A Ordem dos Médicos reconhece que existe forte evidência da eficácia da canábis para alguns usos terapêuticos, mas avisa que a prescrição deve ser exclusivamente médica, enquanto medicamento, e não na forma fumada.
Num parecer do Conselho Nacional da Política do Medicamento da Ordem dos Médicos, elaborado a pedido do bastonário, é dito que a evidência atual "permite considerar a potencial utilização [da canábis]" para alguns casos, como no alívio da dor crónica em adultos, como anti-vómito no tratamento do cancro, na esclerose múltipla ou no controlo da ansiedade.
Contudo, o parecer indica que o uso de canábis ou canabinoides como medicamento de uso humano deve ser sujeito "a aprovação pelas entidades regulamentares em saúde", como a Autoridade Nacional ou Europeia do Medicamento.
Além disso, a Ordem dos Médicos avisa que, pela sua potencial toxicidade, a prescrição da canábis deve ser exclusivamente médica e com regulamentação específica, como é feito com os derivados de morfina, por exemplo.Reservas na utilização
"O uso direto da planta de canábis ou seus derivados com fins medicinais envolve desafios particulares. A sua eventual permissão deve ser alvo de reflexão ponderada e multidisciplinar, integrando as questões legais da sua produção, comercialização, controlo de qualidade, do benefício/risco terapêutico em cada condição clínica", lê-se nas recomendações do parecer, que foi homologado pela maioria dos membros do Conselho Nacional Executivo da Ordem, segundo disse o bastonário, Miguel Guimarães, citado pela agência Lusa.
O parecer aponta desafios concretos no uso de canábis para fins terapêuticos, sobretudo em relação ao consumo direto da planta, lembrando que "nenhum país europeu autoriza atualmente a canábis fumada para fins médicos".
Para o bastonário da Ordem dos Médicos, este parecer mostra que a instituição está disponível para que a canábis seja usada "como medicamento" nas situações em que há evidência científica.
"Considera-se que neste momento, a avançar, será como medicamento e não como erva para ser fumada", afirmou Miguel Guimarães entendendo que a canábis fumada devia ficar para já de fora de uma aprovação parlamentar, tendo em conta que esta quinta-feira são votados projetos de lei do Bloco de Esquerda e do PAN sobre uso de canábis para efeitos terapêuticos.
O bastonário afirma mesmo que "seria um risco" avançar para a aprovação da canábis fumada "porque não está suficientemente estudada em termos científicos".
Aliás, o responsável entende que se trata de uma oportunidade para se promover a investigação científica nesta área.Cuidados a ter
Segundo o parecer homologado pela Ordem, as eventuais alterações legais que possam facilitar o uso direto de canábis para fins medicinais não devem negligenciar os potenciais riscos de saúde publica, incluindo o abuso na sua utilização como droga recreativa".
Sobre a segurança do uso da canábis, o parecer aponta para uma associação entre o seu consumo e o desenvolvimento de dependência, esquizofrenia e outras psicoses, bem como agravamento de dificuldade respiratória.
Quanto à eficácia da canábis no uso clínico, a Ordem considera também que existe moderada evidência sobre a melhoria do sono em pessoas com apneia obstrutiva, fibromialgia, anorexia por cancro e stress pós-traumático.
O parecer recorda que não existe contudo ainda qualquer evidência que permita verificar eficácia da canábis no tratamento do cancro, sintomas de intestino irritável, epilepsia, esclerose lateral amiotrófica, doença de Parkinson ou esquizofrenia, apesar dos estudos desenvolvidos nestas áreas.Parlamento debate legalização
O parlamento debate esta quinta-feira a legalização da canábis em contexto medicinal, com o BE e o PAN a defenderem a medida, o PS a dar liberdade de voto aos deputados e o PSD e CDS a votarem contra.
O PCP pede que se estude a questão, num projeto de resolução, e o seu sentido de voto pode ser decisivo para aprovar a medida.
c/ Lusa