unidade dos portugueses, de diálogo, de fraternidade, de aproximação, de superação daquilo que os divide", não encaixava, obviamente, na estratégia polarizadora do principal partido da oposição, nem seria um discurso que Passos pudesse aplaudir ao almoço e à digestão.

Do mesmo modo, a reclamação de "ir mais longe na qualidade da educação, saúde, justiça e do próprio sistema político", tal como a formulou o novo presidente, não se harmonizava com a insistência do PSD em voltar aos rigores austeritários mais extremos. Igualmente, casaria mal com a aguerrida disposição do PSD calar e consentir em discursos como o do presidente do parlamento, Ferro Rodrigues, apelando a uma independência do novo chefe do Estado - em relação aos partidos e, supõe-se, à sua própria matriz partidária.
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Passos Coelho esteve portanto ausente no almoço com o presidente de Portugal, com o rei de Espanha e com o presidente da Comissão Europeia. Para justificar a ausência invocou o debate que organizava a "Oxford Union", sociedade privada que tem acolhido como palestrantes David Cameron e o Dalai Lama.

O líder do PSD não quis desvalorizar a conferência em que participava como mero encontro de "jotas", antes a descrevendo como uma confabulação dos "jovens políticos de amanhã".

E, aos "jovens políticos", manifestou o seu cepticismo sobre a bondade das medidas que o Governo possa acordar com a sua maioria parlamentar como "Plano B", dando por suposto, desde logo, que seriam inevitáveis essas medidas adicionais.

No discurso, citado pela agência Lusa, Passos Coelho perguntou-se qual seria a natureza do programa consensualizado entre o governo e a sua maioria e onde ele nos pode conduzir no futuro próximo".

Ao Governo e especialmente aos seus apoiantes comunistas e bloquistas falta, segundo Passos Coelho, a compreensão de que a austeridade "não é de direita nem de esquerda, não é conservadora nem liberal, é apenas o que resta quando não há acesso a financiamento".

Esta compreensão seria, ainda segundo o ex-primeiro ministro, tanto mais incontornável quanto "estamos numa área monetária comum, onde não podemos desvalorizar unilateralmente a moeda".

Passos Coelho reafirmou, portanto, os "resultados positivos" da política levada a cabo pelo seu Governo, que considera ter atraído "muitos investidores estrangeiros que contribuíram para criar riqueza e emprego".

Por isso, e ao contrário do caminho que atribui ao Governo de António Costa, considera que seria necessário "prosseguir nos próximos anos as políticas de mudança estrutural que melhorem a produtividade". E reforça: "Esta deveria ser a ação política, económica e social em que Portugal deveria estar empenhado neste momento".
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