Eurico de Melo, figura tutelar na história do PSD com várias passagens por cargos governativos após a Revolução de 25 de Abril de 1974, morreu esta quarta-feira de madrugada no Porto. Tinha 86 anos. O Partido Social Democrata recorda-o como “uma das grandes referências políticas” do país. Assim como o antigo Chefe de Estado e fundador do PS Mário Soares, que lamentou o desaparecimento de “um democrata a sério”. Já para o Presidente da República, Cavaco Silva, Portugal “ficou mais pobre com a perda” de uma “voz de sensatez” e de “um modelo de dignidade”. Do gabinete do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, saiu uma nota a salientar “a memória e o legado de um homem de causas”.
“Democrata a sério”“É uma perda para nós muito grande”, afirmou à RTP Mário Soares, numa reação à notícia da morte de Eurico de Melo.
O antigo Presidente da República lamentou a “perda de uma figura grande da política portuguesa, um grande amigo de Sá Carneiro”.
“Um homem”, rematou o fundador do PS, que “era do Partido Social Democrata mas que era progressista e democrata a sério”.
Nascido a 28 de setembro de 1925 em Santo Tirso, Eurico Silva Teixeira de Melo é um nome incontornável na história da cúpula do PSD - ocupou por duas vezes a vice-presidência da Comissão Política Nacional do partido, foi presidente, em 1984, da Mesa do Congresso e liderou também o Conselho Nacional, entre 1990 e 1992.
Estreou-se em funções governativas com Francisco Sá Carneiro, em 1980. Até 81 foi ministro da Administração Interna, pasta que regressaria às suas mãos no primeiro executivo minoritário de Aníbal Cavaco Silva, em 1985, em acumulação com o cargo de ministro de Estado. No XI Governo Constitucional, já com maioria absoluta, seria vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa. Deixaria o elenco ministerial quando da remodelação de janeiro de 1990.
Eurico de Melo foi ainda governador civil de Braga de 1975 a 1976 e, entre 1994 e 1999, deputado ao Parlamento Europeu. Após o regresso de Bruxelas integrou a Assembleia Municipal de Santo Tirso, entre os anos de 2001 e 2003.
Condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo em 1990, passou também pela presidência do Conselho de Administração do Banco Santander.
“Uma voz de sensatez”
Numa mensagem de condolências à família de Eurico de Melo, entretanto publicada no portal da Presidência da República na Internet, Cavaco Silva elogia o percurso do político social-democrata “na vida pública portuguesa, como governante e como gestor empresarial”. Eurico de Melo, escreveu o Presidente, distinguiu-se “pela fidelidade aos princípios em que acreditava e pela firmeza das suas convicções”.
“Personalidade do Norte, permaneceu sempre ligado às raízes de onde provinha, mesmo quando a sua figura de homem público alcançou projeção nacional e suscitou a admiração e o respeito dos Portugueses, especialmente dos que tiveram o privilégio de o conhecer de perto. Nunca se deixou ofuscar pelo brilho da sua inteligência, pelas suas invulgares capacidades intelectuais e humanas e pelo seu extraordinário dinamismo”, assinala o Presidente da República.
Cavaco Silva acrescenta que, enquanto governante, Eurico de Melo “dignificou o Estado português no exercício dos mais altos cargos da nossa República democrática”.
“Foi um cidadão livre que amava o seu país. Portugal deve-lhe muito e ficou mais pobre com a perda da sua lucidez serena. Todos sentiremos falta da presença do Engenheiro Eurico de Melo, uma voz de sensatez e um modelo de dignidade”, estima o Presidente.
“Homenagem” a “figura marcante”
Numa nota difundida durante a tarde, o primeiro-ministro associou-se às manifestações de pesar pela morte de Eurico de Melo, prestando “homenagem” a uma “figura marcante da vida política portuguesa”.
“O primeiro-ministro manifestou já o seu mais sentido pesar à família do engenheiro Eurico de Melo, juntando-se a todos quantos, nesta hora de luto, prestam homenagem a esta figura marcante da vida política portuguesa e do Partido Social Democrata”, reagiu o gabinete de Pedro Passos Coelho.
Destacando “o especial significado de um longo percurso dedicado à causa pública, à consolidação das instituições democráticas e ao desenvolvimento económico e social de Portugal”, o chefe do Governo manifestou “profunda tristeza” pela notícia da morte de Eurico de Melo e colocou a ênfase no “legado de um homem de causas, que tanto fez pela sua região e pelo seu país”.
“O engenheiro Eurico de Melo notabilizou-se enquanto governante, tendo ocupado com empenho e total dedicação distintas pastas da maior responsabilidade, dirigente de referência do Partido Social Democrata e deputado ao Parlamento Europeu”, frisa a mensagem de Passos Coelho.
“Tristeza” na “família social-democrata”
Também o primeiro vice-presidente do PSD, Jorge Moreira da Silva, recordou Eurico de Melo como “uma das grandes referências políticas da democracia, com uma longa carreira política e de serviço público”.
“Quero, em primeiro lugar, em nome do PSD, apresentar as condolências à família do engenheiro Eurico de Melo e afirmar publicamente que este é um momento de profunda tristeza para a família social-democrata e julgo que para todos aqueles que valorizam as questões ligadas à construção da nossa democracia e ao progresso social e económico”, declarou Moreira da Silva, ouvido pela agência Lusa.
Em declarações à Antena 1, o ex-líder parlamentar do PSD Guilherme Silva quis sublinhar, por sua vez, que Eurico de Melo “deixou efetivamente um exemplo não apenas aos sociais-democratas, mas um exemplo de empenhamento cívico e de dedicação desinteressada ao país e à pátria que tanto amava e por que sempre se bateu”.
À RTP, a antecessora de Pedro Passos Coelho na liderança do PSD, Manuela Ferreira Leite, falou de Eurico de Melo enquanto amigo pessoal e político destacado: “O engenheiro Eurico de Melo, para além de uma pessoa que eu considerava minha amiga e de quem eu era também bastante amiga, nessa situação o recordarei sempre, foi uma figura pública de grande intervenção, não só pelas funções que desempenhou nos ministérios que defendeu como na sua vida empresarial privada”.
“Mas para além disso ele permanecerá sempre como uma referência do Partido Social Democrata. Ele foi um dos seus fundadores e uma referência ao longo da vida e é nessa circunstância que nunca deixarei de o recordar”, concluiu Ferreira Leite.