PAN em Belém. Inês Sousa Real lembra valores "irrenunciáveis" e promete fazer oposição
A porta-voz do PAN foi recebida esta terça-feira no Palácio de Belém na primeira audição dos vários partidos com assento parlamentar. Após o encontro com o presidente da República, Inês Sousa Real assume as "divergências ideológicas" entre o PAN e a AD e deixou críticas ao chefe de Estado.
A líder do PAN foi a primeira a ser ouvida, numa altura em que ainda falta atribuir os quatro deputados eleitos pelos círculos da emigração.
"Lamentamos que estas reuniões estejam a decorrer sem que esses resultados sejam conhecidos, tendo em conta um potencial empate técnico entre PS e PSD", lamentou Inês Sousa Real.
"Para o PAN, estar a vir a uma reunião sem saber a atribuição de todos os mandatos, sem saber também qual a solução governativa que Luís Montenegro quer trazer para cima da mesa, caso esteja em condições de formar um governo - repito, caso esteja em condições de formar governo - para nós é um pouco estranho, mas, como é evidente, fomos convocados para esta reunião, aqui estamos", acrescentou ainda.
Inês Sousa Real considerou que será "muito dificil" que a Aliança Democrática se aproxime dos valores do PAN. Admitiu que, tendo garantido apenas uma deputada única, o PAN se deverá colocar como partido de oposição. Afirmou. no entanto, que o partido está preparado para tudo o que possa acontecer.
"Seja qual for o cenário que possa sair destas reuniões, seja para de facto assumirmos o nosso papel enquanto partido de oposição na Assembleia da República, seja para termos de ir novamente para eleições, o PAN estará preparado para qualquer um desses cenários", referiu.
"Não temos grupo parlamentar, não temos expressão matemática para viabilizar o governo, essa responsabilidade caberá aos partidos que têm neste momento essa expressão", vincou.
A líder do PAN admite preocupação com as ideias de partidos como a Aliança Democrática e o Chega. "Foi assinalado que há matérias em que querem retroceder e ir contra o progresso civilizacional e o trabalho que foi feito pelo PAN nas últimas legislaturas. E aqui eu não falo apenas das touradas, do IVA das touradas, falo também de matérias como a transferência de competências ao nível da proteção animal, igualdade de género e a tentação de eliminar a proteção dos direitos das mulheres do Orçamento do Estado".
Referindo-se a "valores irrenunciáveis", a porta-voz do PAN relembrou as "conquistas sociais, humanitárias, de progresso relativamente à proteção animal, luta contra a crise climática que neste momento estão postas em causa com esta potencial composição da Assembleia da República".
"Tendo em conta o risco iminente que o país corre, esta solução que saiu das urnas é uma solução que não acompanha os valores que o PAN defende", defendeu.
Assinalando ainda que o PAN "é um partido feminista" e que "mais de 75% do eleitorado do PAN são mulheres", Inês Sousa Real vincou que não pode aprovar um programa de governo que coloque em causa os direitos das mulheres.
Nesse ponto, sublinhou que a nova Assembleia da República vai ter "muito menos mulheres", um "retrocesso" em relação às duas últimas legislaturas.
"Este voto de protesto que as pessoas deram ao Chega e AD foi um voto que não se traduziu apenas em tentar de alguma forma mostrar insatisfação. É um voto que deu mais dinheiro a estas forças políticas, é um voto contra os direitos das mulheres, é um voto contra a proteção animal e ambiental. Não podemos estar alinhados com valores que são contrários aquilo que representamos", resumiui Inês Sousa Real.
"Ainda que tenhamos apenas uma deputada, seremos sempre uma voz ativa na defesa destes valores aos quais não renunciamos", garantiu ainda a porta-voz do PAN.
O PAN foi o primeiro partido a ser recebido pelo presidente da República em Belém. Seguem-se o Livre, já esta quarta-feira, a CDU, na quinta-feira, o Bloco de Esquerda, no dia 15 de março, e a Iniciativa Liberal, a 16 de março, no sábado. Chega, PS e Aliança Democrática serão ouvidos na próxima semana, entre os dias 18 e 20 de março.