Carimbado o nome do cabeça de lista do PS para as eleições europeias e tombado o pano sobre a primeira Convenção do Conselho Estratégico Nacional do PSD, está aberta a guerra de palavras que irá em crescendo até à campanha de maio. Pelos socialistas, Pedro Marques lançou-se na última noite contra as “cassandras da direita” que, no início da governação apoiada à esquerda, prognosticavam “o diabo”. Pelos social-democratas, Paulo Rangel estimou que um “mau ministro” não pode resultar num bom eurodeputado.
Em Santa Maria da Feira, o líder do PSD, Rui Rio,
acusou o Governo de “distribuir até ao osso” o que tinha à disposição
nos orçamentos e de não ter uma “estratégia de crescimento sustentado”.
“Eu dou só um exemplo, que é a ferrovia. Nós podemos dizer que hoje vivemos num país dos comboios fantasmas porque não há comboios e os que há perdem os motores. Ora uma pessoa que é responsável por esta gestão durante três anos e que foi, claramente, um mau ministro como é que pode ser um bom deputado europeu”, disparou Paulo Rangel e Santa Maria da Feira, onde se realizou também no sábado a Convenção do Conselho Estratégico Nacional do PSD.
O eurodeputado do PSD martelou a ideia de que os últimos meses constituíram, no seio do PS, uma “dissimulação” destinada a promover “um ministro” sem visibilidade “para depois fazer dele candidato”.
Isto já depois de ter acusado o PS, durante a tarde, de “usurpação de funções” governativas.
“Não há uma relação com a Europa, nem se conhece nenhum pensamento europeu do ministro”, afirmou Rangel, contrariando assim o teor da intervenção de António Costa na Convenção Europeia dos socialistas. Para acrescentar que, até no plano da gestão de fundos europeus, fica patente “uma má relação”.
Acusado por Pedro Marques de querer ocultar anteriores tomadas de posição a prever um segundo programa de resgate financeiro, Paulo Rangel disse não querer entrar em “pingue-pongue”.
“Eu vou discutir ideias quando elas existirem e discuto factos. E os factos são: Pedro Marques falhou como ministro e, portanto, nós não temos nenhuma expectativa de que ele possa alguma vez ser bem-sucedido”, insistiu.
“Não são discursos catastrofistas, são discursos realistas. É o próprio Governo que está sempre a dizer que temos que ter prudência”.
“Na onda de Passos, lá vinha Rangel”
No momento de subir ao púlpito da Convenção socialista em Gaia, Pedro Marques foi igualmente duro para com o adversário do PSD, situando-o entre “as cassandras da direita” que “dificultaram a tarefa” nos primeiros instantes da governação do PS e da maioria parlamentar à esquerda.
Em Vila Nova de Gaia, o secretário-geral do PS,
António Costa, descreveu o país como “um bom exemplo”. E
Pedro Marques como “alguém com conhecimento profundo das instituições
europeias”.No momento de subir ao púlpito da Convenção socialista em Gaia, Pedro Marques foi igualmente duro para com o adversário do PSD, situando-o entre “as cassandras da direita” que “dificultaram a tarefa” nos primeiros instantes da governação do PS e da maioria parlamentar à esquerda.
“Na onda de Passos Coelho, lá vinha Paulo Rangel, na Universidade de verão de 2016 do PSD, dizer que o futuro de Portugal é uma parede e que, inevitavelmente, seria conduzido a um novo resgate”, recordou o candidato socialista.
“Três anos passados, ontem mesmo, Manfred Weber esteve a passear, ali, do outro lado do rio, no Porto, com Paulo Rangel, a pedir o voto dos portugueses”, apontou, referindo-se ao candidato alemão do PPE à presidência da Comissão Europeia.
Marques lembraria ainda que, “há três anos”, PSD e a respetiva família europeia, o Partido Popular Europeu, “pediam sanções e punham em causa os esforços de Portugal para sair do procedimento por défices excessivos”.
“Agora vêm aqui pedir o voto dos portugueses. Eles não têm memória, não se querem lembrar do mal que fizeram. Mas nós lembramo-nos bem e os portugueses não se esquecerão”, rematou.
Pedro Marques pautou o discurso que culminou a Convenção Europeia pela ideia-chave do “exemplo” da atual governação em matérias europeias.
“Quando nem a Europa acreditava que conseguíamos, nós demonstrámos que este novo contrato social era possível. Foi possível em Portugal, tem de ser possível na Europa”, afirmou.
Decisões à esquerda
No campo político-partidário, à esquerda, o dia de sábado foi, de resto, dedicado às eleições europeias não apenas por PS e PSD. Partido Ecologista “Os Verdes” e Bloco de Esquerda definiram listas e o PCP a agenda eleitoral. Pelo meio, fecharam-se portas à moção de censura ao Governo apresentada na sexta-feira pelo CDS-PP.
Reunido em Lisboa, o Conselho Nacional do PEV anunciou Mariana Silva, uma professora de Guimarães, como o primeiro nome do partido a integrar a lista da CDU para as eleições europeias.
Em simultâneo, anunciou o voto contra a moção do partido de Assunção Cristas, considerando que a iniciativa “vem totalmente ao arrepio dos valores e dos objetivos que Os Verdes defendem para o país, como é exemplo a área da saúde, onde fica clara a apologia e a defesa do setor privado, e a fragilização do Serviço Nacional de Saúde”. E condenando “uma forte componente eleitoralista”.António Costa desvalorizou a moção de censura do CDS-PP, dizendo mesmo que “foi um nado morto”.
Por sua vez, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, encerrou a IX Assembleia da Organização Regional de Lisboa a apontar “perigos mas também potencialidades para a CDU” no calendário eleitoral de 2019. Sem poupar nas farpas ao PS, que, argumentou, teve de ser obrigado a olhar à esquerda.
“Sabemos o muito que fizemos na recuperação e conquista de direitos, para manter um nível elevado de intervenção nas empresas e o contributo dado para o alargamento da luta das populações, mas também sabemos das nossas insuficiências, que precisamos de debelar”, reconheceu.
“Demos já o primeiro passo para as eleições europeias com a apresentação pública do primeiro candidato da lista da CDU - o camarada (e eurodeputado) João Ferreira, a primeira das três batalhas eleitorais a realizar neste ano de 2019”, reforçou o dirigente comunista.
Já o Bloco de Esquerda tratou de aprovar, na Mesa Nacional, o nome de José Gusmão, ex-deputado, como número dois da lista para as europeias, a seguir a Marisa Matias - Estado social, ambiente e trabalho serão temas prioritários no programa do partido.
A cabeça de lista diagnosticou à União Europeia uma crise “sem precedentes”: “Atualmente é impensável não verificar as novas dimensões que foram atingidas por essa crise”.
“E elas têm obviamente consequência e causa ao mesmo tempo em processos como a ascensão da extrema-direita, que infelizmente foi ganhando espaço dentro da própria política mesmo antes de as forças da extrema-direita terem chegado ao poder”, enfatizou.
Quanto à moção de censura apresentada pelos democratas-cristãos, a resposta coube à coordenadora do Bloco, Catarina Martins: “Não é para ser levada a sério”.
c/ Lusa
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