O primeiro-ministro afirmou que o Governo “não vai entrar em diálogo e em debate” com a procuradora-geral da República nem comentar a entrevista que deu à RTP. Da esquerda à direita, os vários partidos consideram que ficaram “pontas soltas” nesta entrevista e insistem, por isso, na ida de Lucília Gago ao Parlamento.
“Não vou fazer comentários sobre isso, os partidos políticos disseram o que entenderam. O Governo não vai entrar num diálogo e num debate com a senhora procuradora-geral da República, que está a exercer o seu mandato”, disse Montenegro. O mandato da procuradora-geral da República termina em outubro. Questionado sobre esta questão, o chefe de Governo adiantou que não está em conversações com o PS para a escolha do nome que vai suceder a Lucília Gago à frente da Procuradoria-Geral da República.Na entrevista à RTP na segunda-feira à noite, Lucília Gago disse que há uma “campanha orquestrada” contra o Ministério Público e confessou que ficou “incrédula e perplexa” quando ouviu a ministra da Justiça, Rita Júdice, a defender que o próximo PGR deveria "pôr ordem na casa".
Lucília Gago disse também que o inquérito no âmbito da "Operação Influencer" que visa o ex-primeiro-ministro "ainda decorre". Assumiu que o polémico parágrafo sobre o então primeiro-ministro no comunicado sobre a mesma operação é da sua inteira responsabilidade, mas recusou qualquer responsabilidade na demissão de António Costa.
A maioria dos partidos considera que ficaram “pontas soltas” e aspetos por esclarecer nesta entrevista e insistem na ida de Lucília Gago ao Parlamento. O CDS-PP quer saber que pessoas estão envolvidas na tal campanha orquestrada contra o Ministério Público. PCP e Livre querem explicações sobre a violação do segredo de justiça, escutas telefónicas e abuso da prisão preventiva.
Não houve reações do PSD. No entanto, Fernando Negrão, antigo ministro da Justiça do PSD e um dos signatários do Manifesto dos 50 que defende uma reforma da Justiça, considera que o polémico parágrafo foi “um excesso”. Fernando Negrão considera ainda que Lucília Gago acabou por não esclarecer os casos que têm afetado a imagem do Ministério Público e defende, por isso, que “mais valia não ter dado a entrevista”.
A procuradora aceitou ser ouvida no Parlamento, mas pediu que a audição apenas decorra depois de o relatório de atividades do Ministério Público estar concluído.